PRÓLOGO

137 22 29
                                    

- Hoje a noite vai ser bem puxada, amiga! Parece que teve um acidente na via principal com um ônibus e um carro e tem muitos feridos. - Alê avisa, assim que desliga o telefone da recepção do hospital geral onde trabalhamos. - Vamos logo para a área de emergência que as ambulâncias já estão chegando.

- As ambulâncias? - Pergunto perplexa e ela, que sempre tem um sorriso acolhedor no rosto, meneia a cabeça tensa.

Alessandra e eu somos cariocas, do bairro da Lapa, mas moramos numa cidade interiorana, do estado do Espírito Santo, após passarmos num concurso público e conseguirmos uma vaga no hospital geral da pequena cidade. Demos muita sorte por conseguirmos trabalhar no mesmo lugar e por causa disso decidimos morar juntas. Isso já tem cinco anos.

O lugar é bem pacato, quase não tem incidentes e até vamos a casa de alguns pacientes idosos e pessoas impossibilitadas de se locomoverem até o hospital, a fim de mantermos seus cuidados e exames em dia, a fim de terem boa saúde.

Não há muito o que fazer por aqui e Alessandra fica para morrer quando tem de ir à cidade vizinha para conseguir dar um único beijo na boca. Ela tem um fogo muito grande e sempre reclama dos homens dessa cidade que são, em sua maioria, casados ou velhos. Os poucos solteiros que vivem aqui, trabalham na delegacia ou no hospital. E minha amiga já saiu com quase todos.

Eu, por outro lado, desde que vim para cá me relacionei com apenas um, Diego Alencar, que é o filho do delegado e está se formando em direito. Este é o último semestre dele e logo começará a trabalhar com o pai na delegacia. Não somos namorados, mas sempre ficamos quando ele vem de São Paulo para visitar a família.

Embora insista diuturnamente para que eu o aceite como meu namorado e assim vá conhecer sua família formalmente, já que sabem que saímos, eu ainda não estou preparada para compromissos. Nem sei se pelos próximos cinco anos da minha vida quero compromisso com alguém. Meu foco neste instante é olhar para mim mesma.

E sei que não é egoísmo, apenas amor próprio.

Enfim, esta cidade é bem tranquila, em vista da cidade do Rio de janeiro, de onde eu vim. Tudo sempre muito quieto, tranquilo e numa paz que chega a ser absurda. Todos definitivamente se conhecem, como numa vizinhança unida. Um grande contraste com o lugar que eu nasci. Um acidente desse, certamente deixa todos assustados.

- O que será que causou? - Indago, caminhando ao lado dela, até a entrada de emergência, para onde serão levados os pacientes. Todos os enfermeiros foram convocados para ficar a postos.

- Não foi falado, mas sinto que não foi nada bonito. - Responde.

Assim que cruzamos a grande porta, os maqueiros já estavam colocando os feridos da primeira ambulância em cima das macas. Pelo que posso ver, há bastantes crianças e mulheres. Começamos a fazer triagem dos acidentados, para ficar mais fácil cuidar, de acordo com a gravidade. Alessandra, por ser da área de pediatria, começou a cuidar das crianças, deixando os idosos para mim. Uma outra enfermeira, juntos com alguns técnicos em enfermagem, saíram para cuidar de outros feridos. Como minha amiga bem falou, teremos muito trabalho hoje.

(...)

- Seu braço teve apenas uma luxação. Tomando a medicação corretamente, vai melhorar logo. E o senhor também. - Falo para o marido de dona Dolores. Uma senhora que sempre aparece no hospital para poder pegar seus remédios para tratamento de diabetes, juntamente com seu marido João.

O ESTRANGEIRO Onde histórias criam vida. Descubra agora