PARTE 18- Sem saída

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Em pouco mais de meia hora encontraram o Centro de Análises de Nova Z. Era quase uma ruína por fora, mas parecia inteiro por dentro. Sem contar algumas cadeiras quebradas e cheiro de fumaça sugerindo um incêndio que fora apagado há pouco, fosse por alguém ou pelo vento.
- Eu não reconheceria esse lugar se não acreditasse que ele ficasse exatamente aqui. - objetou Rodrick, tomando para si um livro empoeirado em cima do balcão lascado.
- Não falem nada. - ordenou Ralf, com a pistola em mãos. - Eles podem nos ouvir.
***
- Ele está certo. - confirmou Arfey para Inseto. - Não é algo muito erudito de se falar, porém dá um ar de liderança. Ele é atento.
Inseto estava ligando alguns fios em uma bateria velha de uma máquina de testes sanguíneos, enquanto Arfey olhava atentamente para um dos monitores do painel a sua frente, onde os exterminadores caminhavam devagar na entrada do lugar.
"Basta subirem essas escadas e terem sorte para descobrir qual das portas abre essa sala. Droga! Não era para descobrirem. Mas já que aconteceu, vamos jogar! " pensou Arfey.

***
Ralf foi o primeiro a pisar no primeiro degrau da escada, ordenando que o restante do grupo o seguisse. Rodrick pôs as crianças para irem à frente e ele foi o último a seguir.
Dois corredores entrecruzavam uma saída de emergência. Outros dois seguiam para uma área de experiências humanas e estudos. Provavelmente seria ali que estavam os dois.
- Sem mais palavras! - sussurrou Ralf, indo passo a passo.
O movimento seguinte dele foi uma ordem para que Rodrick apontasse qual das portas seria. O médico olhou por vinte segundos, analisando. Fazia muito tempo que estivera ali. Forçou ao máximo a memória para lembrar-se.
- Essa. - disse, por fim.
- Dê-me espaço. - falou Ralf. - um, dois... - sussurrou. -Três!
O corpo dele foi jogado contra a porta. Era dura. Derrubou-a em três tentativas. Caso não tivesse um gene exterminador teria tentado todo o dia. O estrondo da porta caindo no chão seguiu-se ao barulho de fendas metálicas da sala se derrubando quando Inseto levantou da cadeira e Morfo e Sapo posicionaram-se ao seu lado, lambendo os focinhos.
- Ora, ora... É bem mais agradável ver vocês com as novas cores de pele pessoalmente! - sorriu Arfey, ainda sentado na cadeira giratória. - Sabiam que não é de bom tom entrar em propriedades alheias sem ser convidado?
- O Centro de Análises é público e não... - Rodrick foi interrompido.
- O centro de análises foi construído em 2043 por Derick Crocker Rogan, meu avô. A família Rogan sempre teve grande poderio sobre essa cidade, você sabe disso, com toda a sua instrução, Rodrick. - disse Arfey olhando a identificação no peito do homem.
- Você não tem vergonha de ter começado isso? - perguntou Ralf, com a pistola em mãos.
- Vergonha é um sentimento para os fracos, meu caro. - disse Arfey, indo da esquerda para a direita em 180° com a cadeira giratória e a mão no queixo. - Eu quis salvar essa cidade. Eu quis salvar esse povo. Salvar a todos de serem vítimas de vermes que nos tornam doentes e que...
- CALA A BOCA! - gritou Emmy, dando um passo a frente. Ela segurava o arco a sua frente com a flecha apontada. - Cala a sua maldita boca! Não falará de nós dessa maneira! Escória!
- Olha só! - Arfey deu uma grande gargalhada e segurou a barriga. Parou somente alguns segundos depois, com os rosto vermelho e lágrimas nos olhos. - Pensei que morreria na primeira oportunidade garota! Mas dei-lhe uma chance. Esperava que me surpreendesse, por isso autorizei o seu teste também. Mas não sabia que seria contra mim esse ódio destilado! Queria que agisse assim perante os isolados.
Emmy tremia e uma lágrima caiu de seus olhos vermelhos.
- Tudo bem Emmy. - Ralf a fez baixar o arco. - Olha só! Você tem um minuto para nos falar se tem alguma chance de revertemos a situação! De acabarmos com os verdadeiros isolados! Uma chance! Ou eu atiro! - ele ergueu a pistola e o cano parecia brilhar contra a luz.
Morfo e sapo começaram a rosnar.
- Emmy e Joe. - disse Ralf. - Caso esses cães façam qualquer coisa para me impedir... os quero mortos.
Emmy segurou as flechas que ainda tinha na aljava e Joe apertou dois machados nas mãos. - E você termina o serviço com Inseto, Rodrick. - concluiu Ralf.
Arfey sorria. O olhou com ironia e desafio.
- Me mate e nunca terá respostas para sua questão. - disse Arfey, o sorriso se abrindo mais e mais.
- Venha conosco. - ordenou Ralf, com a arma apontada para o peito do cientista.
- Não sairei daqui, meu caro.
O tiro foi instantâneo. Porém Ralf desviara a mira para a coxa do homem. Um buraco foi feito nela e sangue descia pelo orifício, enquanto a bala queimava dentro da carne. Arfey gemia de dor agora.
- Venha conosco. - repetiu Ralf, enquanto Inseto tentava acalmar os cães e Emmy e Joe apontavam as devidas armas para os animais.
- Não... - disse Arfey, em meio a um suspiro.
Outro tiro.
- Aaaaaah! - gritou o cientista. O braço esquerdo agora. Queimava ainda mais.
- Venha conosco. - novamente disse o homem.
- Ele irá. - disse Inseto, ficando entre Arfey e Ralf. - Tudo bem, tudo bem... ele irá. Vamos, senhor...
- Eu... Não... irei... - falou Arfey, respirando com dificuldade.
Ralf apontou novamente a arma para o cientista e atirou no ombro.
- Para! Você vai matá-lo! E assim não terá ajuda nenhuma! - dissera Inseto. - Ele irá! Ele irá!
Arfey estava sentindo muita dor. Três tiros. Ele perdia muito sangue. Mas ele balançou a cabeça em sinal de dizer "sim".
- Você é cientista e Rodrick, médico. - disse Ralf. - Vocês tem dois dias para deixarem-no sem dor e pronto para caminhar.
Arfey foi posto na maca e Inseto trancou os cães em uma sala aos fundos. Ralf foi para fora e recostou-se na sacada. Respirando o ar denso. Só então caiu a ficha de que não via Arfey como isolado, mas mesmo assim atirou.
"Ele nos ajudará." Pensou Ralf, convicto. "Mostrará a forma de como acabar com isso, então eu mesmo cuidarei de dar quantos tiros precisar para que ele pague por tudo.".

Nova Z - O mundo isolado.Onde histórias criam vida. Descubra agora