THIRTY TWO

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Concern

Me sinto um lixo. 

Não porque estou sujo, feio ou com mal cheiro. Mas porque a minha "namorada" estava horrível e eu não sabia o que fazer, como reagir. Para ser sincero, não entendi nada do que acabou de acontecer. Meu primeiro instinto, foi abraça-la e dizer que estava tudo bem, que ela não estava sozinha. Pelo menos, era isso o que minha mãe fazia comigo quando eu passava mal e precisava ir para o hospital. 

Não sei se isso a ajudou muito, pois segundos depois ela desmaiou, antes que eu pudesse explicar o motivo de ela estar sem sua roupa e com apenas uma blusa minha em seu corpo.

E em minha defesa, Rachel estava assim porque quando fui leva-la para o seu quarto ontem ela simplesmente virou e vomitou. A roupa dela ficou uma verdadeira lixeira, eu não podia levar ela para o quarto e entrega-la naquele estado pra ruivinha. 

Ela é gentil e tudo, mas se visse a amiga dela daquele jeito, me mataria. Por isso dei uma roupa minha para que a RaeRae pudesse trocar, mas ela se recusou em usar minha bermuda, então foi para a cama improvisada que fiz para ela apenas com a minha blusa. Acreditem, eu e os meninos tivemos que evitar olhar para ela, afim de não ver mais do que devia. 

E foi só isso o que aconteceu, eu juro pela minha falecida avó! Espera, ela ainda não tá viva...? Enfim, vocês me entenderam. 

– Notem, que existem expressões alternativas de matrizes de transformação envolvendo vetores linha que são preferidas por algumas autores. – explicou o professor de matemática avançada, anotando mais rabiscos em seu quadro de giz. 

Mas confesso, não estou nem aí para a aula dele. Porque tudo que consigo pensar neste momento, é em uma certa garota que vem me deixando louco  desde aquele dia horrível na balada. 

Antes de ir para as minhas aulas, a deixei em seu dormitório aos cuidados da ruivinha, que me prometeu que Rachel ficaria bem.

Confiando na palavra dela, eu vim para as aulas, péssima decisão. Porque agora estou tendo que aturar um professor careca falar hebraico enquanto minha mente me perturba com o que aconteceu mais cedo. 

Resumindo, estou uma bagunça. 

– Na álgebra linear, como as transformações  lineares podem ser representadas Sr. Logan? – perguntou o carequinha, me fazendo olhar para ele. 

– Elas são... – meu olhar vai até o quadro, tentando achar a resposta para a pergunta. Mas não entendo nada do que está escrito. Pelos céus, que língua é essa?!

– Elas são representadas por... números...? – chuto a resposta, fazendo todos na sala rirem. 

– Que tal você prestar mais atenção em minha aula, Sr. Longan? – sugeriu ele, me fazendo revirar os olhos. – Aposto que a diretora já está cansada de ver seu rosto. 

Coitado, mal ele sabe que sempre que me manda para a diretoria eu vou para a quadra escondido treinar alguns arremessos. 

Para a minha salvação, o sinal toca na hora certa para me salvar desta terrível aula. O que significa que está na hora do almoço, minha hora favorita! 

Pego apenas o meu celular e saio correndo em direção ao refeitório. E vocês devem estar pensando, nossa Garfield! Todo esse desespero só por causa de um almoço? Ah se vocês soubessem o tanto de gente que estuda aqui. Você pisca e a fila para o almoço já está kilometrica! Então o meu desespero não foi a toa! 

Depois de ficar alguns minutos na fila e finalmente pegar meu almoço, me sento junto com meus amigos em nossa mesa. 

– Eaí, passarinho. O que aconteceu ontem a noite com você e Rachel? Pareciam dois mortos quando chegamos no quarto. – pergunto para Dick, que me olha cansado. 

– Não aconteceu nada de mais, ela apareceu lá no nosso quarto e eu a convidei para entrar. Comemos algumas pizzas e pra descontrair o clima, começamos a beber. – explicou ele, voltando a brincar com a almondega no seu prato. 

– Tem certeza que foi só isso? Ficaram conversando sobre o que? – me aproximo dele. – Porque ela apareceu no nosso quarto no meio da noite? 

– Calma aí, limão azedo. Porque quer tanto saber o que aconteceu ontem? Até parece que o Dick pegaria a sua garota pelas suas costas. – disse Victor com a boca cheia. 

– Ela não é minha garota! 

– Não foi isso que ele perguntou. – resmungou o passarinho. 

– Porque ela surtou hoje e queria descobrir o motivo, pensei que poderia ter sido por algo que aconteceu ontem. – explico, decidindo ser sincero com os dois. Porque sinceramente, eu não sei o que fazer. 

– Como assim ela surtou? – perguntou Dick, ficando atento na conversa. Assim como Victor. Duas Maria Fifi. 

– Ela viu que não estava com as roupas dela e surtou. Perguntou o que fiz com ela, ficou pálida, trémula e parecia que não estava conseguindo respirar. Tentei chegar perto mas ela gritou e saiu correndo. No fim acabou desmaiando nos meus braços. 

Será que eu fiz alguma coisa de errado? 

– Você... notou mais alguma coisa que ela estava sentindo? 

– Coração acelerado, olhos perdidos e muito suor. Porque? – pergunto pegando meus talheres para começar a comer. 

Mas ao encarar o prato, minha fome se vai com o vento e a imagem de Rachel desmaiada nos meus braços invade a minha mente. Será que ela já tinha acordado? Será que já comeu alguma coisa? Será que ela já está se sentindo melhor?

– Porque acho que a "sua garota" teve um ataque de panico. 

Largo meus talheres no mesmo instante. 

– Como assim um ataque de panico? 

– Bem... todos os sintomas que você acabou de falar são bens comuns em pessoas que estão passando por um ataque de panico, que na maioria das vezes pode ser causado por um gatilho. – explicou Dick. 

– E como você sabe disso tudo?! – perguntou Victor de boca aberta, chocado com o conhecimento do passarinho. Mas ele apenas dá de ombros. 

Até eu teria tido a mesma reação, se o assunto não envolvesse a minha "namorada". 

– O que poderia ser esse gatilho? 

– Não tenho muito certeza, mas na maioria dos casos, as pessoas tem ataques de panicos por causa de muito estresse ou por conta de algum trauma que a pessoa possuí. As vezes até mesmo a situação que a pessoa está pode causar um ataque, como um sequestro ou um assalto. Mas acho que esse não é o caso da Rachel. Então... – ele da uma pausa, finalmente comendo a almondega que dançava no seu prato. –... vamos ficar com as duas primeiras opções. 

– Acho que a opção do estresse faz mais sentido, ela vive com raiva. – propôs Vic, pensando na situação. Mas o passarinho nega. 

– Acho que não, pela reação que ela teve tão de repente é mais provável ter sido por causa de algum trauma. – disse ele. 

Então os dois começaram a debater qual das duas opções teria sido mais provável de causar o ataque na Rachel, o que particularmente achei desnecessária. Mas permaneci em silêncio, sem conseguir apagar da minha mente a imagem dela sentada em sua cama improvisada, tentando respirar desesperadamente. 

Pelos céus RaeRae, o que está acontecendo com você?!

BROKEN HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora