C A P Í T U L O 18

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              𝆥𝆤͓AIDEN THOMPSON
ATUALMENTE, 18 ANOS

                 O meu primeiro encontro com a morte, foi quando Juliett morreu. Até hoje consigo me lembrar da aparência de seu rosto frio, dentro do caixão. Parecendo tão sereno e calmo, mas ainda assim tão revoltado.
                 Minha irmã mais velha se matou quando eu tinha seis anos. Por mais que eu não lembrasse de todas as coisas ao seu respeito, conseguia lembrar de seu cabelo loiro curto, cortado na altura dos ombros. De seus olhos verdes, hipnotizantes, iguais aos de um gato.
                 Juliett era minha alma e coração. Ainda tenho pequenos vislumbres de como foi encontrá-la em seu quarto. Eu passei horas ao seu lado, cutucando-a, murmurando palavras que seriam o seu nome até alguém aparecer e me tirar de lá. Naquela época eu poderia não entender, mas já conseguia sentir que a tinha perdido para sempre.
                 Doze anos depois, estou aqui, no mesmo impasse, sentindo as mesmas emoções. O coração acelerado, a ansiedade em não saber o que está acontecendo.
                 Já fazia horas que Safira estava dentro do quarto, com os médicos acompanhando seu estado. Mikhail e Morticia já estavam no hospital quando nós chegamos na ambulância, eles tinham acompanhado todo o procedimento que estavam fazendo com ela de perto.
                 Depois de algumas horas, o senhor Sorokin veio falar comigo. A polícia tinha constatado que o incêndio tinha sido criminoso, e que a escola ficará fechada até segunda ordem por conta dos danos.
                 Rebekah ficou ao meu lado todo tempo, suas pernas não parando de tremer enquanto ela mordiscava a unha em busca de se acalmar. Mas quanto mais ela fazia isso, mais ansiosa ficava.
— Ela vai ficar bem. — ocasionalmente Bekah murmurava. — Safira é forte, certo Aiden?
— Certo. — eu respondia meio alheio enquanto tentava permanecer calmo.
                 Depois de mais horas de espera, um barulho alto soou, fazendo com que eu abrisse os olhos e percebesse que eu e Rebekah tínhamos caído no sono, felizmente a mesma não tinha acordado. Aproveitando que Bekah estava com a cabeça encostada na parede enquanto dormia, me levantei e decidi ir em direção ao barulho.
                 Ele vinha da UTI.
                 Quanto mais perto eu chegava, mais alto o barulho ficava. Parei, dando de cara com uma porta trancada que só poderia ser liberada com acesso de um cartão mas antes que eu pudesse desistir, médicos correram pelo corredor, passando pela porta e liberando o acesso. Não hesitei. Entrei sem perguntas ou respostas.
                 Abaixei a cabeça enquanto andava pela UTI, observando enquanto todos corriam em direção a um quarto em especial. Me aproximei o máximo que pude e nada me preparou para o que eu estava prestes a encontrar.
                 Tate estava em cima de Safira, fazendo massagem cardíaca nela enquanto as enfermeiras ligavam o desfibrilador.
— Desfibrilador em três...dois... — ele começou a contagem, continuando a massagem. — Um. Agora.
                 Tate se afastou e colocaram o desfibrilador contra o peito de Safira, fazendo a mesma dar um pulo enquanto levava o choque em seu corpo. Olhei para o monitor. Somente uma linha reta a mostra, até que aos poucos, a linha reta subiu e desceu, mostrando que os batimentos estavam voltando ao normal.
— Ótimo, conseguimos fazer ela voltar. — disse Tate para a junta médica. — Precisamos entubar ela novamente.
                 Ele começou a dar ordens e senti uma mão em meu ombro. Me virei, pensando em ver um segurança ou até mesmo alguma enfermeira, mas me surpreendi ao ver o avô de Safira.
— Você ainda está aqui. — disse ele, parecendo um pouco surpreso.
— Não vou sair até que Safira acorde, minha prima também não.
— Vocês crianças... — ele soltou uma risada antes de olhar para o quarto, onde sua neta estava sendo cuidada. — Minha neta é forte, não será um incêndio que vai lhe deter. Essa garota ainda mandará muita gente para cova, antes de desistir.
— Falando assim até parece que tem certeza.
— Eu tenho. — ele diz, com toda convicção do mundo. — Porque está aqui Aiden?
— Quero ter certeza de que ela ficará bem. — digo em voz baixa.
                 Mikhail não diz nada enquanto me observa. Aquela calmaria e semblante misterioso que sempre me assustaram quando eu era criança. Conhecendo-o como eu conhecia, eu quase poderia dizer que as engrenagens de seu cérebro estavam trabalhando a todo vapor enquanto ele me analisava.
— Ainda está apaixonado por ela? — ele perguntou, com as mãos no bolso de seu terno.
— Não vejo o dia em que não estarei. — confessei.
— Então talvez você deva confessar isso a ela. — ele diz, meneando a cabeça em direção ao quarto, onde Tate estava sentado na cama sussurrando algo para uma Safira inconsciente. — Ou outro fará isso primeiro.
— Você sabe que eu não posso. — é tudo que eu digo.
— Pela sua família? Porque acha que irá manchar Safira? — ele se aproxima de mim, colocando a mão em meu ombro. — Caia na real garoto. Safira sobreviveu a Micah, e ainda está aqui. Não é escolha sua deixar ela aceitar seu segredo ou não, é escolha dela.
                   Mikhail está certo. Eu me afastei de Safira por um motivo: minha família. Acreditava que ela não estaria segura, quis protegê-la, mas a questão é que Safira não precisava ser protegida.
                   Ela era uma mulher forte, mesmo quando ainda era Enola. Ela sabia escolher suas próprias batalhas e não desistia delas até ganhá-las. Safira era o tipo de pessoa que Juliet amaria, talvez por esse fato ela se desse tão bem com Rebekah no final das contas.
— Agora vá. — Mikhail pediu. — Você está com uma cara horrível e precisa descansar. Safira não acordará agora.
— Não posso voltar para casa, meu pai...
                   Eu sabia como meu pai usaria a notícia do incêndio na escola a seu favor. Ele provavelmente estaria com uma coletiva na prefeitura nesse exato momento, apenas esperando eu ou Rebekah chegarmos em casa, para se apresentar como o pai e tio extremamente preocupado que não era.
— Vá para Verenmon. — ele disse, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. — Eu te deixei nas mãos de seu pai uma vez para protegê-la, não o deixarei de novo. Verenmon é seu refúgio, e de sua prima se ela também quiser.
                   Continuei olhando para o homem à minha frente. Mikhail, o cara que não me conhecia direito mas que mesmo assim estava estendendo sua casa para mim.
                   Isso fez meu coração apertar. Dos sete até meus onze anos, mesmo Mikhail não sendo muito sociável, ele se esforçou para tentar ser legal comigo. Sempre contando histórias para Grace, Safira e eu. Nos ensinando outras línguas e mais importante, me defendendo de minha mãe quando mas ninguém o fazia.
                   Olhei para ele. Rosto fechado, nenhum vestígio de sorriso, mas os olhos demonstravam uma emoção que nunca tinha visto neles até então.
                   Compaixão.
— Meu pai descobrirá, sabe que Jack não para até ter o que quer.
— Sei de algumas coisas que são capazes de pará-lo.
— Ainda não é a hora.
— Mesmo assim, preciso de alguém de confiança para levar Morticia para casa. Confio em você e gostaria que fizesse esse favor para mim. — eu estava prestes a recusar a proposta quando ele insistiu: — Ficarei com Safira, Aiden. Assim que ela acordar, o chamarei.
                   E antes que eu pudesse confirmar ou negar, ele me deu as costas. Morticia caminhou em minha direção, passando as mãos por minhas costas enquanto saímos da UTI e voltávamos a andar pelo corredor.
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                    Rebekah e eu passamos a noite na propriedade do senhor Sorokin. Meu pai tinha deixado várias mensagens de voz, uma mais ameaçadora do que a outra. Eu sentia que ele estava perdendo o controle aos poucos por não ter seu filho e sua sobrinha sobreviventes ao seu lado nas manchetes.
                    Mas eu não me importava.
                    Tudo que importava nesse momento era Safira, e não "se", mas quando ela ficaria bem.
                    Acordei cedo no dia seguinte, deixando Rebekah dormir mais um pouco em um dos quartos de hóspedes que a Sra. Miller tinha nos colocado. Antes que qualquer uma das duas pudesse acordar, deixei um bilhete com a empregada e peguei a limusine que o senhor Sorokin tinha deixado para me levar ao hospital.
                    Eu não sabia o que esperar assim que chegasse lá. Esperava ver uma Safira mandona, afastando qualquer pessoa que tentasse tocar em si para longe.
                    Mas o que eu encontrei foi algo bem diferente.
                    Safira estava deitada em uma cama de hospital, o corpo completamente paralisado enquanto Tate estava sentado na cama, segurando a sua mão sob a vigília de um Mikhail atento.

⤿❜☾︎⋆໋𝕸𝗬 𝕾𝗛𝗔𝗗𝗢𝗪ᵎ・῾ (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora