NINE

104 11 26
                                    

Dog and Cat


Meu corpo todo doí.

Minha cabeça não para de latejar e não quero abrir os olhos. Não quero abri-los, pois sei que assim que fizer isto, terei que responder várias perguntas. Perguntas que não tenho as respostas. E terei que olhar para ele, frente a frente, como naquela noite. Onde tudo começou a dar errado na minha vida.

Garfield provavelmente deve estar se corroendo de raiva por mim, não o culpo, também teria raiva de mim mesma se estivesse em seu lugar. Mas não quero ter que lidar com um adolescente mimado raivoso.

- Sei que não esta dormindo. - diz ele com um tom brincalhão, pelo visto, minhas habilidades em atuar não são muito boas.

Mesmo não querendo, abro meus olhos. Porém, logo me arrependo ao sentir a claridade. Faço uma careta e coloco minha mão direita sobre meus olhos, diminuindo um pouco a claridade.

- Onde estamos? - pergunto fingindo não ter escutado o que havia dito. Ele ri um pouco, e eu não gosto nem um pouco disso.

- Estamos na enfermaria, já que você deu um baita susto em todo mundo.

Reviro os olhos e tento me levantar de onde quer que eu esteja deitada. Mas meu corpo todo esta dolorido e quanto mais tento me levantar, mais ele me puxa para baixo. E quando finalmente consigo ao menos me sentar, Garfield se levanta e vem até mim sorrindo. Com o sorriso mais irritante que já vi.

O vendo tão de perto assim, nem parece ser tão bonito. Há muitas espinhas em sua testa.

- Na na ni na não, pode deitando de novo, mocinha. - diz ele colocando suas mãos em meus ombros e me empurrando para trás. Deu um tapa em cada uma de suas mãos, fazendo ele as tirarem de mim. Quem é esse garoto para falar assim comigo?!

Ah, já sei! Um meme da internet!

- Em primeiro lugar, não toque em mim. Segundo, eu decido se fico deitada ou sentada nessa merda de cama. E terceiro, o que você tá fazendo aqui?

- Tá legal, senhorita mandona. Caso não tenha percebido, fui seu príncipe encantado te salvando depois do seu desmaio. Então, no mínimo, eu mereço um "obrigado". - diz Garfield sorrindo, exibindo seu canino bem afiado. Ah mas nem ferrando eu vou dizer isso.

- Você sempre chama as pessoas por algum apelido idiota?

- E você sempre ignora o que não quer escutar?

- Olha aqui seu...

Antes que eu pudesse continuar, a enfermeira Lee entra na sala em que estamos, me interrompendo. Garfield se afasta de mim e se senta novamente na cadeira em que estava sentado antes de vir implicar comigo. A enfermeira sorri para mim.

- Pelo visto, nossa bela adormecida acordou. Se lembra de alguma coisa que pode ter causado seu desmaio? - pergunta ela docemente verificando minha pressão.

- Acabei esquecendo de comer algo no intervalo. - respondo sendo sincera, senhora Lee apenas concorda e pega seu estetoscópio, para escutar meu coração.

Assim que termina, ela olha para mim com um pequeno sorriso. E pelo canto do olho, vejo Garfield prestando atenção em cada movimento e palavra da enfermeira. Até parece que está preocupado comigo, deve estar pensando qual a melhor maneira de me matar e esconder o corpo.

Reviro os olhos.

- Bom, esta tudo bem com você, apenas seu nível de açúcar no sangue que está baixo. Por isso, recomendo que vá ao refeitório e coma alguma fruta.

A senhora Lee guarda seu estetoscópio e me ajudar a levantar. Quando se afasta de mim para pegar algo, Garfield se levanta e vem até mim, ficando muito próximo a mim. Não gostei disso.

Tento me afastar um pouco, mas quase caio para o lado, pois meu corpo ainda está fraco. Ele segura em meu braço para mim não cair. Fecho a cara no mesmo instante, e ele sorri.

- Relaxa, gatinha. Não vou te morder.

- Não me chame assim. - digo irritada, será que ele nunca vai parar com esses apelidos?! O mesmo sorri mais ainda.

- Assim como, gatinha?

Quando estou prestes a xinga-lo de nomes absurdos, a enfermeira volta para perto de nós e me entrega um papel.

- Mostre isso para o pessoal do refeitório e pegue quantas frutas quiser, e recomendo sempre trazer uma para comer no intervalo. Se sentir algum sintoma estranho, volte aqui. Estão liberados.

Agradeço a azar por esta tortura finalmente ter terminado e saio rapidamente da enfermaria indo direto para o refeitório. Mas quando olho para trás, ele ainda esta lá. Me seguindo, como um cachorro que segue sua dona. Se manda-lo latir, ele late?

Entro no refeitório e mostro o papel que a senhora Lee me deu. Olho para o relógio que há na parede central do lugar, duas e três. Falta pouco para as aulas de hoje acabarem e não terei que ver Garfield até o jantar. Mas com a ajuda de Kory, conseguirei me esconder dele. Pego uma maçã e me sento em uma das mesas, apenas enrolando para não ter que voltar para a sala de aula.

Vejo Garfield se sentar na minha frente e reviro os olhos.

- Você não cansa de me seguir não, cãozinho? - pergunto mordendo um pedaço da maçã, o mesmo ri.

- Cãozinho? Essa pra mim é nova. E respondendo a sua pergunta... - ele da uma pausa e pega a maçã das minhas mãos, dando uma grande mordida na mesma.

- Estou apenas cumprindo ordens. - diz Garfield enquanto mastiga, depois devolve minha fruta e sorri com os dentes sujos. Nojento.

- Ordens de quem? Da vozinha da sua cabeça?

- Não, espertinha. A senhora Lee me fez prometer que cuidaria de você, e querendo ou não, sou um homem de palavra.

- Bom senhor, "homem de palavra". Como pode ver, não estou desmaiada e muito bem alimentada. Então, acho que seus serviços acabam por aqui. - digo de braços cruzados, ele me encara por alguns segundos, colocando seu cérebro de noz para funcionar.

- Esta bem.

Ele se levanta e pega o resto da minha maçã. Por momento achei que fosse ser mais difícil faze-lo ir embora.

- Para sua sorte, gatinha. Tenho outras coisas para fazer, mas não pense que conseguirá escapar de mim amanhã.

Não respondo nada, apenas o observo atravessar as portas finalmente me deixando em paz. Solto um grande suspiro de alívio.

Para a minha surpresa, Garfield não mencionou nada daqueles vídeos e memes seus que estão correndo solto pela internet. E agradeço muito por isso, pois sei que ele nunca aceitará minha explicação para aquela noite. Sem contar, que não irei comprar outra blusa para ele. Ela não era tão bonita assim mesmo.

Mas sei, que um dia terei que enfrentar esse assunto. E tenho um grande sentimento, de que esse cãozinho acabou de marcar seu território em mim.

BROKEN HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora