Will Grayson III
Não imaginei que esse fantasma da violência fosse voltar de novo para me assombrar, para nos assombrar. Ver Indie naquela situação despertou tudo o que minha esposa passou anos deixando no passado. Quando os garotos chegaram, decidi tirá-la de perto dos nossos filhos e trazê-la para o escritório. Emmy está andando de um lado para o outro, sem dizer uma palavra.
Não é preciso que ela diga.
— Emmy, meu amor – seguro em seus ombros e quando ela me encara, meu coração parece quebrar em milhões de pedacinhos.
Seus olhos estão marejados, ela parece tão.. pequena e frágil. É como se estivéssemos tendo um déjà vu de tudo, principalmente para ela. As memórias nunca iriam embora, elas ficaram adormecidas por anos, Emmy fez tudo que pode para se recuperar de tudo que passou com o irmão. Milhares de sessões de terapia, tratamentos com doses baixas de calmantes.. mas tudo melhorou depois do nascimento da nossa primeira garotinha, Indie. Ela parecia brilhar de felicidade, fazendo tudo para manter nossa bebê saudável e dando todo o amor que só ela era capaz de dar a nossa filha. Nas gestações de Finn e Seg, ela já não fazia mais o uso dos calmantes e sua frequência na terapia diminuiu.
Ela estava radiante. Sempre sorridente, calma, tranquila e sua maior fonte de preocupação era nossos filhos que, por muito tempo, ela não aceitou que eles já não precisavam mais dela com a mesma frequência de quando eram crianças.
Mas hoje.. as memórias voltaram com força.
Eu quis matá-lo. Eu devia tê-lo matado. Nunca levantei um dedo para os meus filhos, ou sequer demonstrei tanta raiva na frente deles, mas hoje.. eu sai do controle. É como se todo o pesadelo com Martin tivesse voltado a tona.
— Eu não posso.. acreditar que esse fantasma voltou para me atormentar – minha esposa funga, as lágrimas molhando suas bochechas. — Tudo que eu passei em casa, com o Martin.. eu não imaginei.. que poderia acontecer com uma das nossas filhas.
Ela soluça e eu a aperto contra o peito. Deposito um beijo no topo de seu cabelo e ela se agarra ainda mais a mim.
— Ei, meu amor – bato com o dedo no queixo dela e seus olhos marejados voltam a me encarar. — Não podemos fazer isso, Emmy. Você não pode fazer isso, todas essas memórias.. essas lembranças.. nós não podemos deixar tudo isso voltar.
— Ele ia bater nela, Will – ela se afasta do meu peito, limpando as lágrimas com as costas de suas mãos. — Ele.. ele ia bater nela.. assim como ele fazia comigo. O que a Indie não está nos contando? Uns dias atrás, Noah aparece em casa tão bêbado quanto hoje e começa a cuspir coisas na cara dela, durante o baile ele tem uma crise de ciúmes e quase parte para cima dela. O que a nossa filha não quer nos contar?
Quando vou responder, uma batida soa na porta. Quatro batidas por vez.
— Entre, Finn – o silêncio perdura por longos segundos e logo a porta é aberta pela nossa segunda garota. Tão parecida com a mãe. Finn tem todos os traços de Emmy: rosto fino, porém, bastante sério, cabelos cacheados, olhos cor de amêndoa, com pequenas manchinhas verdes.
— Eu.. posso voltar outra hora – ela diz um pouco envergonhada. — Não quero atrapalhar.. a discussão de vocês.
— Não estamos discutindo, meu amor – a mãe dela a tranquiliza. — Estamos.. tentando processar o que acabou de acontecer com a sua irmã.
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DARK NIGHT | DEVIL'S NIGHT
RomanceINDIE GRAYSON Eu tinha tudo que precisava. Um namorado que me amava, uma família grande e calorosa, estudava na melhor faculdade do Estado. Mas eu sentia falta de algo. Sentia falta da emoção, da adrenalina, do meu coração bater tão forte que eu ach...