PARTE 16- O novo inimigo.

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Inspecionaram os containers, mas só encontraram caixas vazias.
- Droga! - reclamou Ralf. - Sou tão idiota!
- Ei, calma! Você não está sozinho nessa! Todos erramos ao confiarmos nele! - Rodrick tentou acalmá-lo.
- E esse é exatamente o meu problema! Confio nas pessoas por um bem maior e o que acontece? Mato inocentes! Assassinei o governador, Rodrick! Assassinei-o! - Ralf se controlou para não voltar a chorar.
- Olha... frutas. - Laure Benson tinha encontrado uma pequena caixa em meio ao amontoado de coisas vazias no container. Todos se alimentaram. - O que faremos agora?
- Vamos procurar aqueles dois. Ambos terão que nos dar uma boa explicação. - disse Ralf, levantando e começando a andar. - Vão ficar aqui ou me seguirão?
- Ralf, somos exterminadores agora! Eles nos controlam. Qualquer humano que vermos mataremos mesmo contra nossa vontade! - reclamou Rodrick.
- Mas acontece que de um jeito ou de outro os humanos estão correndo risco. - falou Ralf, pensando nas dezenas que ele assassinou na noite anterior e como se sentia agora por ter feito isso. - Mas eu talvez possa me controlar. Não posso dizer o mesmo dos verdadeiros isolados.
Laure Benson foi a primeira a segui-lo quando Ralf partiu. Logo atrás vieram Joe e Emmy. Rodrick esperou andarem por mais de cinquenta metros para acompanhá-los. Era tudo ou nada.
***
- Como saberemos onde eles estão? - perguntou Laure. - Eles não nos permitiram nenhuma dica ou detalhe que mostrasse o local.
Rodrick tinha acabado de completar dois anos que cursava medicina. No período alunos como Jassy Oliver e Mariane Joedy o seguiam para todos os lados. Entraram por diversas vezes em bibliotecas públicas de Nova Z e saiam de lá com dois livros roubados. Rodrick se arrependera, claro, de ter realizado esses feitos criminosos. Mas tinha paixão por estudos e assim como ele, Jassy e Mariane não tinham carteirinhas. E para isso precisava ter trabalhado durante o verão pelo menos uma vez no semestre. E os três não tinham realizado esse quesito. Preferiam "Tomar emprestado", como Jassy dizia.
Outro local em que iam durante à tarde, passando pela ponte Velary Corn e pela Rodovia Soundervaw, era o centro de análises de Nova Z. O então prédio era erguido por faixas de tijolos e aço, reforçados com fibras de pilastras e colunas altas, se estendendo pelos cinquenta metros da entrada.
'Podia muito bem ser a prefeitura, esse lugar' pensava Rodrick, quando se deparavam com a fachada do local em mármore branco e duas estátuas de cada lado dos degraus que dava acesso ao interior.
- Primeiro as análises de gene e depois as sanguíneas. - dissera Mariane, olhando por um microscópio. - Temos que separá-las de acordo com o recessivo.
- Tudo bem. Passe-me a próxima placa, Rod. - pediu Jassy. O garoto usava enormes óculos no rosto. Como se fosse praticamente cego a vida toda.
Rodrick o passou a placa de vidro e ele pôs no suporte do microscópio. Analisou e reafirmou:
- Sim. É recessivo.
Rodrick olhava para todos aqueles fios que interligavam telas e painéis. Uma câmera tecnológica e apoiada a um ferro sobre a mesa.
- Aposto que é com isso que eles transmitem os avisos para os ricos sobre os remédios do dia. - disse, ironicamente, Rodrick.
- Rod! Se concentre! Temos que entregar as placas amanhã. Tome. Sua vez.
Jassy ofereceu uma placa para Rodrick. Ele analisou com os dois olhos enfiados nas lentes do aparelho.
- E então? - perguntou Jassy.
- É recessivo. - respondeu ele.
***
- Eu sei onde eles estão. - disse Rodrick. - Vamos. É pela ponte Velary Corn.
Rodrick foi na frente e o restante o seguiu. Só que não contavam com algo. O que parecia um momento privilegiado para não aparecer isolados, acabou aparecendo.
Isolados. Temos que matar isolados.
Novamente veio a voz na cabeça deles.
Eram humanos. Não isolados. Mas as mãos de todos agora se fechavam ao redor das armas e eles corriam. Seus olhos ardendo e se tornando ainda mais avermelhados.
Laure enfiara a adaga no dorso e estômago de cinco deles. A verdadeira Laure Benson estava em um buraco escuro no interior daquele corpo. Ali era uma exterminadora. Fazendo o serviço por ela.
Emmy acertou sete deles com as flechas. Joe abateu alguns com o machado. Ralf pulou de um prédio a outro como um Super Canguru. Acertou dois com a espada e nove com tiros. Rodrick tomou nas mãos uma mulher. Ela chorava muito. Como um bebê. Uma isolada. Tenho que matá-la. Ele balançou a cabeça lutando contra si mesmo. Contra a própria consciência. Então apertou o pescoço dela com as correntes de ferro. Apertou com força até ela sufocar com o próprio sangue. Até não haver mais ar circulando nos pulmões.
Depois de tudo eles se sentiam fracos, culpados e a ficha caía. As mentes entravam em estado de torpor. Uma sensação no mínimo letárgica que beirava a um estado depressivo. A imagem de todas aqueles "isolados" no chão. E sabiam que não eram isolados. Sabiam disso. Mas era impossível. Estavam sendo controlados.
- Quem achávamos que seria nosso primeiro amigo, acabou virando um dos inimigos. - disse Laure. - Não sou eu matando essas pessoas. Não sou eu. - E chorou.
Enquanto Rodrick a consolava, Ralf disse:
- Não são eles. Nós somos os nossos inimigos. Precisamos vencer a nós mesmos. Temos que ganhar essa luta. - disse Ralf, convicto de que conseguiria.
O sol tinha caído no horizonte há meia hora. Agora Nova Z voltara à escuridão. Algumas luzes aqui e ali ainda eram eficazes na cidade, porém ainda pouco funcionais.
Os exterminadores ainda não tinha se dirigido ao lado sul. Lá era o refúgio de isolados. Lá iriam encontrar apenas pessoas comuns em aglomerados nas ruas. Mas seriam incapazes de matá-las. Não conseguiriam, de qualquer forma.
Atravessaram a Rodovia 12, onde a linha do trem fazia uma leve curva para a direita. Nada de motores de trem ou locomotivas de carga. Nada.
- Olhem aquilo! - apontou Emmy, para um grupo muito grande de humanos ao lado de um Restaurante fechado. Eles vinham com pressa na direção deles. - Isolados.
"Não podemos matá-los. Nosso cérebro está sendo monitorado. Não." Pensou Rodrick.
Joe apontou para o lado contrário e para cima. Todos viram. Analisaram. Se apavoraram. Mesmo eles, exterminadores. Uma sombra gigante atravessava a cidade. Tinha uma envergadura de asas negras apavorante e um bico cem vezes maior que um comum.
- Meu Deus... - murmurou Laure.
- O que é isso? - perguntou retoricamente Ralf. - Um pássaro?
- Um pássaro gigante, eu diria. - complementou Rodrick.
Joe analisou quando o pássaro rondou os prédios mais baixos e tentou pousar.
- É mais do que isso. - falou o garoto. - Ele também é zumbi.
O pássaro pousou e fechou as asas enormes de mais de sessenta metros de envergadura. Tinha um olho roxo e o outro era um buraco com minhocas do tamanho de cobras saindo do orifício. Ele chilreou e gritou. Se é que pássaros gritam... pensou Joe.
Os humanos que vinham logo atrás correram o mais rápido que puderam. O pássaro gigante zumbi bateu asas e voou acima das cabeças dos exterminadores. Pousou vinte metros depois sobre o grupo com medo de humanos, que eram isolados, na verdade, e engoliu pouco mais de dez deles. As asas sacudindo no chão e levantando poeira e derrubando postes da rua.
- Inseto. - disse Laure. - Tenho certeza que Inseto faz isso com animais. Como Morfo e Sapo, os cães. Ele transforma animais em criaturas horrendas.
- Pessoal... - Emmy estava olhando para trás. - Acho que a ave trouxe mais gente para o banquete...
Todos se viraram. Era espantoso. Uma ratazana do tamanho do prédio vizinho com o corpo mais esquelético do que coberto de pelos estava a frente deles. Ela tinha chifres e patas enormes de lagarto. Então, pelos becos escuros sombras atravessaram tão rápido como uma ventania. O restante estava vindo.
A ratazana com ossos pelo corpo todo sacudiu a pata e acertou Emmy, que chocou-se contra o prédio ao lado.
- Emmy! - gritou Joe. Ao mesmo tempo que lançou o machado que partiu um dos olhos do bicho em dois.
A ave virou e gritou mais uma vez. Antes que a ratazana acertasse outro exterminador com a pata o bico enorme e afiado a ave atravessou o outro olho do bicho. Uma luta de gigantes iniciou.

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