O governador estaria muito longe àquela altura. Estaria procurando a filha, com a filha ou morto. Ambos mortos.
Ralf novamente liderava a esquipe. Rodrick vinha logo atrás, com as mãos firmes na arma. A sra. Benson abraçava cada uma das crianças, uma de cada lado de seus fardos seios.
Uma vez, quando a sra. Benson tinha três anos (a mulher do governador falaria dois mil anos atrás), seu pai a contou sobre o grande cometa Ázilum.
"Era grande como o sol e brilhante como uma estrela Asporiana."dizia ele, antes dela dormir. "Engoliu todos os animais da terra. Então Deus, com misericórdia, acabou tendo que repôr a fauna terrestre. Deus existe, querida. Existe sim." Dizia ele, passando a mão nos cabelos dela como quem acariciasse um gatinho de estimação.
Sra. Benson nunca esqueceu dessa história. O cometa Ázilum. E era o que parecia agora. O mesmo cometa tinha atacado Nova Z. Era nítida a destruição. O deserto que havia se tornado. Levara tudo.
Joe estava novamente com fome. Sua barriga não roncava, mas ele estava com certa falta de alimento. O monstro não gritava mais. Ele parou. Disse a si mesmo, convicto. Ele foi embora quando comi aqueles biscoitos.
E ele sabia muito bem que a qualquer momento o monstro voltaria a rugir, a se inquietar, rasgar sua pele por dentro e arramcar parte de seu estômago e suas entranhas. Não havia compaixão o monstro para com o garoto.
Emmy ainda segurava o arco nas mãos. Dava notoriamente para sentir seu medo nos olhos. Não pela situação, mas por saber que a qualquer momento teria que impor o arco a frente do corpo acompanhado a uma flecha e atirar no peito de um isolado. Mataria alguém. "Mas como se mata alguém que já está morto?" Se perguntou.
Ralf seguiu por uma parte da cidade cujos carros estavam parados de forma aleatória. Uns quebrados, outros incendiados, mas a maioria estava virado. As rodas para cima. Alguns liberavam fumaça.
- Por aqui. - disse Ralf. Ele tinha desistido meia hora antes de procurar o governador. O homem estaria por aí caçando a filha, e qual a possibilidade de acharem-no novamente? Ele tinha ido pro lado oposto. O lado da cidade onde isolados faziam cerco e pareciam formigas vistos de cima. Ele não teria chance alguma, mesmo com uma arma carregada.
Todos seguiram Ralf por uma avenida que ardia com o sol. Atravessaram e olharam para a grande estátua da praça Nebrale Novan. A estátua era antiga, feita com pedras e fibras de azulejos. Era uma mulher com asas segurando em uma das mãos uma espada e na outra um pote com água que alimentava a fonte. Ali haviam três isolados mortos, boiando na água clara da fonte. Um deles tinha perdido a cabeça. Seguiram.
Depois de meio quilômetro encontraram uma viela que dava a uma ponte. Adentraram e percorreram pelo beco que finalizava em uma rua larga e longa. Passaram e continuaram a caminhar. Depois de vinte passos as crianças e a sra. Benson, que vinham logo atrás, bateram às costas do médico e do policial. Eles haviam parado subitamente.
- O que aconteceu? - perguntou a sra. Benson, se pondo ao lado deles.
- Quem é você? - perguntou Ralf, o som alto da voz.
À frente um homem da sua mesma altura com um casaco de couro marrom, calça desbotada e sapatos vermelhos estava parado. A dez metros deles. Segurava em uma das mãos um cajado de bronze, enquanto apertava algo nele, na ponta uma onda de eletricidade passava de um ponto ao outro. Choque de volts altíssimos. O homem usava ainda óculos ridículos na face, redondos e colocados com a ajuda de um elástico grosso ao redor da cabeça. O seu cabelo ruivo e acima dos ombros, molhados de suor. Ele continuava apertando o cajado elétrico. O som do choque podia ser ouvido.
- Quem são vocês? - devolveu ele a pergunta.
- Sobreviventes. - disse Ralf.
- Como eu! - disse o homem. - Eu também sou um! Porém eu confio em mim! Não sei se confio em vocês.
Ralf o olhou com incredulidade, porém dessa vez quem respondeu foi Rodrick:
- Olha só... nesse momento temos um mesmo inimigo em comum. Vê? Não somos isolados!
O homem analisou todos. Parecia mastigar alguma coisa. Então cuspiu um bolão de chiclete. Como uma grande massa de dez chicletes. Como cabiam? Talvez por isso não falava direito. Então ele assobiou alto e deu um sorrisinho escroto depois.
- Conheçam meus amiguinhos...
O homem os mirou e de um beco ao lado surgiram dois cachorros. Tinham tamanho grande. Não eram comuns. Os pelos tinham caído em sua maioria. Os dentes estavam ainda maiores. Ambos tinham perdido um dos olhos e agora tinha um globo branco no lugar. Feridas se espalhavam pela pele dos animais. Eles rosnavam.
- São lindos, não são? Admitam! Ora vamos lá! Eles precisam de novos amigos! E eu também, para ser sincero. - disse o homem, apertando novamente o cajado que deu um leve choque na ponta. - Podem me chamar de Inseto. Esses são Morfo e Sapo. Meus dois cães zumbis.
Sim. Eram cães zumbis. E agora rosnavam. O homem lembrava nitidamente um inseto, realmente, com aqueles óculos. Ralf e Rodrick apertavam as armas nas mãos. A sra. Benson apertava ainda mais as crianças contra ela.
- Sou cientista. - disse inseto. - Trabalhei com Arfey Rogan. Sabia de tudo que ele desenvolveria. Sabia de tudo sobre o vírus.
Todos o olharam com desconfiança. Ralf estava inseguro sobre aquilo.
- Então... vão me seguir... - ele amaciou um dos cães. - Ou vão lidar com os meus filhos?
Ele levantou três dedos no ar.
- Um... - disse ele, abaixando um deles. - dois... - Emmy encostava a ponta do dedo em uma flecha na aljava, pronta para atirar quando preciso. - TRÊS!
Inseto apontou o cajado para frente. Os cães dispararam.
Estamos mortos.
Foi a última coisa que Joe pensou antes que os cães abrissem as bocas enormes.
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Nova Z - O mundo isolado.
DiversosZerith era uma cidade que acordava com o sol subindo maravilhosamente no horizonte. Agora só é Nova Z. Em 2082 Arfey Rogan desenvolveu um vírus para acabar com a raça negra. Mas o cientista não obteve êxito. O vírus atingiu pessoas brancas, as mais...