PARTE 27- Os Sombras estão chegando

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Rodrick acordou com Inseto gritando. O braço (ou pelo menos a falta dele) estava fazendo-o chorar.
- Ei, tudo bem. Tranquilo, se acalme! - disse Rodrick, tentando tranquilizá-lo. - Preciso de gaze e mais pano quente! - gritou.
Lanelle entrou em seguida na tenda com uma bacia com água e um pano nos ombros. Enxarcou na água quente e o entregou a Rodrick.
- Preciso que morda isso! - ele dera um pedaço de tecido grosso para Inseto morder. - Aguente firme!
Rodrick pressionou o pano quente contra o toco no ombro do cientista. Era um bola de carne com ossículos sobressaindo em meio ao ferimento. Então pôs as gazes e enrolou com o mesmo pano anterior, deixando Inseto respirar tranquilo depois de dez minutos gritando. E então ele dormiu.
- Amanhã temos que deixar campo e começar o trabalho. Você sempre será a nossa arma contra os infectados. - disse Lanelle, os cabelos loiros amarrados num coque. Rodrick nunca tinha percebido no quanto ela era linda. Ela o lembrava Ellen, sua primeira namorada. Artista e popular. Ele sempre soube que anos atrás ela tinha viajado para Los Angeles. E agora? Será que estava bem ou teria virado uma infectada?
- Contanto que deixe-me sempre andar acompanhado para que possa estar por perto se ele sofrer outra dor aguda no nervo. É comum pessoas que perderam o membro sentirem a necessidade de mexer os dedos e o próprio braço, sem sucesso.
- Como assim? - falou Lanelle, incompreendida. - Você cuidará dele até amanhã. Tenho esperança. Ele perdeu um braço e não as duas pernas. Caso contrário ele ficará para trás e um daqueles ursos podem se servir dele.
Ela se retirou da tenda. Rodrick ficou pensativo, mas ouviu quando Inseto acordou e falou sussurrando:
- Tenho até amanhã. Por favor pode me ajudar a levantar daqui? Eu posso seguir.

***
- Estão todos bem? - perguntou em um grito o comandante.
- Sim! - responderam Dowro e Mowro juntos.
- Sim! - Ralf foi o próximo. Ele ainda cuspia água e tossia.
- Estamos ferrados, Mowro. - disse o gêmeo mais baixo.
- E encharcados, Dowro. - devolveu o outro irmão, e os dois caíram na gargalhada.
- VAMOS! - gritou o comandante, se erguendo da margem onde estavam recuperando o fôlego.
Uma queda de uma cachoeira de duzentos metros de altura com pedras nas extremidades era certamente mortal. Mas todos sobreviveram.
Ralf seguiu o grupo como quem acha que achará um tesouro logo próximo.
- Perdemos alguns dos nossos! - falou o comandante. - Não se separem! Não queremos perder nenhum de vocês! Não mais!
- E aí novato! - Dowro, o mais baixo, bateu no ombro de Ralf com um leve soco. - Você veio de Nova Z, ouvi falar... é verdade?
- Sim. - respondeu Ralf. - E vocês de onde são?
- Canadá. - respondeu Mowro, a cruz tatuada na testa ainda mais franzida. - E pelo que ouvi lá está bem pior que Nova Z. A vastidão tomou conta como o fogo preenche a escuridão. Resolvemos servir na guarda da base submarina quando conhecemos nosso primeiro líder, Scott. Ele nos levou para conhecermos a sede desde que alguns isolados começaram a aparecer em cidades de países diferentes do mundo e não só em Nova Z.
- Sim, lá em Nova Z eles estavam presos, mas tenho certeza que alguns escaparam e infectaram outras cidades ao tentarem fugir.
Ralf pensou que seria impossível ter acontecido algo do tipo. Ele era da guarda que vigiava o portão. Ele junto com centenas de outros guardas defendiam Nova Z contra os isolados. Ele nunca viu nenhum deles escapar tão facilmente.
- Olhem! Vocês precisam ver isso aqui! - chamou o comandante. Ralf junto com o restante do grupo se aproximaram e viram algo estranho quase enterrado.
- É um... - Mowro ia dizendo, mas o comandante completou:
- Bebê. - disse, olhando para a criança com terra na pele e roupinhas verdes. Tinha dois meses. - Alguém o enterrou.
- Acho que não. - disse Ralf, ajoelhado ao lado. Tinha um homem com cabelos negros e bigode e a mulher com uma trança assanhada. - São os pais dele. E não queriam que o filho virasse um isolado.
Então todos seguiram. Após metros de caminhada, nem Ralf, Dowro ou Mowro, nem qualquer outro notou, mas alguém retornou para enterrar novamente o bebê.

***
Durante a manhã Arfey tinha se alimentado mal. As duas frutas que tinha comido ele vomitou-as.
E agora estava zonzo, mais num estado febril do que em um entorpercedor.
- Ei, você! - ele chamou a mulher que conversava com um homem no corredor do abrigo antibombas. - Pode me explicar onde estão o restante da população submarina?
Ele poderia perguntar o que eles estavam querendo ou tramando com ele ali, então ficou calado esperando a resposta.
- Não podemos revelar nada agora, senhor. Mas seus companheiros estão seguros, é claro que algumas mortes foram inevitáveis... ah, meu nome é Joanna.
Ela mudou de assunto rapidamente, oferecendo a mão para cumprimentar Arfey e pondo um sorriso doce no semblante.
- Venha. Todos estão aproveitando o dia. - ela o levou para fora do abrigo e ele viu as ondas do mar tranquilas, a areia sob os pés e o ar delicioso de maré. Pessoas andavam pela areia e conversavam.
- Filho da mãe! - veio um grito à esquerda. - Ele quem quis nos matar! Ele quem quis nos assassinar!
Um homem com topete esquisito ficava apontando para Arfey Rogan. Então pessoas começaram a cercá-lo.
- Ei! - A voz de Joanna pareceu um alarme para todos se afastarem. - Se quiserem conviver aqui que seja pacificamente! Não tolerarei violência, seja ela do caráter que for!
Todos ficaram em silêncio. E logo todos entraram novamente no abrigo. No fim das contas Arfey de nada aproveitou.
Chegara a noite e Arfey estava deitado em um dos colchões do abrigo.
- Joanna, há um vazamento no complexo nove. - avisou o homem com roupas de couro e semblante preocupado. - Se não for corrigido vão todos morrer lá.
- Ligue a chave. - ordenou ela, pacífica.
- A chave do complexo nove fica na parte externa do abrigo. Alguém esqueceu de ligá-la pela tarde.
- Merda. - falou ela, irritada. - Você e Jordan, armem-se e vão para fora, liguem a chave e retornem imediatamente.
- Sim, senhora. - disse o homem e saiu com o outro guarda.
A chave foi ligada, porém quando retornavam um som veio de depois das rochas. Um grunhido tão feio que assustara inclusive Joanna. Ela, então, subiu as escadas com uma arma em mãos e foi para fora. Arfey olhara de um lado a outro e a seguiu.
- Os sombras estão chegando! - gritou Jordan.
- Os sombras estão vindo! Corram! Rápido! - disse o guarda que Joanna ordenou.
Arfey viu quando os dois foram puxados para trás por duas sombras horripilantes. Joanna retornou aos tropeços para o interior do abrigo.
- Vem! Agora! - ordenou ela para Arfey.
O cientista teve a chance de ver olhos brancos atrás das palmeiras e vultos correndo rapidamente, como o vento, de um lado a outro. E diante de tudo, o que mais impressionou fora o que vinha do alto: Um pássaro gigante. Tão negro que suas penas tiravam o brilho da noite. E em cima dele, controlando a ave, um isolado com a pele queimada e os olhos translúcidos. A criatura apontou para Arfey e de longe vieram outros animais. Todos sombras. Todos gigantes. Todos amedrontadores.
- Vem, se não quer morrer! - chamou Joanna.
Arfey entrou no abrigo e ouviu sermões da mulher. Muitos.
Enquanto isso lá fora o líder dos sombras montava um pássaro gigante e apareceria com certeza nos pesadelos de Arfey naquela noite. Joanna tinha razão: são piores que isolados. Pareciam feitos de fumaça. Se isso fosse verdade, seria impossível de matá-los.

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