*atenção! capitulo deprimente e podendo conter alguns gatilhos, sugiro que respire fundo e pense duas vezes antes de ler.*
Broken People
Me sinto como um vidro quebrado.
Com seus milhões de cacos espalhados pelo chão, alguns tão pequenos, quanto um mísero grão de arroz. Outros tão grandes, quanto a famosa Estatua da Liberdade. Todos podendo tirar uma mínima gota de sangue de sua pele, caso você não tenha cuidado.
Por anos fui quebrada... machucada... destruída.... tendo apenas os meus cacos ao meu redor, com a tentativa de me proteger. De em troca eu sair sangrando, a pessoa que tenta me alcançar é quem sangra. E eu permanecia, permaneço até hoje, esperando um milagre me iluminar. Para que os cacos ao meu redor possam ser enfim juntados, formando um coração que a anos não batia.
Encarando a triste paisagem que minha janela que me permite ter, tais pensamentos me lançam para a escuridão.
Eu não queria que Garfield sangrasse, mas depois do que aconteceu mais cedo. Não sei mais quem possuí mais vermelho em suas vestes, se sou eu ou ele.
Odeio a Hailey, odeio a minha mãe e odeio aquele monstro. Odeio todos eles porque foram eles que me deixaram neste estado. Quebrada como um vidro.
– Porque está assim? – perguntou uma voz feminina, que para minha infelicidade, não pertencia a minha doce melhor amiga. Mas sim a alguém que possui chifres em vez de asas.
Apenas permaneço em silencio. Escuto seus salto altos caminharem em minha direção, e quase solto um xingamento ao senti-la se sentar próxima a mim, em minha cama. Terei que queimar essa roupa de cama depois.
– Rachel? O que houve? – retornou a perguntar.
E então, eu me vi de volta a um dos meus maiores pesadelos.
Muitas pessoas tendem a ter a famosa "síndrome do Peter Pan". Adolescentes que se recusam a deixar sua infância para trás, desejando todos os dias voltar a ser uma pequena criança novamente. Comigo, o contrário aconteceu.
Tudo o que me lembro ao olhar para trás, são lágrimas, risadas e olhares penetrantes. Marcas que carrego em minhas costas como um peso.
E olhar para Hailey, me recorda tudo o que tento esquecer a anos. Tudo o que tenho trancado dentro de mim.
Um dos meus cacos de vidro, que não desejo que ninguém veja seu reflexo. O reflexo da jovem Rachel em seu fundamental, onde tudo começou a desmoronar.
– Pare. – a palavra sai da minha boca, tão baixa, que nem mesmo eu consigo ouvi-la.
– O que disse?
– Pare! – digo com a voz elevada, olhando pela primeira vez em seus olhos. Os olhos que antes eram tão doces comigo...
– Parar com o que? Não estou entendo...
– Pare de tentar se aproximar de novo. Pare com seu fingimento de que se importa comigo ou com Kory. Pare de tentar ser a heroína de uma história que você não pertence!
Seus olhos permanecem presos em mim, como um imã que se recusa a se afastar. Então eu me afasto.
Retiro os cobertores que me aqueciam e me forço a deixar a cama que acolhia minha tristeza. Mas ao dar cinco passos para longe da cama, minhas pernas se tornam fracas assim como minha mente e coração. Meus joelhos teriam se chocado contra o chão, isso se Hailey não tivesse segurado meu corpo.
Queria gritar, me afastar, fazer de tudo para que ela recuasse. Mas não consegui, então permiti que conduzisse meu corpo até a cama novamente.
E mais uma vez estou frágil em frente a outra pessoa. Primeiro, Garfield. Depois, Hailey. Quem será a próxima vitima? A mulher que me trouxe a esse mundo?
O silencio se fez entre nós. Enquanto sua mente vaga por maquiagens, festas e músicas. A minha reza para que uma faca caia sobre o meu colo, para que esse sofrimento finalmente possa chegar ao fim. Nem que seja da maneira mais dolorosa... mais demorada... até porque, o que é isso comparado a tudo o que já passei?
Então, uma pequena risada escapa dos lábios da garota ao meu lado. Pelo menos, não sou a única que enlouqueceu.
– Todo mundo me diz que sou uma grande vaca. Aposto, que depois daquela noite, você deve achar o mesmo. Não é? – disse Hailey olhando para o nada a sua frente. Permaneço em silêncio, pois se algo sair da minha boca, será apenas xingamentos e pragas.
– Eu jamais quis que tudo aquilo acontecesse, Rachel. Eu era apenas uma criança que estava passando por alguns problemas e precisava fazer algo, mesmo que isso custasse uma grande amiga.
Seu olhar se encontrou com o meu, e tudo que pude ver foi arrependimento. Mas desvio o olhar, preferindo ser lançada em um vulcão a encarar seus olhos mais uma vez.
– Minha família estava falindo, meu pai não conseguia mais clientes depois de perder um julgamento de um grande empresário. E a marca de cosméticos da minha mãe não era vendida em diversas lojas após se envolver em uma polêmica na internet. Eu... eu sou a filha mais velha entre quatro irmãos, Rachel. Precisava fazer algo. – sua voz falhou por um momento, voltando a soar firme novamente.
Tentei gritar para que parasse, mas minha garganta queimava em protesto. Queria fechar sua boca com minhas próprias mãos, mas meu corpo estava fraco demais para se mover. Eu queria fazer algo, mas o universo me impedia.
– Um dia, quando as aulas acabaram, me despedi de você e Kory para ir para casa. Mas no caminho, um homem me parou. Ele era um jornalista que precisava de uma matéria para salvar seu jornal, então ele me perguntou se éramos amigas...
Fecho meus olhos fortemente, já sabendo o que aconteceria.
– Eu disse que sim, e que poderia dar a ele uma matéria perfeita, que salvaria seu jornal e o faria ser o mais famoso entre todos da cidade. Mas em troca, ele precisava me dar uma grande quantidade de dinheiro. O suficiente para ajudar a minha família até as coisas voltarem ao normal. Com a permissão dos meus pais, assinamos um contrato e eu o contei tudo sobre sua vida.
Uma lágrima cai sobre o meu rosto, mas a limpo rapidamente, enquanto escuto a palavra vaca se repetir diversas vezes em minha mente.
– Eu sabia o quanto sua mãe era cuidadosa com a sua imagem, sabia que ela faria de tudo para calar qualquer um que falasse ou comentasse sobre a matéria. Eu sabia que ela a protegeria da mídia. Mas eu não sabia que os alunos da nossa sala fariam aquele discurso em nossa formatura, eu não sabia que eles iriam contar tudo para todos ali. Se eu soubesse eu...
– Teria feito tudo igual.
Um suspiro saiu de seus lábios. Hailey jamais admitiria, mas ela faria sim tudo igual caso tivesse a oportunidade de mudar meu passado. Até porque, infelizmente, ainda conheço a amiga que tive.
– Não vou pedir seu perdão, pois sei que nunca vou merece-lo. Apenas desejo que possa me entender, por isso implorei aos meus pais que me matriculassem novamente nessa escola. Precisava te dizer essas coisas, contar o meu lado da história e agradeço por ter me escutado. Prometo que depois do baile irei embora, você nunca mais terá que me ver de novo.
Ela então se levantou da cama e caminhou tranquilamente até a porta do quarto. Pude quase ouvir um aleluia de um anjo.
– Há pessoas que ainda se importam com você, Rachel. Supere o passado, e viva um futuro ao lado delas.
Com isso, ela foi embora. E ao escutar a porta se fechar, eu desabo. Permito que as lágrimas molhem meu rosto e minhas cobertas, permito que os soluços saiam da minha garganta. Me permito desabar enquanto suas palavras ecoam por minha mente. Cada. Uma. Delas.
Após longos minutos de puro sofrimento, me acalmo um pouco. Até porque, não há mais lágrima alguma para cair. O barulho da porta do quarto se abrindo chama a minha atenção, me fazendo secar meu rosto molhado rapidamente.
Mas meu coração logo relaxa, ao ver uma cabeleira ruiva parar na minha frente.
– Amiga Rachel, pelos céus! O que aconteceu com o seu rosto? – perguntou assustada, analisando meu rosto. Pela sua reação, ele deve estar todo vermelho e inchado. Malditas lágrimas!
Apenas dou de ombros, forçando meu corpo a deixar a cama confortável.
– Não aconteceu nada. – minto. – Agora venha, me ajude a queimar esta roupa de cama.
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BROKEN HEART
RomanceQuem poderia imaginar que uma simples cerveja ruim e uma balada nova na cidade, poderiam mudar tanto a vida de alguém? Bom, Garfield e Rachel não imaginavam, mas foi exatamente isso que aconteceu. # 1 - bbrae (14/01/24) # 2 - bbrae (07/01/24) # 3...