C A P Í T U L O 14

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𝆥SAFIRA IVANOV SOROKIN
ATUALMENTE, 18 ANOS

Gritos.
Sangue em minhas mãos.
As luzes das viaturas.
Tudo estava voltando. Todas as memórias que eu tinha reprimido por três anos finalmente estavam de volta, e não de um jeito bom. Tive uma paralisia do sono. A primeira em um ano de tratamento. Lembro-me de querer chutar tudo ao meu redor, de querer gritar até ficar rouca e querer que alguém me ouvisse, mas isso nunca acontecia. Eu estava presa, enquanto o meu subconsciente me atormentava com as memórias de como matei Grace.
Eu não lembrava de como tinha chegado em casa. Mamãe e meu avô também não, eles disseram que eu deveria ter chegado no meio da madrugada e eu deveria estar consciente pois as câmeras filmaram a minha chegada, e tinha curativos pelo corpo. Os curativos eram estranhos. Eu não lembrava de tê-los feito, e muito menos de me machucar no dia anterior. A última coisa de que lembrava era de uma luta no meio da floresta. Com o mesmo homem sádico que tinha me atacado antes. Lembro de ouvir a voz de aiden me chamando, como se realmente estivesse preocupado com o meu destino. Lembro de olhar nos olhos do desconhecido e ver minha vida toda passar por meus olhos e em seguida cair em um abismo de escuridão. Onde tudo ficou absolutamente escuro.
A coisa sensata a se fazer seria deixar para lá e desabafar tudo na terapia, mas eu os conhecia, sabia que no momento em que a Sra. Smith visse que eu estava saindo do controle, me prenderia em um de seus hospitais e deus sabe lá quando eu sairia. Se, um dia eu sairia. Eu tinha que começar uma investigação, mesmo que fosse sozinha. Precisava saber se tudo que eu via e ouvia era verdade ou se estava pisando em um teto de vidro, prestes a cair.
Continuei encarando o livro que estava em minhas mãos sem realmente lê -lo. Vovô passou vários anos caçando e guardando vários livros de todos os tipos e assuntos, desde religiosos a romances erótico, claro que esse último era eu que tinha adicionado. Ele sempre me dizia que uma cabeça vazia, é um corpo vazio. Precisávamos de mais do que água e comida para nos sustentar, também precisávamos de conhecimento e algum lugar para fugirmos quando o mundo real ficava pesado demais. E era isso que eu fazia. Fugia para as páginas de livros e vivia a vida de mil personagens enquanto não podia viver a minha.
- Essa aqui é a nossa biblioteca, meu jovem. - a voz com sotaque de meu avô apareceu. - Acho que deve se lembrar. Silverwood nunca viu um lugar com tantos livros, não que precise já que a maioria dos jovens hoje em dia só vivem navegando nessas coisas tecnológicas de vocês.
Revirei os olhos. Vovô admirava a tecnologia e a odiava com a mesma intensidade, para ele, estávamos perdendo nossas vidas em frente a computadores, ao invés de vivê-las. Levantei do sofá em que estava e andei devagar e sorrateiramente até o final de uma estante com uma mesinha em frente. Espiei esperando ver com quem ele estava conversando, mas a única coisa que via era meu avô gesticulando formalmente com as mãos, ele parecia mais relaxado mas ainda assim alerta na presença da pessoa. Presumi que não poderia ser nenhum possível parceiro de negócios.
Me estiquei ainda mais podendo ver a cabeça da pessoa, quando tentei me esticar ainda mais acabei me desequilibrando e batendo no jarro de flores que tinha na mesinha. Minha mãe iria me matar.
Parei de respirar por um momento.
- Malêncha? - meu avô perguntou em russo.
- Sim? - minha voz era tímida quando respondi no mesmo idioma.
- Por favor apareça, não é legal se esconder de convidados, ainda mais em sua própria casa.
- Isso se chama evitar, e o senhor faz o tempo inteiro.
Ele deu risada e então o silêncio chegou, os dois estavam me esperando. Peguei o livro em cima do sofá e sai de trás da estante, me surpreendi ao perceber que a pessoa misteriosa com quem vovô falava, era Aiden.
- Olá, little volk.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei rispidamente.
- Eu o convidei. - vovô respondeu.
Encarei um Aiden sorridente em silêncio enquanto podia praticamente ver a diversão nos olhos de meu avô pela cena. Assim que essa visita acabasse, eu iria encher seu saco para nunca mais deixar o Thompson pisar nesse lugar.
- Vocês devem ter muito para conversar, vou deixar as crianças sozinhas. - vovô começou a caminhar até a porta, mas parou e disse para mim em russo. - Não o machuque muito, Malêncha. - e saiu.
Reprimi um sorriso e continuei olhando para o Thompson com minha cara fechada, esperando só que ele abrisse a boca para mandá-lo embora aos pontapés.
- Seu avô te chama de querida, que fofo.
- Saia.
- Sua mãe deve lhe chamar como? - ele começou a andar em minha direção. - Minha rosa? amor?
- Não te interessa, mas se continuar aqui pode ter certeza que vai ficar tão irreconhecível que a última coisa que iram te chamar é de Aiden. - ameacei.
- Ficando brava tão rápido? Acho que tenho grande influência sobre você Little volk. - ele ficou de frente comigo.
- Pare de me chamar assim, diga o que quer e vá embora.
- Eu quero você. - ele sussurrou.

⤿❜☾︎⋆໋𝕸𝗬 𝕾𝗛𝗔𝗗𝗢𝗪ᵎ・῾ (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora