NightMares
"Odeio me esconder.
Odeio me esconder, porque sei que se ele me achar, tudo vai se repetir. Como acontece todos os dias. Odeio me esconder, porque sempre fico na esperança de que meu esconderijo novo é incrível, mas nunca é. Ele sempre me encontra, não importa o que eu faça.
Desta vez, estou no quarto de Peter. Ele nunca vai pensar em me procurar no quarto que pertencia aos funcionários. Do jeito como ele é fresco, deve ter nojo só de pensar neste local. Já se passaram duas horas desde que estou aqui, encolhida debaixo da cama, com os braços e pernas doloridas. Ele havia chegado aqui a uma hora, já deve estar me procurando.
Mais algumas horas e ele desistirá de me procurar para assistir seu jogo de futebol na televisão. Então, poderei encontrar um esconderijo mais confortável para passar a noite. Torcendo para mamãe voltar para casa desta vez.
Minha barriga roncava alto, implorando por comida. Mas eu não poderia fazer nada. Apenas fechei os olhos, segurando as lágrimas. Deveria ter comido mais na escola, ou guardado algumas maçãs que estavam distribuindo.
Faltando uma hora para esta tortura acabar, o rangido da porta do quarto se abrindo ecoou pelo local.
Falta tão pouco, por favor me deixe aqui. Eu implorava silenciosamente, tampando minha boca com as mãos, impedindo os soluços do meu choro escaparem. Mas então, minha barriga roncou mais alto do que da outra vez. Ele entrou dentro do quarto, indo diretamente para cama.
- Olá, docinho. - disse ele, mostrando seu rosto para mim. Faltava tão pouco.
- Porque está triste? Não fique desse jeito, uma menina com um sorriso tão lindo quanto o seu não deveria estar triste. Venha, vamos brincar para anima-la um pouco.
- Eu não... não quero brincar... papai... - tentei dizer entre as lágrimas, tentei implorar. Mais ele apenas sorriu.
E aconteceu mais uma vez, como todos os dias."
Acordo em um pulo.
Olho ao meu redor, com o coração batendo cada vez mais forte em meu peito. Estou em um quarto completamente verde, repleto de histórias em quadrinhos jogados por todo lugar e com um forte cheiro de pizza impregnado. Suspiro aliviada. Ainda estou no quarto de Garfield.
Era apenas um pesadelo, era apenas um pesadelo. Repito para mim mesma, afim de acalmar o meu coração. Sinto um nó se formar em minha garganta e minha visão se embasar. Não era um pesadelo, era uma lembrança.
- Rae...? - perguntou uma pequena voz.
Olho para minhas mãos no mesmo instante, afim de que ele não pudesse ver minhas lágrimas que querem sair.
- Sim, Nick? Aconteceu algo? - pergunto, tentando parecer confiante. Mesmo que por dentro eu apenas queira desaparecer.
- Gafi pediu para mim vir acordar você, o café da manhã está listo.
- Está bem, já vou me levantar. - digo erguendo minha cabeça e olhando para a criança a minha frente.
Com um pijama de super herói e uma pelúcia de sapo nos braços, o menino caminha em minha direção, parando em frente a mim. Seus grandes olhos escuros me observam, e tive a sensação, de que esta olhando para minha alma.
Mas por fim, ele apenas pegou minha mão.
- Você teve um pesadelo... não foi? - perguntou delicadamente.
Como os Logans conseguem descobrir quando tive um pesadelo ou quando não estou bem? Isso é um super poder ou sou eu que não consegue esconder muito bem?
Apenas concordo com a cabeça, e em resposta, recebo um pequeno sorriso banguela da criança.
- Aqui, fique com ele. - disse me entregando sua pelúcia. - Gafi me deu de presente quando me mudei para cá. Sempre que tenho algum sonho ruim, eu abraço muito ele. Deja que te enseñe.
Nick pegou novamente o sapo das minhas mãos e o abraçou fortemente, como havia dito. Sorrio com sua ação, esquecendo completamente o que houve a alguns minutos atrás.
- Depois disso, tudo fica melhor e eu consigo voltar a dormir. - ele me entrega a pelúcia. - Quando tiver um pesadelo ou ficar triste, abrace muito ele que tudo vai melhorar!
Olho para o sapo em minhas mãos e depois para o garoto. Então, assim como ele fez, eu abraço fortemente a pequena pelúcia. Sentindo minha criança interior feliz pela primeira vez.
Quando era pequena, nunca tive nenhum ursinho de pelúcia para abraçar depois de um dia terrível. Tudo o que tive, foram apenas bonecas de porcelana. Elas nunca me protegeram ou me deram algum sentimento de conforto, apenas eram jogadas contra mim. Sempre partindo em milhões de pedacinhos. Me deixando com ferimentos incuráveis.
Quando todas se quebravam, minha progenitora sempre comprava mais para mim, achando que eu as amava. Mesmo as "destruindo" sempre. Mas na verdade, eu as odiava.
Sentindo o nó voltar a apertar minha garganta, olho para Nick com um pequeno sorriso.
- Esse é o melhor presente que já me deram em toda a minha vida. - digo com sinceridade. Um grande sorriso tímido surgiu no rosto delicado da criança.
- Uma garota tão legal e bonita como você, não deveria ter pesadelos. - respondeu Nick.
E então, se retirou do cômodo saltitando alegre. Fazendo seus pequenos cachinhos balançarem de um lado para o outro. Observei meu presente em minhas mãos. E com o coração quentinho por esse pequeno gesto, prometi a mim mesma guarda-lo com todo carinho.
E usa-lo contra seus pesadelos, como o garotinho me ensinou.
O coloco sobre a cama com cuidado e vou para a cozinha. Lá, todos já estavam reunidos em volta da mesa conversando, sem tocar um dedo na comida a frente. Assim que Garfield me vê, um sorriso se abre em seus lábios, dando alguns batidinhas na cadeira vaga ao seu lado. Reviro os olhos, mas me sento ao seu lado.
Todos então, começam a se servir. Eles estavam... esperando por mim?
- Dormiu bem? - perguntou Garfield, sussurrando em meu ouvido. Algo que me causa arrepios por todo o meu corpo, por isso me afasto um pouco.
- Não. - digo simplesmente. Então, meus olhos se voltam para ele, que me encara confuso e surpreso ao mesmo tempo.
- Não? Como assim "Não"?
- Não tive uma noite boa, apenas isso. - digo dando de ombros, deixando um Garfield pensativo e desanimado observar seu prato.
Meu olhar encontra Nick, sentado a minha frente tomando um grande cole de suco de morango. Que de acordo com meu informante, Garfield, é seu favorito. Tive uma péssima noite, mas graças a essa pequena criança, sei que meu dia não será igual a noite passada.
Sorrio com tal pensamento, e começo a me servir. Sentindo o coração leve e quentinho. Será que posso ficar aqui? Pelo resto da minha vida?
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BROKEN HEART
RomanceQuem poderia imaginar que uma simples cerveja ruim e uma balada nova na cidade, poderiam mudar tanto a vida de alguém? Bom, Garfield e Rachel não imaginavam, mas foi exatamente isso que aconteceu. # 1 - bbrae (14/01/24) # 2 - bbrae (07/01/24) # 3...