FIFTEEN

94 12 14
                                    

My Past

Como ela pode fazer isso comigo?!

Caminho em passos duros, apressada. Minha mente está a mil por hora com tantos pensamentos, e não consigo controla-los. Nem tento, apenas deixo eles tomarem conta de mim. E é graças a eles que desejo tanto chegar ao meu destino. Hailey Moore não é a pessoa boa que todos pensam, mas sim uma serpente em forma de gente. Traiçoeira e venenosa.

Seus cachos macios e perfeitos, junto com seu rosto angelical podem até disfarça-la. Mas a qualquer momento, sua morte pode vir com apenas uma picada. Acreditem, sei por experiência própria.

Se Hailey está aqui, significa que a deixaram voltar. Mesmo depois de tanto caos, causados pela mesma. Sua volta é culpa dela!

Depois de tudo que aquela cobra me fez passar, ainda assim a deixou voltar. Mas esse não é o problema, e sim o fato de terem a colocado para dividir o mesmo quarto comigo e Kory. Porque tinha que ser especificamente o nosso?!

Assim que chego ao meu tão esperado destino, abro a porta da sala sem ao menos me preocupar em pedir permissão antes. Entro e a fecho bruscamente, causando um grande barulho.

Seus olhos se viram para mim, diz mais algumas palavras no telefone e encerra a ligação. Ela me encara seriamente, então, aponta para a cadeira vazia a sua frente.

Reviro os olhos impaciente e me sento.

- Então, qual o motivo de sua visita repentina? - pergunta ela calmamente. Eu já deveria saber que se faria de desentendida.

- Hailey Moore. - digo friamente.

Ela suspira, decepcionada. Aposto que uma pequena parte sua, ainda esperava que eu não fosse dizer nada sobre isso. Porém, não tenho mais seis anos.

- Rachel...

- Porque ela voltou? Como você pode permitir tal coisa? Por acaso não se lembra das coisas terríveis que ela fez?

- Estou apenas fazendo o meu trabalho, Rachel. Os pais quiseram a matricular novamente e oferecerão uma boa quantia, como eu poderia negar?

- Fico feliz que tem feito um bom trabalho como diretora. Pena que não posso dizer o mesmo como mãe.

- Rachel... mais uma vez este assunto?

- Você prometeu!

Angela retira seus óculos do rosto e massageia as têmporas cansada. Por que, uma vez na vida, ela não pode simplesmente se colocar no meu lugar? Aquela serpente me machucou muito, e doí mais ainda saber que minha própria mãe a permitiu voltar, ficando tão perto de mim novamente.

Ignoro o nó que se prende em minha garganta e volto a falar.

- Depois que... ele... foi embora, você me prometeu que seria uma mãe melhor. Então, pare de agir como diretora agora e seja a minha mãe.

Olho para ela esperando sua reação, torcendo para que me escutasse apenas desta vez. Mas seu olhar se vira para o relógio em seu pulso. E quanto se vira novamente para mim, seu olhar é frio e sem emoção. Assim como o meu.

- Está na hora do jantar, acho que não gostaria de chegar atrasada. - diz Angela Roth friamente. Rio sem emoção.

- Sabia que faria isso, que escolheria mais uma vez sua preciosa escola no lugar de sua filha. - digo no mesmo tom, sentindo um gosto amargo na boca.

Desejei que uma pequena ponta de arrependimento surgisse em seus olhos, mas nada aconteceu. Tal mãe, tal filha. Não é esse o ditado?

- "Uma curta promessa é uma longa mentira", essas não eram as suas palavras?

Vejo seu rosto se tornar vermelho de raiva e acabo sorrindo. Sem esperar uma resposta, que sei que nunca teria, saio de sua sala a escutando gritar meu nome diversas vezes. Como disse antes, não tenho mais seis anos. Nunca mais acreditarei em uma palavra que saia de sua boca, principalmente em suas promessas.

Não preciso dela para me livrar de Hailey, posso fazer isto de olhos fechados. Já fiz algo semelhante uma vez, posso muito bem repetir a dose em dobro. Sempre foi eu contra o mundo, e continuará assim.

Mesmo que seja a hora do jantar, e meu estômago esteja implorando por algo. Vou direto para a academia da escola, me esquivando durante todo o caminho de qualquer funcionário. Para não ser mandada para o refeitório.

Estou fervendo de raiva, e preciso tirar isso de mim antes que algo ruim aconteça.

Assim que entro, vou direto até os sacos de bancada. Passo a areia e a serragem em minhas mãos. Encaro o saco por alguns segundos, sentindo meu sangue borbulhar e minha ansiedade atacar. Dou o primeiro soco, seguido por vários outros.

Sinto raiva de Hailey, por ter feito aquilo comigo a dois anos atrás. Sinto raiva da minha mãe, por nunca me escutar e por não ligar para minha existência. Mas sinto ainda mais raiva de mim mesma, por ter sido tão tola. 

Achei que as coisas mudariam, mas não mudaram. Sempre me ensinou a não acreditar em promessas, dizendo sempre aquela mesma frase como desculpa. E eu a escutava, acreditava em suas palavras. Só não sabia que elas também serviriam para ela. Como eu disse, sou uma tola!

Soco ainda mais o saco com mais força, sentindo minhas mãos gritarem de dor. Mas eu não ligo. Meu peito doí, minha respiração doí, meu coração doí. Tudo dentro de mim doí a anos. E nunca liguei.

Sinto as lágrimas quentes rolarem pelas minhas bochechas, juntamente com o suor. Mas eu não ligo. Eu só quero tirar isso de mim. Porque não saí?!

"Nunca me perderá, pequena. Somos melhores amigos, hoje e sempre."

"Você nunca foi minha amiga, é apenas um mostro que necessita de atenção!"

"Seu sorriso é lindo, docinho. Porque não sorri para mim?"

"Uma curta promessa é uma longa mentira."


O saco de bancadas voa para longe. Com a respiração descontrolada e com a adrenalina em minhas veias, me aproximo. O mesmo esta caído no chão, com um grande rasco na lateral, de onde sai sua areia. Olho para as minhas mãos. Machucadas e com um pouco de sangue escorrendo.

Mesmo destruindo o saco e minhas mãos, ainda sinto algo preso dentro de mim. Porque não consigo simplesmente deixar tudo para trás?!

- RaeRae?

Olho para trás assustada, mas vejo apenas uma silhueta masculina contra luz que entra pela porta. Porém, já sei quem é apenas por esse apelido bobo.

- Garfield? O que faz aqui? - pergunto confusa me aproximando. O mesmo ri.

- É uma grande história, e eu não lembro de quase nada! - dizendo isso, ele cai na gargalhada.

Tem alguma coisa de errado, o que será que ele aprontou? Ainda rindo, Garfield tenta andar até mim, mas acaba dando um passo falso e quase cai no chão. Se eu não estivesse aqui para segura-lo. Estando tão perto, consigo sentir o cheiro de álcool impregnado em sua roupa.

- Você estava bebendo? - pergunto franzindo a testa. Ele esconde seu rosto em meu pescoço.

- Você esta molhada. - diz Garfield saindo do meu pescoço. Ele olha para minha testa por alguns segundos.

- Tomou banho?

Por azar, parece uma criança. Reviro os olhos.

- Não, isto é suor. Agora vamos, o deixarei em seu quarto com seus amigos. Já o aturei demais hoje.

Pego seu braço mole e o coloco em meus ombros. Então, o arrasto para seu dormitório. Mesmo com ele tentando me convencer de cuidar dele durante todo o caminho. Garfield normal, já é insuportável. Com ele bêbado desse jeito o próximo saco de bancadas que destruirei será ele.

E acreditem, não me arrependerei disso.

BROKEN HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora