SAFIRA IVANOV SOROKIN
ATUALMENTE, 2024Eu não parava de rolar para um lado e para o outro da cama. O colchão parecia ser diferente do meu, até a coberta que eu estava usando, mas não liguei muito para isso. Eu sabia que tinha que acordar logo, mas simplesmente não queria. O cansaço da noite anterior ainda estava pendendo em meus ombros, meu peito doía como se eu tivesse passado um grande período do tempo morta, e só agora, pouco a pouco, eu estivesse voltando a respirar e o corpo tivesse que se acostumar novamente com o movimento.
Virei para o outro lado, esticando meu braço sabendo que encontraria o outro lado da cama vazio, mas não foi isso que aconteceu.
Ao invés de encontrar vazio, minha mão encontrou o corpo de alguém. Ainda com os olhos fechados, passei a mão pelo corpo da pessoa, era um abdômen musculoso, subindo e descendo enquanto a pessoa ao meu lado respirava. Dei um meio sorriso presumindo que era Tate. Eu não sabia como tinha vindo parar em casa, mas lembrava de ter lhe mandado algumas mensagens enquanto bebia umas bebidas com Rebekah antes de irmos para a pista de dança novamente.
Ele provavelmente foi me buscar e ficou para ver se iria ficar realmente bem. Esse simples pensamento me fez sorrir como uma tola.
Desci as mãos por seu corpo, acariciando seu braço e em seguida seu abdômen até chegar onde deveria estar sua cueca. Fui surpreendida ao ver que ele estava de calça de pijama mas não deixei isso me parar. Eu me aproximei do corpo dele, ainda com meus olhos fechados, apenas apreciando esse momento. Comecei a abaixar sua calça, mas ele parou.
— Você acorda animada desse jeito todas as manhãs, Little Volk? — ele segurou o meu pulso enquanto o sentia respirando cada vez mais rápido.
Little Volk?
Abri meus olhos imediatamente e olhei para cima, vendo o sorriso malicioso que Aiden estava dando para mim. Dei um grito e o chutei, fazendo com que ele caísse da cama e puxei a coberta para mim, cobrindo o meu corpo. Ele xingou algumas vezes e eu olhei para os lados em busca de algo para jogar nele, não encontrei nada de útil. Onde estavam minhas coisas? Onde estavam Mischa e Yelena?
Peguei o travesseiro em que o mesmo estava repousando a cabeça a um minuto atrás e me mantive em posição para jogá-lo nele se precisasse.
— Como você entrou no meu quarto? — perguntei.
— Seu quarto? — ele riu. — Você está na minha casa.
— Sua...casa? — perguntei confusa.
Olhei ao redor vendo que realmente não era o meu quarto. O lugar tinha paredes totalmente brancas e o teto não tinha o luar pintado igual ao meu quarto, tudo era diferente mas mesmo assim não baixei minha guarda.
— Porque eu estou na sua casa?
— Você estava passou mal durante a festa, achei melhor te trazer para cá do que levava para casa, e deixá-la desacordada no meio da rua. — ele explicou enquanto se levantava e sentava na cama, me dando espaço. — Não se lembra? — eu poderia jurar que na sua voz tinha um tom de preocupação, mas não me deixei iludir.
Procurei em minha mente as lembranças da noite passada. Eu lembrava de Bekah dormindo bêbada na mesa do bar, de Aiden dizendo que a levaria para o carro e que estaria me esperando, eu só tinha ido ao banheiro. Mas de repente ele apareceu, e eu não consegui fugir. Ele era o mar, e eu era a pessoa que sempre seria engolida pelas suas ondas, não importasse o quanto eu tentasse nadar contra a corrente.
Ninguém pode fugir do mar, assim como eu não fugiria dele.
— Lembro um pouco, deve ter sido a bebida. — menti, me encolhendo um pouco. — Não estou acostumada a beber.
— Mentirosa! — ele me acusou. — Eu sei o que estava acontecendo com você Safira, já tinha visto algo similar acontecer. — ele engoliu em seco. — Seu grito...
— Eu não gritei. — interrompi. — Pessoas bêbadas vêem e fazem coisas consideradas estranhas o tempo todo, foi somente isso Aiden.
Ele apenas me encarou em silêncio, esperando que eu dissesse algo. Queria dizer para parar de me olhar daquela maneira, era estranha e desconhecida, me fez pensar que eu deveria estar com o rosto todo amassado e o cabelo bagunçado, ele provavelmente iria me zoar por isso. Me mexi desconfortável, mas então olhei para meu corpo debaixo da coberta. Eu estava apenas de calcinha e uma blusa branca, nem meu sutiã estava comigo. Olhei para ele confusa, prestes a surtar, pensando no que eu tinha feito.
— Nós do-dois... — gaguejei. — transamos on-ontem à noite?
— Claro que sim, porque você acha que está na minha cama? — ele abriu ainda mais um sorriso batendo em seu colo. — Agora venha para o colo do papai, lobinha. Irei te ensinar como ter bons modos.
Eu iria me matar.
Fiquei parada incrédula olhando para ele, eu nunca transaria com Aiden Annenberg Thompson, era uma questão de orgulho e honra. Orgulho esse que agora parecia ter sido jogado pela janela. Eu estava prestes a me estapear quando Aiden começou a rir, sua gargalhada tomando conta de todo o ambiente.
— Eu deveria ter fotografado esse momento. Você estava prestes a ter um colapso nervoso. — ele continuou rindo.
— Então não transamos? — perguntei confusa
— Óbvio que não. Você estava cansada Safira, dormindo. Eu nunca tocaria em você. — disse ele se levantando indo em direção ao guarda roupa.
— Mas porque não estou com o meu vestido?
— Antes de capotar novamente, você disse que precisava tirá-lo, que estava se sentindo presa. Então te dei uma blusa minha e você se trocou no banheiro. — ele apontou para a porta entreaberta.
Encarei ele, semicerrando os olhos, desconfiada de sua história. Mas eu não estava sentindo dor ou estranha de nenhum modo, sem falar que se algo realmente tivesse acontecido, eu teria acordado já que não estava bêbada o suficiente para ficar desacordada. Estava apenas cansada e assustada. Aiden pegou uma calça preta e a jogou em cima de uma escrivaninha com poucos livros, depois me observou.
— Não me olhe como se eu fosse um predador sexual. — ele rosnou.
— Porque você dormiu na cama? — minha pergunta parecia uma acusação.
— Porque eu prometi para você que não a deixaria sozinha. — ele soltou um suspiro. — Eu nunca tocaria em você Safira, ou em qualquer outra pessoa sem consentimento.
Me senti mal por fazer Aiden achar que ele poderia ter feito algo comigo. Mas não se tratava dele, eu não conseguia confiar em homens depois de Micah. O único que tinha minha confiança completa era meu avô, exceto ele, todos os homens sendo amigos ou não, eram possíveis predadores apenas esperando que eu baixasse a guarda.
— Me desculpe, não se trata de você. — disse me aproximando do pé da cama, ainda enrolada na coberta. — Eu...uh... — murmurei. — Obrigada por me trazer pra cá e cuidar de mim.
O gosto das palavras era como areia na minha boca, não lembrava a última vez que tinha dito isso para alguém. Eu não gostava que cuidassem de mim, ao contrário, eu tinha o dever de cuidar e proteger as pessoas com quem me importava, não importava o que acontecesse. Era estranho que Aiden tenha sido a primeira pessoa a cuidar de mim em muito tempo. Ele parecia entender isso, porque ao invés de dizer alguma bobagem, só deu um sorriso amigável.
— Porque você não toma um banho primeiro? Posso pedir para Rebekah algumas roupas emprestadas.
— Não precisa. — me levantei. — Você poderia me emprestar uma calça e outra blusa? Também não sei onde posso ter deixado meu sutiã.
— Está no banheiro. — ele abriu o armário novamente e pegou uma camiseta preta, colocando junto com a calça em cima da escrivaninha. — Aqui esta pequena loba.
A escrivaninha estava afastada da cama, e tive a impressão que Aiden tinha feito isso de propósito para que eu tivesse que correr até lá apenas de calcinha e blusa branca. Sua blusa era enorme mas mesmo assim não queria fazer isso. Queria xingá-lo, mas me controlei, tirei o lençol de toda a sua cama e enrolei ao redor do meu corpo, cheguei perto de onde ele estava e peguei as roupas em uma mão. Olhei para sua cara e vi que ele segurava uma risada. Idiota.
Sai correndo para o banheiro, no momento em que fechei a porta ouvi sua risada no quarto. Larguei o lençol no chão, e tirei o resto das roupas que restavam, e olhei para frente me surpreendendo ao ver um chuveiro e banheira que caberia facilmente duas pessoas ali. Entrei debaixo do chuveiro, deixando com que a água gelada caísse em meus cabelos e em meu corpo, me fazendo despertar. O boxe estava com vários tipos de shampoos, condicionador e sabonetes, franzi o cenho analisando e despejando em minha mão um deles antes de soltar uma risadinha.
Aiden não tinha um estilo todo arrumadinho como um dos modelos que vemos nas capas da Vogue, mas mesmo usando gravatas folgadas e tortas, suas roupas tinham uma identidade. Ele não era como os caras riquinhos da cidade que andavam de camisa polo e calça branca, com um boné ridículo na cabeça como se estivessem sempre preparados para o golfe. Não.
Aiden parecia ser um terremoto, e não tinha como alguém sair vivo disso, se ele não quisesse.
Sai do chuveiro secando meu corpo e meu cabelo, Aiden tinha colocado uma cueca boxe dele para que eu vestisse, e agradeci mentalmente por isso. Vesti suas roupas, sentindo um cheiro doce vindo delas, presumi que seria o seu cheiro normalmente. Peguei o vestido que Bekah tinha emprestado na noite passada e sai do banheiro, vendo que a cama já estava arrumada e Aiden estava apenas esperando eu sair, para que pudesse entrar e tomar banho.
— Obrigada. — a palavra ainda tinha gosto de areia. — Pode me dizer onde é o quarto da Rebekah? Quero devolver o vestido.
— Fim do corredor, vire a direita e depois a esquerda. A porta do quarto dela tem enfeites de filme. — ele passou por mim e se trancou no banheiro.
Lá vamos nós.
Saí do quarto sem nenhuma decoração de Aiden e comecei a andar pelo corredor. Tinham mais algumas portas e enquanto eu caminhava, pude observar um quadro pendurado entre dois abajures na parede. Era "Fallen Angel", umas das obras mais famosas de Alexandre Cabanel de 1847, eu sabia que essa não poderia ser a original, porque seu lugar pertencia a Paris, não a uma cidade pequena.
A pintura representava um anjo caído como o próprio nome fala. No cristianismo, Lúcifer era conhecido como o diabo, mas poucos sabem que ao invés de ter nascido mal, ele se tornou assim. Uma das histórias diz que Lúcifer amava a deus, mais do que amava a si próprio, mas um dia foi surpreendido com a nova criação de seu pai, nós, os pequenos homo-sapiens, mortais. Quando Deus pediu para que todos os seus filhos, anjos e arcanjos se ajoelhassem, adorassem e protegessem a humanidade mais que a ele, Lúcifer disse não.
E aí a guerra começou.
Eu era suspeita para falar sobre o assunto. Lúcifer e eu tínhamos histórias parecidas. Ambos adoramos, amamos e mataríamos por nossa família. Ambos fomos rejeitados e julgados de forma errada, mesmo quando estávamos certos no fim das contas. E ambos acabamos nos perdendo. Nos tornando algo sombrio para que pudéssemos sobreviver mais um dia. Às vezes temos que fazer coisas horríveis, para que no final elas não aconteçam com quem protegemos, e esse era um preço que eu estaria sempre disposta a pagar.
Desviei o meu olhar da pintura e virei a direita e logo depois a esquerda, a porta branca do quarto estava com um pequeno boneco do bebê Yoda de Star Wars, dei um sorriso lembrando que ela gostava de toda a trilogia dos livros e bati na porta. Ninguém respondeu, abri a porta colocando a cabeça para dentro e observando o local. O quarto de Rebekah era diferente do de Aiden. Enquanto o do mesmo era branco e sem vida, quase me lembrando o quarto de um hospital, o de Bekah era colorido e vivo, com pôsteres e algumas pelúcias de enfeite.
Deixei o vestido em cima da cama dela e sai imediatamente, voltando para o corredor até o quarto de Aiden. Quando entrei no cômodo, pude ouvir que o chuveiro ainda estava ligado e como não queria atrapalhar mais que o necessário, comecei a procurar meus sapatos que deveriam estar aqui. Os achei no chão, do outro lado da cama, vesti a bota coturno rapidamente e sai do quarto, andando novamente pelo corredor até chegar às escadas duplas que levavam para o piso térreo.
Assim que cheguei a enorme sala com detalhes dourados, como se fossem feitos de ouro, e parte de mim realmente achou que eram. Passos começaram a vir em direção a sala, por instinto quase me escondi, mas decidi por não fazê-lo caso me achassem e presumissem que eu estava espionando. Algo que também era do meu feitio. Uma mulher de cabelos cor de chocolate entrou na sala, parando de falar assim que me notou no lugar, em seguida outra pessoa apareceu, desta vez um homem com aparentemente cinquenta anos. Os dois pareciam um casal, e se eu estivesse certa, chutaria que eram os pais de Aiden.
— Está atrasada, a entrada dos funcionários é pelos fundos. — disse a mulher com desdém. — E porque você não está com uniforme, garota?
— Eu não trabalho pra você. — minha voz era fria.
— Então por que está aqui? Uh? — questionou o homem. — Não me diga que te deixaram entrar assim, nós só fazemos caridade no final do ano garotinha. Talvez você devesse voltar depois. — ele falou com um sorriso, mas percebi seus olhos analisando todo o meu corpo.
— Não vim para caridade.
— Safira. — Rebekah chamou entrando no cômodo. — Eu sabia que tinha ouvido a sua voz. O que está acontecendo? — perguntou olhando entre mim e seus tios.
— Da onde conhece essa garota? — sua tia a interrogou, precisei de todo o meu autocontrole para ficar quieta e não lhe colocar em seu lugar.
— Somos amigas, nos conhecemos na escola, tia. — Bekah disse em um tom cansado.
— Claro, seria o único lugar para você conhecer esse tipo de pessoa. — o homem voltou a se pronunciar.
— E que tipo de pessoa seria essa, senhor Thompson? — perguntei cruzando os braços.
O casal mais velho se entreolhou e soltaram uma risadinha, e depois voltaram sua atenção para mim, que nunca parei de encará-los. A mulher somente apontou minhas roupas, que na verdade eram de seu filho. Eles presumiam que eu era pobre só pela minha roupa? Não eram os primeiros e não seriam os últimos.
— Sou Safira Sorokin, neta de Mikhail Berdinazzi Sorokin. — dei um passo para frente.
— Sorokin? — o homem engoliu em seco olhando para sua esposa.
— Perdão Safira, não sabíamos que era neta do senhor Mikhail. — ela deu um sorriso raso e falso. — Ele é um antigo amigo da família.
— Eu conheço todos os amigos de meu avô, e vocês nunca estiveram nessa lista. — dei de ombros e encarei a mulher. — Somente amigos me chamam de Safira, senhora. Para vocês é a Senhorita Sorokin, eu gosto de boas maneiras. — dei um sorriso falso igual o seu anterior.
Vovô era a pessoa mais importante dessa cidade, e a mais misteriosa, poucas pessoas o viam e tudo que sabiam de nós era no mínimo ruim. As pessoas me olhavam com essas roupas e presumiam que eu ligava para suas opiniões vazias, quando na verdade não sabiam cuidar da sua própria vida. Mikhail tinha me ensinado a não sentir vergonha de mim mesma e não abaixar a cabeça. Eu não me vestiria como uma Barbie, só porque os outros achariam que eu devesse. Eles poderiam se foder.
— Todos gostamos, Srta. Safira Sorokin. — o homem se aproximou sem jeito.
— Meu nome é Albert e essa é minha esposa Grace, somos o pai de Aiden e como já deve saber, tios da nossa querida Rebekah.
— Sei quem são. — foi a única coisa que eu disse antes de voltar para o lado de Rebekah.
Ela estava tentando ocultar um sorriso, mas eu conseguia ver que ela estava muito feliz por ter seus tios nervosos pela minha presença. Antes que eles pudessem dizer mais, a mesma pegou a minha mão e me levou em direção a cozinha, onde tinham duas cozinheiras fazendo os cafés da manhã e os levando para a mesa na sala de jantar. Três bolos diferentes estavam em cima da bancada, junto com vários tipos de sucos feitos de café. Fiz uma careta sabendo que eles não comeriam nem um terço daquilo, mas pelo o que vi dos senhores thompson 's, não aceitariam menos.
— Vou fazer alguns ovos, aceita um? — perguntou Bekah.
Acenei com a cabeça e ela começou a pegar os ingredientes e a panela, uma das cozinheiras disse que faria se ela quisesse mas Bekah recusou gentilmente. Seus pais eram chefes de cozinha, ela gostava de colocar as mãos na massa. Sentei no banquinho da bancada e algumas das cozinheiras ficaram curiosas, eu não poderia estar na cozinha?
— Não prefere sentar na mesa senhora? Fizemos um enorme café da manhã. — uma delas disse para mim com um sorriso.
— Aqui está muito bem, obrigada. — sorri. — Não precisam me chamar de senhora, me chamem de Safira. — pedi.
— Sim senho-, quer dizer Safira. — disse a outra um pouco atrapalhada.
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⤿❜☾︎⋆໋𝕸𝗬 𝕾𝗛𝗔𝗗𝗢𝗪ᵎ・῾ (+18)
Lãng mạn° ㅤ ៚🍒ˎˊ˗ 𝐒𝐀𝐅𝐈𝐑𝐀 é umɑ gɑrotɑ sem esperɑnçɑ, com somente um objetivo. Elɑ sɑbe o que quer, e o que precisɑ fɑzer pɑrɑ consegui-lo, entretɑnto, elɑ nα̃o o fɑrά ɑté que todos em suɑ vidɑ estejɑm mortos. Elɑ nα̃o se vê como umɑ pessoɑ, e s...