SAFIRA IVANOV SOROKIN
ATUALMENTE, 18 ANOSFoi um alívio ter dois dias de descanso depois da semana turbulenta que eu tinha tido. Passei a maior parte do tempo lendo ou pintando, quanto mais pensamentos invadiam minha cabeça, mais eu pintava. Coloquei na tinta toda frustração e medo que eu tinha sobre Tate e eu. Coloquei a tortura e o terror que dominou meu corpo assim que Micah começou a falar comigo do espelho. Eu sabia que nada daquilo era real, e era consolador, mas ao mesmo tempo me fazia duvidar de tudo à minha volta.
O que mais não estava acontecendo, e eu achava que estava? As alucinações sempre estiveram aqui e eu só não tinha percebido isso ainda?
Eu precisava de respostas, mas não poderia falar com nenhum profissional sobre isso. Depois do acidente, eu fui obrigada a passar um mês em observação em uma clínica psiquiátrica em outra cidade. Vovô me colocou na melhor, e ele junto com mamãe sempre iam me visitar, eles queriam que eu não ficasse triste e sozinha, mas enquanto eu não conseguia sentir nada, eles sentiam tudo.
A clínica não era muito diferente de uma prisão.
As paredes, o quarto, os móveis, tudo era absolutamente branco, intocado, que te fazia sentir culpado por ter que tocar e deitar em cima dela. A comida era horrível, mas se você tampasse o nariz não iria conseguir sentir gosto algum. Brigas despertavam crises uns nos outros, fazendo com que em pouco tempo o lugar quase calmo, se tornasse uma selva e os pacientes eram os animais que não aceitariam ser enjaulados. Mas eu já tinha me acostumado com a jaula. Com os remédios me deixando dopada a maior parte do tempo. Com a sensação de conseguir sair do meu corpo, e me tornar só uma espectadora, assistindo tudo ao meu redor mas não conseguindo sentir nada.
A sensação de vazio me guiava. Eu precisava dela na maior parte do tempo, fazia com que eu não precisasse nem me esforçar para me machucar, já que eu mal sabia o que acontecia ao meu redor. Eu estava morta por dentro, mas ainda assim viva por fora.
Tirando mamãe e vovô, os únicos que tinham coragem suficiente para me visitarem eram os detetives e meu advogado. Eu conseguia notar que o último não se sentia muito confortável na minha companhia. Ficava ansiosa, não parando de mexer os dedos em nenhum momento e toda vez que algum barulho vinha de fora da sala, ele tomava um susto. O que só fazia eu achar graça da situação e começar a rir.
Os detetives pareciam já estar acostumados, afinal era o seu trabalho, e como o crime de que eu estava sendo acusada era um dos mais importantes na época por causa de toda repercussão, o próprio FBI foi encarregado pelo meu caso. Eles me visitavam duas vezes por semana, interrogavam os médicos do local, e depois passavam cinco horas na sala comigo, nenhuma hora a mais, e nenhuma a menos. Eram pontuais como sempre. O FBI queria respostas. Respostas essas que eu já tinha fornecido. Só duas testemunhas estavam contra mim, enquanto eu tinha mais do que isso ao meu favor.
Depois de algum tempo, simplesmente deixei que pensassem o que quisessem sobre o que tinha acontecido na história. O vazio me ajudava a não me importar com o resultado, nada realmente mudaria. Minha opinião não iria fazer diferença.
As pessoas acham que para ser declarado inocente de um crime, tem que ter provas a seu favor, mas em nossa realidade não era bem essa. Uma pessoa só pode ser inocentada se as pessoas ficam fascinadas pela sua história, o suficiente para lutarem ao seu lado. A minha não era tão fascinante e interessante quanto a mentira, e pouco a pouco as pessoas foram ficando ainda mais céticas sobre o que realmente tinha acontecido naquele dia.
Eu deveria ter pegado prisão perpétua com direito a pena de morte, mas graças a Dra. Smith e ao vovô, foi declarada inocente. Mikhail não acreditava no sistema penal de nosso país, ele já tinha assistido milhares de casos onde pessoas inocentes perdem anos de suas vidas em prisões, e quando saem percebendo que não tem mais nenhuma chance, realmente se tornam criminosos. Ele tinha contratado um investigador próprio, que esteve analisando o caso desde o dia que tinha acontecido, e já tinha todas as provas que precisavam para provar que eu estava falando a verdade. O FBI achava que ficariam famosos se eu fosse considerada culpada, até porque meu nome estava na boca das pessoas e estampado no jornal, mas quando vovô se uniu ao meu advogado e apresentou todo seu argumento, o juiz não teve outra saída senão me mandar de volta para casa.
Eu achei a situação engraçada naquele momento. Eu tinha dezesseis anos e nunca tinha beijado um garoto ou ido ao um encontro, mas poderia dizer que já tinha ficado trancada em uma instituição psiquiátrica e quase ser condenada a pena de morte por um crime que talvez eu tivesse parte da culpa.
Soltei uma risada baixa dissolvendo meus pensamentos enquanto Aiden continuava dirigindo para um lugar que ele não tinha dito. Eu não estava confortável em ficar com ele no banco da frente, então Rebekah assumiu o meu lugar e um dos amigos dele se juntou a mim no banco de trás. Anthony olhou para mim com um sorriso nos lábios, me dando uma piscadela, encarei enquanto ele acenava para mim. Evitei revirar os olhos e olhei para frente, Aiden olhou para mim pelo parabrisa do carro e deu um sorriso pra mim. Chutei seu banco, surpreendendo ele e fazendo com que o garoto ao meu lado ficasse um pouco confuso, mas Bekah sabia o que estava acontecendo, então só mandou olhares em nossa direção para nos comportarmos.
O carro parou próximo a floresta e todos nós descemos seguindo Aiden pelo caminho, Anthony esticou a mão para me ajudar a pular o tronco e mesmo que eu conseguisse fazer isso sozinha, aceitei. Quanto mais nos aproximamos do local, começamos a ouvir vozes e risadas. Uma cachoeira pareceu se revelar para nós, e alguém pulou de cima dele. Todos deram risada enquanto eu me aproximava e observava as pessoas que já estavam lá. Reconheci os rostos de alguns de quando tínhamos ido a festa, mas isso não me deixava confortável. Todos estavam com roupas de banho, Jorge já tinha se despido e inspecionava Bekah enquanto a mesma tirava sua calça.
Meu instinto superprotetor apareceu e eu lancei um olhar pra ele, fazendo com que tirasse aquele sorriso idiota do rosto. Rebekah soltou uma risada chamando minha atenção e o amigo de Aiden desceu a trilha até a multidão.
- Não sabia que você era do tipo ciumenta. - Bekah me cutucou.
- Ciumenta não, protetora sim. O idiota não parava de sorrir, parecia um palhaço maníaco - dei de ombros.
- Você entende bem de maníacos, não é Little Volk?
Revirei os olhos com o apelido irritante e desviei o olhar quando o Thompson começou a tirar a camisa. Abracei meu corpo, desconfortável de ter que tirar minhas roupas e mostrar meu corpo para as pessoas. Rebekah me lançou um olhar interrogativo, balancei a cabeça dando um sorriso tranquilizador, como se dissesse que iria ficar bem e que ela poderia aproveitar. A Sinclair acenou e começou a andar em direção a cachoeira e eu dei alguns passos, me sentando em uma pedra enquanto observava as pessoas.
- Deixa eu adivinhar, medo de água? - Aiden me assustou. - Vai me dizer que tem medo de molhar esses lindos cabelos? Vou começar a achar que você não toma banho, Little Volk.
- Não que seja da sua conta mas sou germofóbica. - expliquei. - E se você quer tanto assim me dar um banho, é só falar, não precisa fingir.
Ele saiu dando risada e eu observei suas costas. Uma tatuagem de duas cobras se encontrando estava em suas costas, quando seus músculos se mexiam enquanto ele andava, davam a impressão de que as cobras ganhavam vida.
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⤿❜☾︎⋆໋𝕸𝗬 𝕾𝗛𝗔𝗗𝗢𝗪ᵎ・῾ (+18)
Lãng mạn° ㅤ ៚🍒ˎˊ˗ 𝐒𝐀𝐅𝐈𝐑𝐀 é umɑ gɑrotɑ sem esperɑnçɑ, com somente um objetivo. Elɑ sɑbe o que quer, e o que precisɑ fɑzer pɑrɑ consegui-lo, entretɑnto, elɑ nα̃o o fɑrά ɑté que todos em suɑ vidɑ estejɑm mortos. Elɑ nα̃o se vê como umɑ pessoɑ, e s...