TWENTY FIVE

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Family Lunch

Odeio refeições.

Principalmente aquelas onde toda a família se reúne ao redor de uma mesa, com deliciosas comidas a frente. Dão as mãos e agradecem por cada alimento, em seguida se servem e perguntam uns aos outros como foi o dia. Odeio esse tipo de refeição, as familiares. Odeio tanto, porque nunca tive uma.

Mas agora, olhando para a família de Logan, que ri e se diverte com suas bobeiras. Não me sinto triste, amargurada ou com raiva. E sim acolhida. Porque, a todo momento, ninguém se esqueceu de mim. Como sempre acontecia com a minha "família". 

Sempre me incluem na conversa e até me fazem algumas perguntas sobre a escola ou gostos meus. Até mesmo Garfield me dá uma atenção especial, e nossos dedos entrelaçados debaixo da mesa é uma prova perfeita. Que de inicio, não gostei nem um pouco, mas ele me mostrou que não é nada demais. Apenas um pequeno gesto de que está bem aqui, ao meu lado, então não me importei.

Há também os pequenos sorrisos em minha direção, os comentários sobre algo que já vivenciamos e o mesmo me chamando de namorada. Na frente de todos. 

Nunca namorei, pois como disse antes, é apenas perda de tempo. Por este motivo, estou um pouco nervosa com tudo que está acontecendo. Me lembro constantemente de que estou fazendo isso pela minha vingança, o toque de Garfield me ajuda um pouco a voltar para a realidade. 

A realidade de que isso, em partes, não é real.

– Bem, sei que o papo está bom. Mas como vocês acabaram... – disse o sr. Logan, pai de Garfield, gesticulando com as mãos para nós dois. Tentando encontrar as palavras certas.

– Também quero saber como meu filho desencalhou. – disse a sra. Logan, mãe de Garfield, arrancando boas risadas de Garfield e seu marido. E um pequeno sorriso meu.

Sinto algo puxar a manga do meu casaco, e quando olho para o lado, um grande par de olhos escuros me encara. Com curiosidade e admiração.

Nunca gostei de crianças, pois a maioria me odeia. Assim que me veem, choram e correm para o colo da mãe. Mas essa, não. E após a conversa que tivemos em seu quarto, tenho certeza que ela é especial.

– O que significa desen...sen...desenca... – ele tenta dizer enquanto olha para suas pequenas mãos. Dou uma leve risada.

– Desencalhar, é quando algo estava parada volta a se mexer novamente. No caso do seu irmão, ele não estava namorando por um tempo, mas agora voltou a namorar. Conseguiu entender? – tento explicar para ele da maneira mais simples e doce que consigo.

– Desen... desencalhar! Consegui, gracias Rae! – agradeceu o pequeno Nick, com seus grandes olhinhos brilhando ainda mais.

Posso ter conhecido essa criança a poucas horas atrás, mas neste pouco tempo, ela conseguiu despertar em mim algo que sempre mantive trancado dentro de mim. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, ou até mesmo péssimo. E isso me assusta.

Nick, com seu sorriso banguela maior ainda, volta para sua cadeira. Voltando a se entreter com seu prato repleto de legumes e verduras.

Quando volto minha atenção para os adultos, Garfield já havia contado a "história do nosso namoro". Mas pude ver que não estava gostando de mentir para seus pais, provavelmente se arrependendo de ter copiado minha ideia de fingir um namoro falso na frente dos pais.

Então, um pequeno sentimento de culpa se instalou em meu peito. Se não tivesse dito aquilo para minha mãe, não teria o arrastado para esta teia de mentiras.

Mas foi ele quem quis mentir para os pais! A culpa deveria ser dele!, uma pequena voz em minha mente me dizia. Mas a ignoro.

Me sinto acolhida pela primeira vez em anos, não vou deixar que esse sentimento acabe tão cedo!

– Garfield já lhes disse que tirou um B em matemática? Estou a semana toda para essa prova! – mudo de assunto rapidamente, recebendo um olhar agradecido dele. Enquanto seus pais suspiram, impressionados.

Dou uma piscada para ele, que fica vermelho com o gesto. Não sei o que se passou em sua cabeça, mas confesso que fiquei curiosa.

– Oh, meu garotinho. Estou tão orgulhosa de você! – exclamou Rita, com os olhos brilhando. Assim como os olhos do filho mais novo.

– Precisa trazer essa prova para cá imediatamente. Temos que coloca-la no mural o quanto antes! – disse Steve, apontando para o mural. Que é apenas a porta da geladeira, coberta por desenhos e algumas provas com notas altas antigas. Parece algo bobo, mas deve ser muito especial para essa família.

– Vou trazer na próxima visita, prometo. Vai me ajudar a coloca-lo no mural, não é garotão? – perguntou Garfield ao pequeno, que brincava com sua colher.

– Te ayudaré! – exclamou a criança animada, levantando seus braços para o alto.

Mas quando os abaixou, para voltar a brincar. Seus braços acabaram esbarrando nas bordas do prato, fazendo o objeto se impulsionar para cima. Derrubando toda a comida dentro, em cima do pobre menino.

Todos os mais velhos presentes no lugar, incluindo a mim, seguraram a respiração. Temendo pela reação de Nick com o seu pequeno acidente.

Com o rosto sujo de feijão com beterraba, ele apenas riu. Sentindo cócegas com o resta da comida em contato com sua pele.

Steve o pegou em seus braços e levou o mesmo correndo para o banheiro, enquanto Garfield corria para o quarto de Nick para pegar tudo o que precisaria em seu banho. E eu fiquei a sós com Rita, limpando a bagunça que o menino fez.

Estava lavando a louça do almoço, distraída em meus pensamentos. Quando a mãe de Garfield entrou na cozinha. Afim de puxar algum assunto comigo, mesmo que o assunto que escolheu fosse o pior de todos.

– Como estão seus pais, Rachel? Garfield mencionou que sua mãe é a diretora do colégio, mas e seu pai? Trabalha lá também?

Paro de lavar a louça no mesmo instante.

Olho para seus olhos, procurando algum sinal de que o que disse era alguma brincadeira maldosa. Mas não encontro nada, apenas um olhar acolhedor e sincero. O que me deixou um pouco enjoada. 

Desvio o olhar, tentando controlar minha vontade de jogar o prato de vidro que estava lavando no chão. Engulo em seco, tentando pensar uma resposta menos seca e grossa possível.

A intenção foi boa, a intenção foi boa, a intenção foi boa...

– Meus pais se separaram a dois anos, desde então, não tenho notícias dele.

E não quero nunca receber.

Ela não diz nenhuma palavra, apenas toca na minha direita. Que percebo apenas agora, que estava segurando a esponja com força.

– Reconheço um olhar sofrido quando vejo um. Mas não vou força-la a dizer nada, apenas saiba, que as portas desta casa sempre estarão abertas para você. Sendo a namorada do meu filho ou não.

Sua fala foi como um soco em meu estômago. Porque universo? Porque não me deu uma mãe como ela?!

Antes que eu pudesse dizer algo, Garfield entra na cozinha animado. Com a blusa completamente molhada.

– Vamos jogar mímica agora, vocês duas vão brincar também. Não é?

– Se você trocar essa blusa primeiro, nós jogamos. – diz ela dando leves tapas no braço do filho enquanto sai da cozinha.

Mas assim que seu olhar cai em mim, seu sorriso logo se vai.

– Ei, está tudo bem? Você parece meio pálida, mais pálida do que o normal. – perguntou se aproximando de mim preocupado. Apenas suspiro forte, soltando todo o ar que estava prendendo.

– Estou bem, apenas percebi que sua mãe é um anjo. – digo distraída, ainda processando a fala da mulher. Mas acabei arrancando o famoso sorriso de Garfield.

Por azar, como eu odeio esse sorriso!

BROKEN HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora