Na véspera do início do ano letivo, decidi pedalar um pouco pela manhã, pra aproveitar o último dia de férias.
O tempo estava para chuva, mas não me importei, qualquer coisa eu buscaria abrigo em algum lugar.As ruas estavam pouco movimentadas. Numa cidade pequena não tem muito o que se fazer num domingo, a não ser ir ao único shopping daqui, mas ainda era sete da manhã, ele só abriria dali a três horas.
Aumentei o volume da música enquanto observava alguns poucos comércios começando abrir. Estava considerando parar para um café quando senti as primeiras gotas de chuva em meu ombro.
Em poucos segundos o céu desabou. Xinguei mentalmente enquanto acelerava as pedaladas em busca de algum lugar onde pudesse me abrigar. Imagina começar o primeiro dia de aula gripada. Seria um pesadelo.
Decidi parar em uma pequena galeria de lojas. Prendi a bicicleta no bicicletário e me alonguei. Estava tão escuro e frio, quase não parecia manhã. Um relâmpago cruzou o céu. Depois outro. E eu estremeci quando um trovão soou ao longe.
Sempre odiei trovões. Me dava muito medo.
Estava pensando que poderia ter ficado em casa ao invés de estar bem no meio de uma chuva quando ouvi uma voz atrás de mim.
- Você vai ficar gripada se continuar aí.
Olhei para trás, para o que parecia uma cafeteria, e lá estava uma garota me encarando. Ela usava um avental amarelo com o nome "Cafélix", os cabelos pretos amarrados no topo da cabeça. Continuei a encarando, até me dar conta de que ela esperava uma resposta.
- Eu... Bom dia - gaguejei. Ótimo. Agora pareço uma idiota. Me senti um garoto na puberdade.
Ela ergueu a sobrancelha direita, onde havia um piercing.
- Bom dia. Você vai ficar gripada se continuar aí - repetiu -, entra aqui enquanto chove.
- Não precisa. Daqui a pouco passa - soltei. Meu Deus, eu queria sair correndo. Por favor, pare de falar comigo.
Ela olhou para o céu escuro, a chuva parecia piorar cada vez mais, depois olhou para mim. E então, do nada, abriu um sorriso que só poderia ser descrito como irônico.
- Tá, você que sabe. - E entrou de volta na cafeteria.
Meu queixo caiu. Olhei para os lados, indignada, como se estivesse quebrando a quarta parede. Alguém mais viu isso? Ela me largou na chuva! Depois fiquei com raiva de mim mesma. Por que estava reclamando se eu que falei que não precisava?
Convenções. É isso. Existem convenções. Você recusa uma ajuda por educação e a pessoa insiste e aí você aceita. Ela faltou a essa aula. Todo mundo é assim.
Certo?
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Depois Que Eu Te Conheci
RomanceJúlia Fernandes só quer saber de nadar e mais nada. Reservada, ela procura nunca se envolver demais com as pessoas, e essa personalidade apenas se solidificou depois que a mãe morreu em um acidente, o que dificultou a relação com o seu pai, que, ape...