PARTE 12- Cientista Inseto.

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No momento em que Morfo, um dos cães zumbis, abriu a enorme boca com quatro mandíbulas afiadas e dentes ainda mais pontiagudos, um tiro reverberou no ar. Rodrick havia atirado. A bala afundou no pescoço do animal com fúria. Morfo caiu e se debateu, mas logo estava de pé. Suas quatro mandíbulas novamente abertas e babando sangue. O outro cão já tinha partido na frente aos pulos. Sim, parecia mais pular do que correr.
Sapo. Joe lembrou que Inseto tinha dito o nome do cão. Sapo. Ele pula como um sapo.
Então Sapo pulou sobre Emmy, que desferiu um golpe com o arco nas mãos no rosto do animal. Segurou firme o arco em frente ao corpo, deitada ao chão, enquanto as mandíbulas do cão temtavam alcançar seus olhos.
Joe atirou contra a costela do cachorro. Sapo virou, latiu violentamente e saltou para cima do garoto. Baba respingava no rosto de Joe, quando Emmy teve tempo de tomar uma flecha nas mãos da aljava e encaixá-la no arco. O vento assoprou contrário e a flecha cravou na pele do cão. Foi o tempo que Emmy tomou outra flecha em mãos, mas não conseguiu encaixá-la dessa vez.
A sra. Benson estava desarmada e agora Morfo tentava alcançá-la, mas Ralf atirou na primeira mandíbula do cão. Ele grunhiu e Inseto gritou:
- Não façam isso! Parem! - o cientista então assobiou alto e os cães regressaram para o lado dele. Sapo com uma flecha enterrada na pele e sangue pingando na estrada. Morfo com perfurações de bala e com muito mais sangue lavando a pista.
- Meus queridos... vou ter que fazer mais curativos e remédios pra vocês! - disse Inseto, numa vozinha de um pai que mima um filho recém-nascido. - Está tudo bem. Tudo bem. Quietinhos, quietinhos...
- Olha só! Presta atenção, cientista de quinta! - Ralf agora apontava a escopeta na direção do homem. - Estaríamos mortos pelos seus cães se não tivéssemos armados! Agora fale o que quer ou acabaremos com você e esses seus filhos zumbis aqui mesmo!
- Acabar comigo não daria a vocês esperança alguma de terminar com isso! - falou ele, bravo. - Eu sou a única chave que vocês têm para salvar essa cidade! Pelo menos as pessoas que restam nela! Só basta fazerem uma coisa! Ficar do meu lado!
- Como ficaremos do lado de um louco que mandou os seus cães nos atacar? - perguntou Rodrick, impaciente.
- Ou vocês nos matariam. - disse Inseto. - Agora sabemos que nenhum tem de matar o outro. Estamos quites. Agora me sigam!
Inseto virou e saiu andando pela rua até virar um beco. Não olhou para trás. Tinha certeza que o seguiriam. Morfo e Sapo foram logo depois, machucados.
Ralf e Rodrick se entreolharam. Depois prosseguiram. A sra. Benson continuava a segurar as crianças perto de si e perguntar: "Vocês estão bem? Foram mordidos? Não? ". Joe e Emmy insistiam em balançar a cabeça de um lado a outro demonstrando que não.
Era noite quando chegaram a um prédio na rua Meltown 510. Os prédios daquele lado da cidade eram réplicas de modelos monumentais de Las Vegas. As luzes tomavam parte de todos eles. Painéis e placas luminosas cruzavam a faixa de ambos os lados. Postes que se destacavam nas calçadas com dez metros de comprimeto e adesivos coloridos em toda volta do começo ao fim os tornavam mais admiráveis. Mas agora tudo era lúgubre. Tudo cedia ao mistério e ao doentio. Riscas de destruição tinham aqui e ali, todas as luzes quebradas e a iluminação tinha ficado para trás. Exceto em um lugar.
Ali, meio quilômetro depois de ultrapassarem a faixa de pedestres, estava um laboratório. Rodrick lembrava-se perfeitamente daquele lugar. Muitas vezes tinha estado lá para tratar de exames de pacientes ou pesquisar processos medicinais enquanto estudava na faculdade. Lembra-se que uma vez tinha ido até lá acompanhado do professor de biologia. Estudaram por uma tarde radiografias e genes atingidos por bactérias. Mas agora estava tão fechado e tão sombrio que Rodrick relutou em acreditar que seria o mesmo lugar.
Todos estavam dentro agora. Em uma sala enorme e branca as luzes se acenderam. Agora sim estava claro. Bem visto. Agradável.
Inseto tinha posto os dois cães em cima de uma maca com um cilindro em volta. Na mão segurava a flecha de Emmy que tinha acabado de arrancar da pele de Sapo. Luzes azuis refletiam nos corpos dos animais. Parecia que ficariam bem.
- Você trabalha aqui? - perguntou Rodrick.
- Eu encontrei esse lugar ontem. Na verdade eu trabalhava na rua Carrymoon 34. Mas acabei escapando com meus cães uma hora antes do ataque, por coincidência.
Ele sentou-se numa cadeira giratória e acessou um computador de mesa. Ele digitava muito rápido e informações desconexas apareciam na tela do monitor. Ele as olhava por trás daqueles óculos de inseto.
- Trabalhei por muito anos ao lado de Arfey. - começou ele. - Na verdade nos conhecemos ainda na faculdade. E como vocês sabem, ele odiava negros. Quando era criança, ele me contou, um jovem negro que morava em Misty Eve o espancou até ele ficar desacordado em um lixão a céu aberto. Quando acordou não havia ninguém para socorrê-lo. Suas calças estavam na altura do joelho e sangue escorria nas nádegas.
Ralf ficou terrivelmente intrigado. Rodrick sentiu muito por isso. A sra. Benson pôs as duas mãos na boca e quase derramou uma lágrima. As crianças, Emmy e Joe, engoliram em seco. Ele era somente uma criança. Pensaram.
- Um ano depois... - continuou Inseto. - outros dois garotos negros queimaram o seu gato de estimação vivo. "Puseram ele em um balde de plástico com dezenas de papéis de jornal." Contou ele. " O balde era bem grande, então ele não teve como escapar. Enquanto eles riam bem alto segurando meus braços, o meu gatinho arranhava o balde por dentro. As chamas tomando conta de tudo." Disse ele.
Nem Ralf, Rodrick ou os outros falaram algo. Somente fitaram Inseto com tristeza no olhar.
- Ele guardou por muito tempo um ódio dentro de si. Achava que todos os negros eram iguais. Ou que o trauma dessas duas situações que ele sofreu poderia ocorrer a qualquer momento quando encontrasse um negro. Lembro que Arfey nunca saía daqui, desse laboratório. Pesquisava dia e noite sobre venenos e vírus. Probabilidades de mesclar os dois com um gene altamente corrosivo. Dedicou anos a isso. Então quando o questionei se era realmente isso que ele queria fazer ele me disse coisas horrendas. Me expulsou das pesquisas. Eu não me conformei e quis destruí-lo. Então comecei a pesquisar e analisar testes antigos que ele fez. Até que desenvolvi um antídoto que me fez sobreviver a isso. Ficaria imune caso o vírus de Arfey atingisse à todos. E foi o que aconteceu. Deu errado. Porém eu me livrei. Desde esse dia dedico meus estudos a criação de animais mutantes. Animais modificados. Como Morfo e Sapo.
Os cães latiram. Ralf deu um passo a frente e perguntou:
- E então... o que você quer conosco?
Inseto parou de olhar a tela e os mirou com olhar virtuoso:
- Vocês são meu próximo experimento! - disse ele, dando um sorriso bem aberto e em seguida pequenos risos. - O meu teste dois vai começar! Estão preparados?

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