THIRTY ONE

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Feelings

Odeio ressaca.

Mesmo com a cabeça implorando por mais descanso, eu abro meus olhos. Soltando um baixo xingamento, devido a forte claridade. Me sento, de onde quer que eu estivesse deitada e permito os flashes da noite anterior invadirem a minha mente. Eu havia bebido uma garrafa inteira de uísque com Richard Grayson. O ex babaca da minha melhor amiga.

Seria um bom momento para me internar no hospício?

Tentando retirar tal lembrança da minha mente, me levanto determinada a começar o dia fazendo aquilo que sou especialista. Fugir daquilo que quero evitar. E o que eu mais quero evitar hoje, é Richard.

Olho ao meu redor, procurando por algum remédio que pudesse retirar essa dor que sinto. Parece até que minha cabeça está em uma contagem regressiva, prestes a explodir a qualquer momento. Mas ao reparar o lugar com mais detalhes, meu coração para por um instante. Onde, diabos, eu estou?

Eu estava ao lado de uma cama, em cima de um colchão fino. Onde provavelmente eu devo ter passado a noite. Isso justifica meu pescoço dolorido.

– Grama molhada, você não pode mais deixa-la aqui! – diz uma voz masculina se aproximando. O que me faz deitar novamente e fingir que continuo dormindo.

– Pare de me chamar assim! Meu cabelo não parece uma "grama molhada" depois que eu saio do banho. E posso deixa-la aqui o tempo que eu quiser, é só nenhum inspetor ver ela aqui. – respondeu outra voz.

Espera, esses são Garfield e Victor?

– Faça o que quiser, então. Mas se algo der errado, a culpa é toda sua. – diz Victor, com o barulho de uma porta batendo logo em seguida.

Dou um pequeno suspiro, porque eu estou no quarto dos meninos? E porque estavam falando de mim daquele jeito? Sinto o arrependimento invadir o meu estômago. Eu jamais deveria ter aceitado o convite de Dick.

– Pode parar de fingir, sei que está acordada. – disse Garfield, me fazendo suspirar ainda mais alto. Já disse o quanto ele é irritante?

– Para a sua informação, eu não estava fingindo. – respondo me levantando, o vendo me encarar com uma das sobrancelhas erguidas. – Foi a conversa de vocês dois que me acordou!

Ele apenas sorriu, esse sorriso filho da...

– Foi fingir que acredito. 

Apenas reviro os olhos. Ótimo jeito de começar o dia! 

Me levanto de minha cama improvisada e faço um rápido alongamento. Este colchão fino destruiu meu pescoço e coluna. Assim que termino, olho para mim mesma, percebendo que além de não estar em meu próprio quarto, também não estou com minhas próprias roupas. 

Na noite passada, eu usava um conjunto de moletom cinza, juntamente com umas das pantufas que ganhei de Kory. Mas agora, neste momento, tudo que está em meu corpo é apenas uma grande blusa verde musgo. Ela é tão grande, que cai até um pouco acima dos meus joelhos. Porém, qualquer movimento brusco resultaria em todos verem minha calcinha preta. A única coisa que está por baixo desta blusa. 

Olho para Garfield no mesmo instante, que evita meu olhar com suas bochechas vermelhas. Ah, não por favor não me diz que...

– O que você fez comigo ontem?! – digo espantada, abraçando meu próprio corpo. De novo não, por favor de novo não. 

Sem ao menos conseguir controlar, meus olhos se enchem de lágrimas. Meu coração bate rapidamente contra o meu peito, me desesperando. Tento puxar o ar que falta em meus pulmões, mas falho miseravelmente. Me sento lentamente em meu colchão novamente, sentindo tudo ao meu redor girar e girar cada vez mais. 

Olho para minhas mãos, tremulas e molhadas com meu próprio suor frio. O que está acontecendo comigo?!

Fecho meus olhos fortemente, torcendo para que tudo apenas parasse. Fazia meses que isto não acontecia... porque agora? Porque aqui?!

– Rachel, está tudo bem? – escuto a voz de Garfield falar ao longe. Mas sua voz logo é interrompida por um alto zumbido. 

Abro meus olhos rapidamente, procurando uma maneira de sair deste quarto que parece que me engolirá a qualquer momento. Garfield vem em minha direção, com suas grandes mãos se aproximando cada vez mais  tentando encostar em mim... tentando me tocar... 

Suas grandes mãos queriam me tocar...

– NÃO TOQUE EM MIM! – grito para ele, que faz o mesmo paralisar em seu lugar e arregalar os olhos de surpresa. Aproveitando sua distração, reúno as poucas forças que me resta e saio correndo do quarto pela porta. 

Correr é uma palavra muito forte para mim neste momento, cambalear já é uma palavra mais aceitável. Pois é exatamente isto que faço, saio cambaleando pelo corredor do dormitório masculino, torcendo para não encontrar nenhum outro garoto. Já que tudo que possuo agora é apenas um blusão para me cobrir. 

Derrubo uma ou outra lixeira em minha caminhada, e mais um vaso ou outro de planta. Mas o pior, acabou surgindo em minha frente. Minha mãe está no mesmo corredor que eu, procurando por algum problema. 

Minha dor de cabeça dobra de tamanho, assim como minha tontura. Não há como eu me esconder da minha mãe no estado que me encontro. Porém, sinto uma forte mão agarrar meu pulso fortemente e antes que eu pudesse voltar a gritar, sou puxada para dentro de um armário de limpeza. Quando me dou conta, Garfield está bem na minha frente, ainda segurando meu pulso. 

– Não grite, por favor. Não vou machucar você. – sussurrou ele com seus voz rouca, me causando náuseas. 

Não grite, docinho. Não vai doer desta vez, promessa de dedinho. 

As lágrimas caem sobre meu rosto sem minha autorização. Tento me soltar de seus braços, sem força alguma. Estou fraca, tonta, com dor de cabeça e enjoada. Será isso uma amostra grátis do inferno? 

Sem conseguir me soltar, apenas me rendo ao meu desespero. Deixo minha cabeça cair sobre seu peito e apenas choro. Choro como uma pequena criança indefesa, que implora aos céus por alguma proteção. 

Com receio e cuidado, Garfield me envolve em um abraço caloroso. Acariciando meu cabelo com uma de suas mãos, enquanto a outra envolvia meu tronco. Acarro sua blusa blusa com força, permitindo que tudo o que eu segurava durante anos pudesse finalmente se libertar. 

Naquele momento, eu não me importava em parecer vulnerável ou frágil. Eu só queria que isso dentro de mim parasse. 

– Está tudo bem, RaeRae. Vai ficar tudo bem. – disse o garoto em um sussurro. – Você não está sozinha. 

Eu só queria que tudo parasse. 

BROKEN HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora