Nova Z - O mundo isolado.

PARTE 2- O medo do governador.

- Nunca.
Foi a única palavra que o acessor do governador falara quando perguntado se imaginara que o ataque aconteceria.
De certa forma ele sabia que a segurança dada pelo exército era funcional. E o governador, como se não bastasse, o culpava por isso.
Souberam do ataque ao garoto de dezesseis anos naquele dia, enquanto o governador servia-se de uma porção de legumes e suco de ameixa. O acessor limpava o suor com um pano fresco e corria ao banheiro em instantes, enquanto o governador assistia atentamente ao noticiário.
Encontraram mais tarde Luce Ancy. A mulher havia encontrado um fantasma, pelo que parecia. Sua palidez além do normal mostrava que seus cabelos permaneciam de uma cor alterada, meio amarronzado.
- Está tudo sob controle, governador. - disse ela, pousando papéis na mesa do governador Trent.
- Agradeço, Luce. - o governador a olhou como se agradecesse ainda mais pelo serviço. Luce conseguira contornar a situação e alertar ainda mais o exército sobre a vigia dos prédios de isolados. - Espero que aquelas criaturas não saiam mais dali.
- Tem certeza que não quer acabar logo com isso, governador? - perguntou Luce, o olhando firme. - Não podemos viver com medo dessas criaturas.
- Olha só, Luce! Nossa raça já viveu por anos combatendo discriminações de brancos! Continuamos lutando! Mas dessa vez é ainda mais difícil de lidar com a situação!
Trent estava com medo. Medo. Será mesmo? Medo de estar nas mãos de brancos novamente? Será que os brancos iriam fugir novamente dali? Os isolados iriam escapar? Um deles conseguiu. E machucou um garoto em um beco.
O governador se pegou pensando na filha. Sarah tinha dez anos e queria, por tudo, ser nutricionista. A garota vivia dando conselhos aos pais de como fazer legumes refogados, carnes sem gordura e sucos bem saudáveis. Dizia que fazia bem à saúde, e que se o pai não comesse tudo aquilo acabaria inchando como um porco. Era exatamente assim que ela falava. Inchar como um porco.
Logo após mudou o pensamento para os trens-jato. A obra havia começado há sete meses. Os documentos enviados à empreiteira para a área não tinham sido avaliados e agora o governador precisava que o acessor fizesse isso o mais rápido possível.
- E peça que encarreguem o documento da obra para a secretaria. Os assistentes querem avaliá-lo. - pediu, pela última vez, ele para o acessor.
Naquela noite não voltou para casa. O governador foi para um lugar chamado VERNE'S. Lá as noites eram prazerosas demais para um homem e perigosas demais para um governador. Ninguém podia vê-lo com uma das garotas da casa.
Tomou para si uma linda mulher com pele cor de jambo e olhos num roxo pálido nas luzes incandescentes. Atravessou a cortina e aproveitou.
Era o único momento que esquecia da filha, da mulher, do trem-jato e dos isolados.