THREE

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New Ballad


Isso tudo, é pior do que eu pensava.

Em primeiro lugar, a fila. Quando Kory e eu chegamos na balada que todos estão falando, a fila estava dobrando o prédio todo. Como tem uma lanchonete ao lado, decidimos comer alguma coisa para ver se a fila diminuía. Foi a pior decisão que tomamos, pois logo depois de sairmos da lanchonete, a fila estava pior do que antes. Quanto mais tarde ficava, mais adolescentes com identidades falsas chegavam para se divertirem, alguns já chegavam cambaleando de tão  bêbados. Um show de horrores.

Segundo lugar, os seguranças. Depois de passar horas na fila, assim que chegou nossa vez, os dois seguranças que ficam na frente das portas para garantir que nenhum menor de idade entre. Mesmo isso sendo algo inevitável. Nos avaliaram da cabeça aos pés com um olhar nojento e quando viram o decote do vestido de Kory, ficaram hipnotizados. Dei graças a azar por ter insistido por um vestido sem decote.

Quando mostramos nossas identidades, nos pediram várias outras coisas, até mesmo carteira de motorista. Me pergunto o porque disso tudo, já que quando eles tinham que avaliar a identidade dos homens, nem  olhavam direito para ela e já o deixavam entrar. Isso tem nome, e é machismo!

Terceiro e ultimo, os adolescentes. Na fila, havia um grupo de meninas na nossa frente que não paravam de conversar sobre os garotos que tinham naquela balada, um comentário mais nojento que o outro. Me segurei muito para não colocar todo o meu lanche para fora, mais especificamente, em cima daquele grupo de meninas que acabaram de sair do mundo da barbie. Pois usavam vestidos roxa com glitter, muito glitter. Se não fosse por Kory, já estaria em casa, na minha cama dormindo tranquilamente.

Os meninos então, são piores que os seguranças. 

Me viro para trás com minha cadeira giratória. Kory esta dançando no meio da pista de dança, alguns até olham para ela como se fosse de outro planeta, já que sua dança é bem estranha e sem sentido. Dou um pequeno sorriso, um sorriso verdadeiro. As vezes, me esqueço como é a sensação de sorrir de verdade, rir de verdade. Apenas faço isso com Kory, não sei o porque, mas parece que ela é a única que me faz feliz de verdade.

Quando era pequena, costumava sorrir mais. Claro, sempre era quando estava na escola com Kory ou sozinha em casa. Mas tudo acabou quando ele chegou, tudo ficou tão... triste e... assustador...

– Boa noite bela dama, gostaria de algum drink?

Me viro rapidamente pra frente, dando de cara com um rapaz  que esta atrás da bancada do bar com um avental preto na frente do corpo. Deve ser algum bartender. Seu cabelo é um liso bem cheio, que vai até seus ombros largos. Seus olhos são tão azuis quanto os meus, pois mesmo no escuro, consigo vê-los com perfeição. Ele possui o rosto fino e com um leve bigode sobre os lábios.

– Bela dama, esta tudo bem? – pergunta o rapaz, agora, olhando preocupado para mim. Droga, não devia ter o olhado tanto, e se ele pensar que quero ficar com ele? Odeio garotos com bigode.

– Sim, esta tudo bem. E eu vou querer... – observo as pessoas que estão bebendo no bar, então, um garoto me chama atenção. Pelas suas roupas e confiança, deve ter um bom gosto para bebidas.

– Quero a mesma coisa que aquele garoto pedir. – digo apontando disfarçadamente para o garoto confiante. O bartender olha para ele e sorri discretamente.

– Trarei sua bebida em um instante. – assim que termina de dizer isso, o mesmo desaparece para dentro do bar.

Suspiro aliviada. Pelo seu sorriso, deve ter pensado que agora estou interessada no garoto confiante e não nele, pensando nisso me deixará em paz. Coloco as mãos sobre os ouvidos tentando abafar a música alta, minha cabeça não para de latejar. Agora sim, preciso urgentemente de uma bebida para me distrair.

 Sem conseguir evitar, olho novamente para o garoto confiante. O mesmo, usa uma jaqueta que parece ser de algum time de basquete com a letra R no peito esquerdo, calças jeans escuras rasgadas e um tênis da mesma cor que sua jaqueta. Que por culpa da iluminação, não consigo identificar qual é. Mas consigo ver pela sua expressão, que não esta em sua melhor condição. Nariz e olhos vermelhos.

 Não sei porque, mas tenho a leve sensação de que o conheço de algum lugar, será que ele...

– Aqui esta bela dama! Uma cerveja bem gelada. – diz o bartender de repente colocando minha bebida sobre o balcão. Coloco a mão no meu coração pra garantir que esta no mesmo lugar, levei um grande susto.

 – Ah, obrigada. 

Para evitar conversar com ele, pego logo a bebida e tomo um pequeno gole, pois esta bem gelada e isso não vai me ajudar nem um pouco com a dor de cabeça. Assim que o líquido amargo desce por minha garganta, coloco a mão sobre a boca para não devolve-lo ao copo.

– Mas que negócio... horrível! – o bartender sorri, estou começando a odiá-lo.

– Pois é, a maioria não tem gosto bom para bebidas e...

– Isso é bem legal mas eu tenho que ir.

Pego a bebida ruim afim de joga-la em alguma lixeira e me levanto da cadeira giratória. Me distancio do bar e vou em direção a pista de dança atrás de Kory. Preciso vê-la feliz para me convencer de que vir aqui não foi um grande erro. Mas é então que percebo, ela não esta mais na pista de dança.

– Kory? – tento chama-la no meio da multidão, mas as pessoas dançando e a música alta não me ajudam nem um pouco.

 – KORY! – grito com todas as minhas forças para que ela me ouça, mas não adianta, não consigo encontra-la. Onde ela esta?!

– E aí gatinha, esta perdida? – perguntou uma voz masculina atrás de mim. Apenas ignoro ela e tento passar entre as pessoas atrás de Kory.

 – Gatinha, ei! Estou falando com você!  – ignoro novamente a voz, não quero aturar mais um garoto, tenho que achar Kory.

– Espere! – insiste a voz mais uma vez.

Então, sinto uma mão quente encostar levemente em minhas costas nuas. Um arrepio percorre todo o meu corpo. Um arrepio no qual estou levemente familiarizada.

Já chega, quem quer que seja o dono essa voz, essa pessoa acabou de passar dos limites! 

Me viro para trás bruscamente e jogo toda a cerveja amarga que estava em meu copo em cima do dono da voz. Todos ao nosso redor, que estão dançando e quase se engolindo, pararam o que estavam fazendo para ver o que esta acontecendo. Até o DJ fez questão de abaixar a música para nos escutar. Mas quando vejo o dono da voz, quase peço desculpas pela cerveja em sua blusa branca.

O garoto parece ter a mesma idade que eu. Tem cabelos loiros com as pontas pintadas de verde, e um abdome bem definido. Seus olhos estão olhando a grande mancha que minha cerveja ruim fez em sua blusa, mas quando eles desviam para mim, fico hipnotizada.

Seus olhos são verdes assim como os de Kory, mas ao mesmo tempo são tão... diferentes. Quando olho para eles, sinto como se estivesse olhando para uma grande floresta sem fim, consigo até escutar o barulho dos pássaros cantando. É tudo tão vivo e lindo, o cheiro de grama molhada e...

– Kory! – digo correndo em sua direção e ignorando completamente o garoto que estava na minha frente.

Pego sua cabeça com minhas mãos e a faço olhar para mim, e assim que ela o faz, meu coração se aperta. Sua maquiagem agora esta toda borrada e seus olhos completamente inchados ainda cheios de lágrimas. Sinto a raiva crescer dentro de mim.

– Kory... quem fez isso com você? – digo séria e fria, encarando seus olhos verdes agora tristes.

– Eu... eu... – sem conseguir formar uma frase, ela me abraça apertado e volta a chorar.

– Vamos, vou te levar para casa. – digo sem saber o que fazer.

Pego delicadamente sua mão e abraçando seus ombros, a tiro daquele lugar horrível. Mas enquanto saiamos, pude escutar perfeitamente todos os xingamentos e pragas que aquele garoto gritou para mim.

Não me importei com nada daquilo, Kory precisa de mim agora, e não será um garoto mesquinho que fica reclamando da blusa molhada que irá me impedir.

BROKEN HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora