PARTE 23- Expedição do grupo A1

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Quando Rodrick abriu os olhos estava em pleno voo. Minhas pernas doem. Foi tudo que conseguiu pensar. Tocou de leve no abdome e percebeu que também dava leves pontadas.
Um tiro. Lembrou. Levei um tiro. Não morri. Estou... vivo. Ele tentou levantar às pressas e escutar com mais afinco o barulho de hélices inconveniente. O helicóptero sobrevoava uma montanha nevada e o tempo estava enevoado lá em cima.
- Ei, calma. Ainda não. - uma mulher o acalmou, fazendo-o sentar-se. Ela usava armadura negra e uma arma tecnológica ao lado do assento. Tinha os cabelos tão loiros quanto os olhos de mel. Nitidamente preocupada. - Tem que descansar até que cheguemos.
Rodrick foi aos poucos se deitando. A cabeça pousando no travesseiro improvisado com tecido de couro e finos lençóis amarrados. Ele respirou e piscou várias vezes.
- Onde estou? - perguntou. - Eu lembro... lembro que levei um tiro, então... Ralf! Onde está Ralf? O que fizeram a ele?
- Eu só quero ajudar! - disse a mulher, acalmando-o. - Com seu amigo está tudo bem, soldado Rodrick.
Ele estranhou ela chamá-lo daquela forma. Quando tinha virado um soldado? Agora ele tinha notado. Percebido com altivez. Estava com as mesmas roupas da mulher, ao invés do pijama laranja. Como um soldado. Ela continuou falando:
- O seu amigo está no transporte 13, fazendo parte do grupo B2. Nós somos o grupo A1, o primeiro a ser nomeado para a tarefa.
Rodrick, mesmo na posição que se encontrava, tentou olhar por cima do ombro da mulher e saber onde estava. Sentia muito frio.
- Quem é você? - perguntou ele.
- Eu me chamo Lanelle. - respondeu ela. - Fazia parte da força tática da base submarina. Fui a terceira nomeada para o grupo A1. Logo após de mim Ebay o nomeou, e em seguida mais cinco.
- Prazer, Lanelle. - disse ele, quase num resmungo satisfatório. - E novamente: Para onde estamos indo?
- Ponto de pouso alcançado! - gritou uma voz lá da frente do helicóptero. O piloto. - Nível de altitude estável, clima gelado e ventos instáveis! Segurem-se!
Lanelle se preocupou em segurar-se no apoio acima de sua cabeça, no ponto de intercessão entre a janela e o teto e segurar Rodrick para que não tombasse para o lado.
- Eu estou bem. Tudo bem. - disse Rodrick, vendo o esforço dela para fazer as duas coisas.
- Eu só cumpro ordens, soldado! Não me impeça! - retrucou a mulher.
O helicóptero balançou um pouco e ventanias enevoadas vinham pela direita, em cursos rodopiantes. Rodrick via as janelas congelando e prontas para estourar com a temperatura incrivelmente abaixo de zero.
- Deixa que eu o carrego. - um homem somente com uma sobrancelha e uma enorme tatuagem de aranha no pescoço subindo pela bochecha chegou perto deles. - Lanelle, você carrega as caixas de munições junto com Preek.
- Eu o levo ao refúgio, Gregan. - teimou Lanelle, encarando o homem de uma sobrancelha. - As munições são mais pesadas. Certamente você dará conta de levá-las com Preek.
Gregan se aproximou dos dois enquanto o helicóptero tentava se estabilizar para pousar na área mais propícia.
- Eu sou o líder do grupo A1, Lanelle, e exijo que você obedeça aos meus comandos. Fui o primeiro nomeado. Saia daí e se dirija à sessão de munições, pegue a caixa e leve-a para o refúgio. Eu cuidarei do soldado!
O homem tinha o olhar ainda mais assustador de perto. A sobrancelha que tinha, Rodrick percebeu que não era propriamente uma sobrancelha. Era uma tatuagem de sobrancelha, grossa e feita com perfeição.
- Você sabe que para mim você não é líder nem do que você faz no vaso sanitário, não é Gregan? - disse Lanelle e saiu dali, enquanto o homem não disse nada.
O helicóptero pousou e o piloto ordenou que todos desembarcassem. Rodrick se apoiava nos ombros de Gregan e o homem o levava para fora.
Gelado. Estava muito gelado. Tinha neve por todo o lugar e as hélices levantavam ainda mais com o giro. Lanelle ia à direita com uma caixa de munições juntamente com um cara baixinho e com cabelo roxo. Rodrick não o conhecia, mas talvez seria o tal Preek.
Eles correram abaixados. Com eles seguiam mais seis pessoas, todas armadas. O helicóptero levantou voo e foi embora. À frente um dos outros seis, um homem alto e careca, esticou uma lona ao lado de uma pedra grande com neve impregnada na camada sobre ela.
Vinte minutos depois uma tenda estava montada. Era grande, até. Gregan entrou nela com Rodrick e o pôs sentado ao canto.
- Não saia daí! - ordenou ele.
Rodrick ficou no mesmo lugar, sentindo fome, sede e muito, muito frio. Não lembrou de quanto tempo dormiu. Ou se apenas adormeceu. Acordou com tontura e o vento gelado correndo lá fora e balançando a lona da barraca. Tinham posto uma lâmpada dentro da tenda e estava acesa, então Rodrick supôs que a noite já tinha caído.
Mas como eu vim parar aqui? O que fizeram comigo e Ralf logo depois de atirarem contra nós? Por que eu estou aqui?
Perguntas como essas vinham a cada minuto na cabeça dele. Não podia se esquivar delas, apenas aceitar que surgiam dúvidas a toda hora.
Só notou um minuto depois que ao outro canto Lanelle olhava umas munições de calibre alto. Ela analisava atentamente.
- Não sei se o cérebro de Gregan é do tamanho dessa ou dessa. - falou ela, comparando duas balas douradas retiradas da caixa.
- Ah, olá. - disse Rodrick, sorrindo de leve para ela. - Está tudo bem?
- Acredita que aquele imbecil está usando as balas para matar animais na área ao invés de usar lanças e depois retirá-las? - disse ela, incomodada. - O problema maior é que a cada dez disparos que ele dá, nove acertam a neve e um alguma árvore no caminho!
Rodrick assistiu calado a incompreensão de Lanelle, aturdido.
- É frio aqui, não? - disse Rodrick, querendo saber de mais alguma coisa.
- É claro. - respondeu. - Por isso nunca pisei aqui no Alasca.
- Alasca? - admirou-se Rodrick. - estamos no Alasca?
- Se não mudou de nome, sim! - confirmou.
Rodrick respirou uma vez mais e o frio invadiu-lhe as narinas.
- Por que me querem aqui? - perguntou Rodrick. - Do que sou necessário?
Lanelle virou-se e saiu da tenda. Tinha ignorado totalmente a pergunta de Rodrick, no entanto ele teve mais uma esperança quando ela retornou mais tarde com um prato improvisado com sopa.
- Toma. - ofereceu ela. - Foi feito com um peixe que Orius pescou.
A sopa estava deliciosa e a companhia de Lanelle melhor ainda. Rodrick teve que insistir no que queria:
- Lanelle... eu sei que estão aqui por ordens superiores, mas eu preciso saber, assim como vocês o porquê de estarmos aqui. - ele fez um olhar penoso e Lanelle cedeu.
- Olha, quando Ebay e Tony convocaram a reunião, logo após de haver uma invasão à ala 17 e sabermos que foram dois dos exterminadores criados dos cientistas, muitos helicópteros ficaram prontos para deixarem a base. O tiro dado pelos guardas tem o barulho, mas só lança um projétil que causa enorme ardência na pele e sonolência. Já fui para várias expedições, mas quando disseram que você iria, um soldado machucado, acabei pensando em sérios problemas. Mas entendi o propósito em seguida.
Rodrick fitou-a com mais atenção.
- Tanto você quando seu amigo exterminador são essenciais para a destruição do vírus no planeta. Por mais que os organismos estivessem limpos, o cérebro tem um comando que trata de circular o sangue infectado a qualquer hora.
- E o que isso quer dizer? - perguntou ele.
- Quando a nova exterminadora se enfureceu quando a visitaram Ebay notou que ela os enxergava como isolados, por isso quis atacar. - Rodrick percebeu que Lanelle falava de Laure Benson. Ele lembrava. - Então se isso aconteceu, então para os infectados de verdade vocês parecerão amigáveis. Isso será vantajoso para encurralarmos muitos deles e matá-los de uma só vez.
- Então... somos a cobaia? - perguntou Rodrick.
- Mais do que isso! Vocês são a chave para um novo mundo!
- Lanelle! - um grito veio de fora da tenda e a mulher tomou nas mãos a arma. - Aqui fora! Rápido!
Rodrick reconheceu ser a voz de Gregan. Tiros eram executados e Rodrick ouviu um rugido alto e monstruoso. Lanelle tinha saído às pressas e começado a atirar. Rodrick levantou de onde estava e andou vagarosamente até a porta da tenda. Pôs a cabeça para fora e viu que oito dos soldados atiravam contra um gigantesco urso. O animal tinha os olhos verdes e brilhantes de as patas com unhas de um metro. Os tiros o perfuravam e sangue escorria pelos orifícios, mas ele continuava a atacar e rugir.
- Ei! Ei! Meu querido! - um dos soldados falou tentando encostar no pelo do urso zumbi. - Não atirem! Shiiu, shiu, shiu...
Rodrick olhou bem para o soldado. Inseto.
- Tudo bem, meu querido... está tudo bem... - o urso olhava agora para Inseto com os olhos verdes a dois metros do seu rosto. O restante tinha parado de atirar.
- Shiu, meu querido... está tudo bem...
Esse cara é louco? Pensou Rodrick. Como ele pode fazer isso...
Os pensamentos de Rodrick foram interrompidos quando o urso abriu a imensa boca e arrancou fora o braço direito do cientista. O grito de Inseto ecoou juntamente com os tiros que recomeçaram no mesmo segundo. O urso morreu logo em seguida. Cento e dois tiros no total.
- Levem-no para dentro! - ordenou Gregan.
Dois dos soldados tomaram Inseto nos braços e carregaram-no para a tenda. O cientista tinha desmaiado. Quando entrou na tenda Rodrick percebeu o desespero dos soldados.
Médico. Pensou. Eu sou médico. Posso fazer algo!
- Virem-no de lado. - disse Rodrick. - preciso de panos molhados e ataduras, rápido!
Os dois soldados saíram rapidamente da tenda, enquanto isso Inseto perdia tanto sangue que Rodrick perdia as esperanças de salvá-lo naquele lugar.

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