Um

10 1 0
                                    

Fecho o armário com o ombro e apoio o peso do corpo nele, o baque seco sobressaltando a nerd do meu lado. A propósito, ela se chama Helena.

- Adivinha quem vai se candidatar para ser a nova assistente do time de natação feminino da escola? - Vomitei as palavras todas de uma vez.

Ela ergueu a sobrancelha com o já familiar piercing. Estava usando um vestido cor de jade que combinava demais com seu tom de pele escuro. Os cabelos dessa vez amarrados em um rabo de cavalo.

Helena fingiu estar pensando, o queixo entre o dedo indicador e o polegar, enquanto a outra mão equilibrava uns vinte livros (só três).

- Hum... A tia da cantina?

Revirei os olhos.

- Claro que não, bocó. Você - falei, a seguindo e esbarrando nas pessoas no corredor. - Hoje. Depois da aula.

- E o que faz a senhorita pensar que eu tenho uma unidade de vontade de fazer parte da equipe?

- Porque você é a melhor pessoa que eu conheço, é claro - ela me olha, indignada. - O quê?

- E sou a única pessoa com quem você conversa, Júlia Fernandes!

- Por favoooooor, por favor, por favor, a gente precisa muito de uma nova assistente. O treinador não sai do nosso pé. Olha, olha meus dedos - fiquei na frente dela, forçando-a a parar -, tá vendo essas manchas, tá vendo? Eu não aguento mais fazer cartaz para convencer as pessoas a se inscreverem!

Ela me olhou com tédio.

- Em primeiro lugar, não é minha culpa se você não sabe usar canetinha. Em segundo, não foi você quem disse que ser assistente do time era ser explorada?

- Isso é... Eu não... - gaguejo - Eu não me lembro de ter dito isso!

- Claro que não se lembra - volta a caminhar. - O que eu ganharia com isso?

- Mais tempo comigo, é claro - sorrio. Ela dá um tapa no meu braço. A pele embaixo da camisa formigou.

- Tá bom, tá bom - ri. - O que você quer ganhar com isso?

- Quero que você leia Harry Potter.

- Vou ali fazer mais cartazes - dou as costas, me afastando. Ouvi sua risada atrás de mim.

- Tá, espera aí - me puxa pela manga. - Eu vou pensar em algo que eu queira. E talvez no fim da aula eu me candidate.

Abro um sorriso.

- Você é a melhor.

- Eu sei - dá de ombros, intocável.

- Você não tem humildade?

- O que eu posso fazer? - Diz, empurrando a porta da sala. - É a verdade.

Depois Que Eu Te ConheciOnde histórias criam vida. Descubra agora