PARTE 7- O galpão atacado.

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O rastro de sangue deixado para trás era do corpo, ainda quente, de Yan. Os dianteiros conseguiram domar os policiais. Muitos deles perderam membros, outros foram mordidos e dilacerados. Poucos conseguiram escapar ilesos. Como Ralf.
O policial Ralf correu pelas vielas escuras de Nova Z. Um dos policiais que ecapavam veio pela direita e encontrou com Ralf. Ambos se entreolharam com pavor. Sabiam que logo atrás milhares de isolados caminhavam pelas ruas estraçalhando qualquer pessoa que vissem pela frente.
Ralf e Gerold, o outro policial, reconhecido por Ralf pela plaquinha de identificação no uniforme, atravessaram a rua à esquerda e subiram pela avenida de lojas. Olhavam para trás uma vez ou outra. Milhares de isolados. Dezenas de milhares.
- Isso não podia acontecer! - gritou Gerold.
- Sabíamos que aconteceria uma hora! - devolveu Ralf. - Olha lá! Atira!
Ralf parecia um tenente superior. Gerold virou o corpo e encontrou um isolado atacando um garoto de no máximo dez anos. Atirou e o peito da criatura explodiu, enquanto o garoto gritava no chão.
- Vai lá! - ordenou Ralf, saindo pela direita.
Gerold pôs o menino nos braços. Correu o máximo que pôde. Ralf escutava agora mais do que nunca gritos por toda parte da cidade. Pisadas fortes no chão.
"Meu Deus. Milhares deles. Conseguiram escapar. Como pode?" Pensou ele. Centenas de policiais que Ralf conhecia. Mortos. Desmembrados. Agora era uma zona de guerra.
Mais à frente um dos isolados correu pela direit e se chocou contra Ralf. O policial segurou os ombros do homem que se debatia sobre ele. A boca aberta e os dentes podres. Saliva avermelhada pingava de sua língua agitada. Um dos olhos do isolado era um buraco com vermes saindo do orifício. Ferimentos profundos e sangrentos sobre uma pele cinzenta e encarniçada.
- Sai! Sai! - Ralf gritou. O isolado continuou a grunir sobre ele e tentar mordê-lo. Gotas de saliva caiam sobre o rosto do policial.
Ralf virou o rosto e continuou a impedir que o isolado o mordesse. Ao seu lado um grito de uma garota de cabelos altos o fez criar forças. Ela estava atrás de uma lata de lixo lutando para não ser pega por uma mulher isolada. A mulher estava nua e com a pele tão cinza quanto o prédio ao lado.
Ralf tomou o pescoço do isolado com as duas mãos, pôs os pés sobre sua barriga e o lançou por cima da cabeça. Num movimento retirou a arma e atirou no outro olho da criatura. Miolos explodiram no asfalto.
Ralf virou rapidamente quando ouviu novamente o grito da garota. A lixeira agora tinha caído e a isolada tentava alcançar a menina. Outro tiro. Acertou uma das omoplatas da mulher. Ela virou-se e gritou um grito rouco e seco. Tinha um corte no meio do rosto aberto. Partiu para cima de Ralf. Ele atirou mais uma vez. O tiro ultrapassou o estômago dela. Mas não a parou. O terceiro tiro acertara o peito. O corpo da mulher era tão magro que uma bola murcha ultrapassou suas costas e caiu no chão. Logo depois ela. Ralf analisou por um segundo a bola vibrante de sangue. O coração murcho da mulher.
Ele tomou a menina pelo braço e perguntou:
- Qual seu nome querida?
- Emmy. - respondeu ela. - Emmy, Emmy...
Ela estava apavorada.
- Emmy! - gritou duas vozinhas logo atrás. - Aqui!
Ralf virou com a garota e dois meninos se aproximavam correndo.
- Leo! Joe! - chamou ela e abraçou os dois.
- Vamos, me sigam, crianças! - ordenou Ralf. Eles entraram por um beco clareado apenas por uma lâmpada pequena. Como uma corrente humana, um segurava a mão do outro.
Quando saíram do beco a rua estava tomada de gritos ensurdecedores. Sete carros estavam capotados e dois deles pegavam fogo. As chamas cresciam e os isolados pisavam sobre algumas pessoas que vinham pela calçada. Emmy segurou um grito quando um deles arrancou a cabeça de uma mulher.
- Por aqui crianças! Rápido! - Ralf passou por uma viela e subiu a rua à direita. Um mar sombrio de isolados corriam lá em baixo. Gritos persistiam.
***********
O acessor do governador estava morto. Sendo devorado por três isolados na ponte Dory Kent. O homem dirigiu por cerca de cinco minutos até ficar encurralado em uma rua sem saída.
"Merda!" ele rangiu os dentes e tentou manobrar o carro para sair dali. Dez isolados ouviram o motor do carro e viraram. O governador Trent desligou o carro e as luzes se apagaram.
"Por favor, Deus, não!" Rezou.
Os isolados olharam para o veículo e gritaram. Mas não se aproximaram. O homem olhou para o taco de beisebol no banco do carona e pensou em pegar. Mas respirou fundo e viu que três isolados regressaram. Estavam indo em direção ao veículo.
"Foda-se tudo!" Ele girou a chave na ignição e deu ré. O carro passou por cima de dois deles. O terceiro impactou-se contra o vidro. Sua cabeça atravessou-o e cacos caíram sobre o banco traseiro.
"MERDA!" gritou o governador.
Girou o volante. Saiu do beco sem saída. O zumbi preso atrás escorregou e foi esmagado pela roda traseira.
"Toma essa! Seu merda! HAHA!"
O governador pisou no acelerador e no próximo quarteirão viu uma mulher jogando um carrinho de supermercado encima de um isolado.
"Idosos não! Idosos não!"
Quando chegou perto demais viu quem seria: Sra. Benson. A mulher lutava com o isolado. Uma sombra passou pela calçada. Outro deles. Agora era um homem e uma mulher. A mulher gritava palavrões. Trent sentiu os dedos firmes ao redor do taco de beisebol.
Saiu do carro. Gritou alto e acertou ambos na cabeça. Os dois caíram sobre o carrinho de supermercado.
- Venha, sra. Benson! Entre no carro! - ele abriu a porta e a mulher saltou para dentro.
O governador conhecia a sra. Benson há seis anos. Era ela quem cuidava dos seus filhos.
Chegaram a uma parte da cidade que dois prédios se alinhavam como duas pirâmides. Trent desceu e carregou a sra. Benson consigo.
- Governador! - gritou um homem de fardamento militar com três crianças em seu encalço.
O governador olhou para trás e gritou:
- Cuidado! Atrás! - ele apertou o taco nas mãos e quis correr, mas o policial virou e atirou em dois isolados que corriam. Um deles chegou a encostar na mão de uma das crianças que se soltou e deu cinco passos atrás.
- Sou o policial Ralf. Um dos que defendia o portão e a cidade.
Ele apresentou-se. Trent apenas meneou a cabeça e todos correram por entre os prédios.
- O galpão dos Reed. - apontou o governador. - Por aqui!
A vinte metros um galpão com porta de correr vermelha estava aberto. Todos correram e abriram ainda mais o portão. O governador puxou o portão e Ralf o ajudou.
- Saiam daqui! - uma voz gritou de dentro do galpão. - Saiam daqui criaturas...
O governador mirou o homem ali dentro. Logo após Ralf o percebeu e a sra. Benson o reconheceu:
- Doutor Rodrick? - percebeu ela. Ela se consultara com ele quatro vezes no mínimo.
- Vocês escaparam? - perguntou ele, parecendo cansado e assustado demais.
Todos menearam a cabeça. Logo após ele gritou:
- FECHEM!
Lá fora um pouco mais de cem isolados corriam em direção ao galpão. Todos gritando e feridas abertas na pele.
- Me ajude a fechar! Venha! - ordenou Trent. Ralf e Rodrick o ajudaram.
A porta se fechou com estrondo. Os sete estavam com medo agora no interior do galpão. Lá fora uma centena de isolados se jogavam contra a porta vermelha. Mãos socavam o aço. Várias vezes.
"Vão derrubar." Pensou Ralf. "Assim como derrubaram o primeiro portão."
De repente todos estavam contra a parede. Olhando fixamente para o portão que tremia com as pancadas. Ralf apontou a arma naquela direção. Tudo que conseguiu pensar foi:
"Se derrubarem vou descarregar nesses vermes! Nem que eu morra! Derrubo um por um!".

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