Meu pai era um bom ouvinte. E minha mãe uma boa falante. Acho que por isso eles combinavam. Ele estava sempre disposto a ouvir qualquer coisa que ela estivesse disposta a dizer.
Eu havia puxado um pouco dos dois. Eu era branca como minha mãe, mas tinha os olhos escuros do meu pai. Ah, o gosto musical era todo dele. Nós dois tínhamos afinidade com música, às vezes era nossa forma de conversar sem realmente dizer nada. Quando eu era pequena e ficava triste ou brava, lembro que ele sempre colocava alguma música para eu ouvir, e isso me acalmava.
Ele me deu o meu primeiro MP3, quando ainda era legal ter um MP3, e eu o tenho guardado até hoje, numa caixa que guardo no fundo do guarda-roupa. Meio idiota, eu sei.
Já da minha mãe, puxei o gosto pela natação. Ela costumava brincar dizendo que eu não engatinhava e sim nadava. Nadar pra mim sempre foi tão natural quando caminhar.
Também puxei os cabelos marrom-avermelhados dela. E a boca e o nariz e o formato do rosto e as sardas. Me olhar no espelho era como encarar a versão mais jovem da minha mãe.
E sim, isso dói.
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Depois Que Eu Te Conheci
RomanceJúlia Fernandes só quer saber de nadar e mais nada. Reservada, ela procura nunca se envolver demais com as pessoas, e essa personalidade apenas se solidificou depois que a mãe morreu em um acidente, o que dificultou a relação com o seu pai, que, ape...