SAFIRA IVANOV SOROKIN
ATUALMENTE, 18 ANOSAiden e eu continuamos em um silêncio desconfortável, nós dois dentro da água, sentindo que ela ficava cada vez mais fria com a falta de nossos movimentos. Abri meus olhos e voltei a olhar para o céu, a manhã já tinha ido e a tarde já estava acabando, eu tinha que voltar para casa. Sem dizer absolutamente nada, nadei até onde estavam nossas roupas e sai de dentro do pequeno riacho. Estranhamente, a timidez e aversão que sempre sentia quando estava praticamente nua na frente de alguém não voltou, ela deveria, já que mesmo não olhando para Aiden, eu sabia que o mesmo apenas estava fingindo não me olhar. Típico.
Enquanto acabava de colocar minha calça, o Thompson saiu da água, vindo em minha direção. Assim que passou pelo meu lado, ficando quase em minha frente, nossos ombros se tocaram e eu levantei o meu olhar, passando pelo seu abdômen bem definido, pescoço e finalmente seu rosto. As pupilas de Aiden estavam dilatadas. Seus lábios minimamente separados. Cabelos molhados, revoltados, caindo um pouco nos olhos. Eu conseguia sentir sua respiração em meu rosto, ficando cada vez mais intensa.
Dizer que seu rosto estava perfeito, seria no mínimo um insulto. De repente me veio à mente, uma pintura. O rosto de Aiden pintado em carvão, pendurado na galeria de Veermond. Mas chutei essa ideia de minha mente assim que lembrei de quem realmente estava na minha frente, eu não deixaria aquela história que ele tinha contado, mexer com a minha cabeça. Tentei passar por ele, mas o mesmo agarrou meu braço novamente, finalmente sua pele entrou em contato com a minha.
Qual era o fetiche desse cara por agarrar?
— Por que você está sempre fugindo de mim? — ele perguntou, olhando em meus olhos como se pudesse desvendar algo ali. — Por que mesmo depois de lhe contar a verdade, tem medo de mim?
Fúria invadiu meu corpo e tomou conta da minha mente. Ele não me conhecia. Seja lá quem ele quem ele achava que era sua amiga de infância, ela não estava mais aqui. Estava morta. E continuaria assim.
— Eu não fujo de você, e muito menos tenho medo. — desvencilhei meu braço de seu agarre. — Você não é absolutamente nada para mim, eu não preciso e muito menos penso em você. Agora, se me permite eu prefiro ir embora do que continuar com essa conversa inútil.
Não terminei de me vestir. Peguei minha bolsa junto com o resto das minhas roupas e saí andando antes que ele pudesse ou falasse mais alguma coisa. Subi algumas árvores caídas no chão e caminhei por um pequeno caminho batendo os pés tentando controlar minha raiva.
— Medo dele? — indaguei. — Quem ele acha que é? Pennywise? — continuei falando comigo mesma. — Ele é apenas um garoto imaturo que não entende que nem todos precisam cair aos seus pés. — esbravejei.
Parei de andar, soltando um grito de frustração e deixando minhas coisas caírem no chão. Assim que olhei para baixo, me dei conta de que estava somente de sutiã e calça. Tudo culpa de Aiden. Peguei minha mochila e procurei meu maço de cigarro, desejando me acalmar, mas senti algo molhar minhas costas e logo já estava começando a chover. Xinguei baixinho olhando ao meu redor, vendo o chão cheio de terra começar a virar lama. O céu estava escurecendo e eu duvidava de que com esse tempo, conseguiria chegar a algum lugar ou voltar para a cachoeira, onde todos estavam.
Peguei novamente as minhas coisas e refiz o caminho de volta até o riacho, mas eu nunca conseguia chegar ao lugar. Parecia que não importava onde fosse, eu ainda estaria andando em círculos e voltando para o mesmo lugar. Um barulho veio à minha frente, coloquei a mão sobre a cabeça tentando olhar para ver quem era, mas a chuva só me atrapalhava.
— Aiden, se for você já vou te avisando que não estou com paciência para palhaçadas. — avisei.
O barulho apareceu de novo. Dessa vez mais próximo, fazendo com que os pêlos do meu corpo se arrepiasse prevendo o perigo iminente. Andei de costas, evitando dar as costas para quem quer que estivesse ali. Dei um passo em falso na lama e caí no chão, levando a mão até meu tornozelo enquanto sentia uma dor dilacerante nele. Novamente mais um barulho, e assim que olhei para cima, fui recebida com um chute na cara que fez com que meu pescoço quase quebrasse.
Levei minhas mãos até a minha cabeça, me encolhendo enquanto sentia uma dor de cabeça alucinante. Senti um agarre em meu tornozelo machucado, alguém começou a me arrastar pelo chão, fazendo com que alguns dos gravetos no chão entrassem em meu cabelo. Levantei a cabeça novamente, olhando a figura toda de preto me arrastando, comecei a lhe dar chutes com minha perna livre e quando ele se virou, pude reconhecê-lo.
O homem do meu pesadelo estava bem em minha frente. Ainda com a máscara dourada.
Me debati e quase consegui me soltar, mas ele agarrou o meu cabelo, esperei que ele batesse minha cabeça no chão como da última vez, mas ele não o fez. Ao invés disso me levantou, eu podia sentir um tufo de cabelo sendo arrancado do meu cabelo por conta da força, agarrei sua mão esperando diminuí-la, mas ele só puxou mais, saboreando meu sofrimento. Ele abaixou o capuz preto revelando ainda mais de seu rosto, seus cabelos estavam começando a ficar rapidamente molhados e o mesmo aproximou nossos rostos, fazendo com que eu sentisse seu hálito em minha cara.
— Achou mesmo que tinha conseguido se livrar de mim? — ele perguntou, a voz carregada com sotaque. — Na última vez que nos encontramos você me deixou um presentinho, achei que deveria te devolver o favor.
Ele tirou uma faca do que parecia ser um coldre, mas eu não conseguia ver, senti uma pontada de dor em minha barriga e em seguida algo sendo tirado dela. Ele me largou no chão. Fiz um esforço e consegui me sentar contra o tronco de uma das árvores que estavam ali, levei minha não até minha barriga e a mesma voltou manchada de sangue. Não me desesperei, não deixei com que ele visse nenhum vislumbre de medo. Apenas continuei com a mão no ferimento e fechei os olhos, me concentrando na dor e deixando que ela acordasse todo o meu corpo.
Eu fiquei mole, quase inconsciente, se o mascarado queria que eu reagisse tinha perdido sua oportunidade. Deixei que a escuridão me levasse, que as vozes na minha cabeça fosse embora junto com o sangue e senti alguém cutucando o meu corpo, assim que não teve resposta a pessoa me levantou, e colocou sobre o seu ombro, pressionando ainda mais o ferimento na minha barriga.
A dor poderia ser dilacerante, mas nela só encontrava conforto. Quando pequena, vovô sempre me dizia "a dor, supera a dor." Eu não entendia muito bem, mas assim que comecei a me machucar para não sentir as coisas ao meu redor, consegui entender. O senhor mascarado poderia me querer morta, mas uma das coisas que ele não sabia era que não há como você matar alguém que já está morto por dentro. Pessoas assim são capazes de fazer qualquer coisa e de suportar qualquer dor. Porque no final elas já estão tão machucadas, que nada as machuca.
Abri meu olhos, eu estava de cabeça para baixo enquanto ele me carregava para seja lá o lugar em que estávamos indo. Não ousei me mexer. Ele provavelmente estava achando que eu tinha desmaiado com a perda de sangue, e talvez pudesse, se não tivesse sentindo a adrenalina circulando por todo o meu corpo. Olhei para a faca com que ele tinha me apunhalado, pendendo na cintura, calculei a distância e se seria mais rápida que ele para pegá-la. Não tinha uma resposta certa, mas se eu não arriscasse e tomasse uma decisão, ele tomaria por mim. Então eu fiz a única coisa que sabia.
Eu lutei.
Me estiquei pegando a faca e logo lhe dando um chute no estômago. O mesmo se curvou, o que me deu passagem para dar uma cotovelada e conseguir sair de cima dele. O mesmo caiu no chão e antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, enfiei a faca no meio de seu peito.
— Parece que você é uma garotinha valentona. — ele colocou a mão em cima da minha e enfiou ainda mais fundo a faca em seu peito. — Mas ainda não é tão inteligente assim.
— Safira. — um grito veio de longe, me distraindo. — Safira.
O grito continuou e quanto mais alto e próximo ficava, mais eu conseguia indentificar quem era. Aiden estava gritando o meu nome. Mas se ele estava aqui…significava que tudo era verdade?
O homem tossiu sangue me trazendo de volta a realidade. Eu estava prestes a chutá-lo, quando ele me olhou com aqueles olhos vermelhos novamente.
De repente eu não estava mais na floresta. Não estava segurando uma faca enfiada em seu peito e muito menos sangrando. Eu estava viajando, podendo ver todas as minhas memórias na minha frente e ouvir todas as conversas. Aquilo tudo começou a me enlouquecer. Levei as mãos aos ouvidos implorando para que aquilo parasse, e assim que vi a lembrança daquele dia, apaguei.
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⤿❜☾︎⋆໋𝕸𝗬 𝕾𝗛𝗔𝗗𝗢𝗪ᵎ・῾ (+18)
Любовные романы° ㅤ ៚🍒ˎˊ˗ 𝐒𝐀𝐅𝐈𝐑𝐀 é umɑ gɑrotɑ sem esperɑnçɑ, com somente um objetivo. Elɑ sɑbe o que quer, e o que precisɑ fɑzer pɑrɑ consegui-lo, entretɑnto, elɑ nα̃o o fɑrά ɑté que todos em suɑ vidɑ estejɑm mortos. Elɑ nα̃o se vê como umɑ pessoɑ, e s...