Joe tinha apenas dois anos quando seus pais se separaram. Lembra de ter crescido sem auxílio nenhum de um figura paterna, exceto os ensinamentos da mãe. E agora tudo em sua mente era uma bola escura que serpeava o passado e abatia as lembranças.
Ele e Emmy seguiram pela avenida.
- Não vi isolado nenhum. - disse Joe. - Mas me sinto estranho. Não sei dizer quanto.
- Eu sou a mesma pessoa. Mas ao mesmo tempo sinto que não. Me sinto mais... forte... destemida...
Emmy carregava o arco nas mãos, atenta a qualquer tipo de movimento de isolado.
- Emmy... eu quero de perguntar algo, porém... - Joe continuava andando e não olhou nos olhos dela para falar o que queria.
- O quê, Joe? - perguntou. - Pode falar.
- Sei que você gostava de Leo. Na verdade, sei que o amava. - Joe estava convicto. Sabia desde o começo. Emmy ainda sentia muito pela perda. Ele a via por vezes de canto em qualquer lugar que estivessem cabisbaixa. Com semblante sombrio e depressivo. Era quase como se em sua testa tivesse escrito: Te amo Leonard, nunca te abandonarei. Pensou Joe.
Emmy não se pronunciou de imediato sobre o assunto.
- Eu sempre achei que vocês dois tinham algo em comum. - relatou Joe, quase como um desabafo dolorido.
- O que você quer com isso exatamente, Joe? Eu sinto falta de Leo tanto quando você. Nada mais! - falou Emmy, desnorteada.
- Tudo bem. - concluiu ele, aceitando de bom grado a resposta dela. Mas ele tinh um pensamento muito bem formado sobre a relação de Emmy e Leo.
- Ei, vocês! - gritou Emmy para duas pessoas que conversavam em uma calçada.
Não. Não estão conversando. Parecem... parecem estar uma admirando a outra... pensou Joe.
As pessoas saíram de onde estavam e entraram em uma viela.
- Venham aqui! Ei, venham...
- Tudo bem, Emmy. Deixe-as ir. Devem ter um refúgio seguro. - disse Joe.
Quando amanheceu eles se dirigiram até a praça no centro de Nova Z que Ralf mencionara.
Uma hora depois Joe e Emmy chegaram na praça e viram que nenhum dos outros exterminadores tinha fracassado como eles. Ralf tinha matado mais de trinta isolados. A sra. Benson tinha acabado com um pouco mais de dez e Rodrick, vinte.
- O governador Trent não era mais um humano. Passou a ser um deles. Eu o executei. - declarou Ralf.
- Todos os isolados têm que ser exterminados, não ouviu Inseto dizer? - disse Laure Benson, com as adagas sujas de sangue nas mãos.
- Agora vamos retornar para o laboratório. Teremos segundas ordens para matar o restante, mas antes precisamos de alimento. - disse Rodrick, com o rosto sujo de pingos de sangue.
- Eu acho uma boa... - começou a dizer Ralf quando pessoas fizeram um cerco em volta da praça.
- O que estão fazendo? Procurem abrigo! Há isolados por aí! Milhares deles! Vão! - ordenou Ralf.
Mas as pessoas continuavam a fazer o cerco, cada vez mais próximo.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou baixinho a sra. Benson.
- Parecem... isolados. Mas... São humanos... - Rodrick estava confuso, assim como o restante deles.
Quando o cerco estava próximo o suficiente, duzentas pessoas no mínimo, eles prepararam as armas.
- São outra espécie de isolados? - perguntou Emmy.
- Não sabemos. - respondeu Ralf.
- Vamos acabar com isso! Não podem nos matar... - disse Rodrick levantando o soco inglês com espinhos. - ATACAR!
Quando todos levantaram as armas uma voz agressiva e torturante veio a mente de cada um deles ao mesmo tempo: Mate Isolados! Eles não são Isolados! Mate. Mate. Mate. Isolados. Isolados. Isolados.
E as vozes só aumentavam. Eles estavam zonzos. Sem direção. Se ajoelharam no chão, alguns deles deitaram. As mãos nas têmporas, pressionadas.
Mate isolados. Eles não são para extermínio. Mate isolados.
Eles então ergueram a cabeça depois que as vozes pararam. As armas estavam no chão e eles agora lutavam para se erguer.
- O que foi isso? - perguntou Laure aos outros.
- A transformação. Inseto. Somos exterminadores agora, lembra? Somos Exterminadores. - disse Ralf, convicto.
Os humanos agora se distanciaram. Tinham corpo humano, aparência humana, mas se comportavam como isolados.
- Inseto tem que nos dá uma explicação. - disse Rodrick.
- Então o que estamos esperando? Vamos encontrá-lo agora mesmo.
Então todos seguiram em direção ao laboratório. Lá tudo estava calmo como sempre. Mas o barulho das pegadas ou rosnados de Morfo e Sapo quando alguém chegava não se ouvia mais. Estava muito calmo.
- Inseto! Inseto, está aí? - chamou Ralf.
- Fizemos o que mandou! - gritou Rodrick. - Mas queremos uma explicação! Sucinta!
Nada de respostas. Nada. Seguiram pelo corredor que dava à sala principal de experiências. Não havia ninguém, aparentemente.
- Ele pode ter ido passear com os cães. - disse Joe. - Não deve ter ido longe.
Mas antes que tivessem tempo de pensar em mais alguma hipótese a porta da sala foi trancafiada pelo sistema. Todos ficaram com receio.
- O que é isso?
- Quem fez isso?
- Inseto?
Eles agora buscavam respostas. A TV na sala foi ligada automaticamente. Na tela a imagem de um homem com corpo magro, óculos simples postados no nariz e com um livro em mãos. Ele passava o dedo delicadamente sobre a ponta da língua e virava uma página, depois outra. Após alguns segundos ele fechou-o e olhou para frente.
- Quem é ele? - perguntou Emmy, mas não viu a fúria saindo dos poros de Ralf, Rodrick e Laure.
- Olá, exterminadores. É um prazer finalmente conhecer minhas máquinas de luta. Estamos em uma guerra que está apenas no início. - começou o homem, retirando os óculos do rosto. Ele tinha uma cicatriz no pescoço. - Sou Arfey Rogan, vocês devem me conhecer...
Ralf estava com ainda mais raiva. Seus olhos vermelhos agora pareciam querer saltar das órbitas. Então Arfey continuou:
- Teremos muito trabalho a fazer. O vapor atingiu a parte controladora dos seus cérebros e fundido a um micro chip com anos de desenvolvimento. E como eu ia dizendo... vocês são as máquinas que essa cidade precisa para renascer. Estão sob controle e não tem como matar isolados de verdade. Não moveriam uma arma para feri-los uma vez que não podem controlar o cérebro, que está sendo comandado pelo vapor.
Arfey fez uma cara de nojo por um segundo ao olhar para eles. Mas logo disse o motivo:
- Vocês são negros. E sabem... esse resultado catastrófico do meu vírus só me fez odiar ainda mais vocês! Mas espero que para vocês seja tão gratificante mudar do que para mim.
- Do que você está falando? - perguntou Rodrick, com fúria no olhar. As mãos fechadas e tremendo.
- Espero que se sintam bem com a nova identidade. - Lá do outro lado Arfey apertou um botão e na sala onde estavam saiu jatos de vapor branco que inundou toda a sala. Eles sentiram a fumaça corroer a pele. Gritaram e se debateram. O processo durou cinco minutos. Arfey desligou os jatos de ar.
- Bem melhores agora. Me sinto muito melhor em vê-los assim. Gostaram? - perguntou.
Eles se ergueram ainda sentindo a pele pinicar. Olharam para o espelho ao lado da maca de observação. A cor negra da pele tinha dado lugar a uma branca. Como legitimada.
Eles retornaram o olhar para a tela e ao lado de Arfey um cão latiu. Todos eles reconheceram. Sapo. Morfo... e...
- Inseto? - sussurrou Ralf.
- Bom dia meus queridos. - disse ele. - Espero terem aprovado a nova identidade exterminadora. Então... voltem até lá e matem os isolados.
A porta se abriu. Ralf mirou o revólver para a TV.
- Vão se ferrar, seus desgraçados!
3 tiros foram disparados e a TV esfumaçou. Ralf se ajoelhou e pela primeira vez em anos chorou.
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Nova Z - O mundo isolado.
AcakZerith era uma cidade que acordava com o sol subindo maravilhosamente no horizonte. Agora só é Nova Z. Em 2082 Arfey Rogan desenvolveu um vírus para acabar com a raça negra. Mas o cientista não obteve êxito. O vírus atingiu pessoas brancas, as mais...