Nove

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Acordei uma hora antes do horário que sairia para a aula. Fiquei alguns minutos sentada na cama, olhando para o nada enquanto a alma decidia se voltaria ou não para o corpo. Lá fora o céu desabava. Liguei o rádio.

E eu gostava tanto de você
Gostava tanto de você

Desliguei.

Estava tão frio, e meu cobertor tão quentinho, por que eu não podia simplesmente deitar de novo e voltar a...

- Você não vai faltar ao primeiro dia de aula.

Ah, é. Porque eu tenho pai. Que justo hoje decidiu que seria do tipo mandão. Soltei um gemido de frustração.

- Para uma atleta, você é bastante preguiçosa.

- Posso ser atleta, mas ainda sou adolescente. Adolescentes odeiam a escola por natureza.

- Não é verdade. Eu adorava ir à escola.

- Você só adorava por causa da minha mãe.

Meu pai soltou uma risada, seus olhos adquirindo um brilho nostálgico.

- É verdade. Fazia até questão de acordar mais cedo para poder encontrar com ela. Ela sempre estava na piscina. Sempre. Sua mãe nasceu pessoa por engano. No fundo, acho que ela era uma sereia.

Abri um sorriso sincero. Meu pai ainda era apaixonado pela minha mãe. Sempre seria. Quis segurar sua mão, mas não faço isso. Então apenas sorrio.

- Sorte a sua, então.

- É. Sorte a minha - riu. - Sabe o que isso significa? Você precisa se apaixonar por alguém pra se sentir motivada a ir pra escola.

- Até parece - revirei os olhos. - Esse alguém não existe.

- Nunca diga nunca - e beijou o topo da minha cabeça. - Estou indo. Não vá se atrasar. E cuidado com a chuva.

- Relaxa, pai. Não precisa se preocupar. Até onde sei, não sou feita de açúcar.

- Você pode não ser feita de açúcar, mas sou pai. Pais são preocupados por natureza.

Foi a minha vez de rir.

- A sua bênção.

- Deus te abençoe.

O lance da bênção é puro hábito. Coisa da minha mãe. Meu pai na verdade era ateu.

Já eu, não tenho certeza.
Não sei o que eu sou.

Depois Que Eu Te ConheciOnde histórias criam vida. Descubra agora