— Com certeza é novo por estes lados, para perguntar tal coisa.
O músico rodou o rosto bruscamente em direção da voz, com o coração a pular do peito por conta do susto. Deu de caras com uma mulher na flor da idade, elegantemente vestida e com os seus cabelos loiros apanhados num coque baixo. Os seus olhos azulados encaravam-no risonhos, com curiosidade a brilhar neles. Ao reparar no silêncio do jovem, os seus lábios abriram-se numa requintada voz:
— Estou errada?
Ele endireitou a sua postura e respondeu, pegando delicado na mão dela:
— Não, não está...
— Madame Edelgard. — Sorriu-lhe, acenando o rosto num cumprimento gracioso. — E o senhor?
— Moon. Moon Ludwig. — Ajeitou os seus óculos com a ponta dos seus dedos. — Prazer em conhecê-la.
— O gosto é meu. — Deu um gole no seu champanhe. — Diga-me, o que o traz a estas terras?
— Permita-me dizer que nem eu próprio o sei?
— Hm, um viajante em busca de respostas. — Brincou um a sua taça, rodando o líquido que tinha no seu interior. — Interessante.
Ludwig olhou-a confuso, mas logo o seu olhar desviou-se para a figura etérea que deambulava pelo salão, moldada pelo tecido delicado que a transformava numa personagem de contos de fadas.
Um pequeno riso saiu dos lábios da madame ao ver o encanto pincelado no semblante dele.
— Mélodie.
— Hm? — Encarou-a, distraído.
Ela riu-se, rodando a taça de champanhe e explicou:
— O nome dela é Mélodie.
Mélodie.
O coração dele pulou involuntariamente do seu peito, num galope. Sem saber o que responder, ergueu a face em direção dos olhos azuis, que o estudavam, risonhos e prazerosos pelo divertimento daquele momento.
— Bem, melhor ir andando. — Levantou-se e começou a afastar-se. — Tenha uma boa estadia connosco, senhor Moon.
A confusão instalou-se na mente dele após aquela frase.
— Espere.
A madame virou o corpo na direção da voz e parou o seu passo, numa postura impecável, aguardando pelas suas palavras.
— O que quer dizer "connosco"?
— Ah... — Ela sorriu, graciosamente. — Você não sabe?
O silêncio foi a resposta.
Um riso saiu novamente da boca dela.
— A pianista dos corações perdidos?
As memórias daquela tarde atravessaram a mente dele como flechas. A história, os olhares, a música, o ambiente, a jovem. Os seus olhos estavam incrédulos e a sua expressão estava boquiaberta, sem conseguir processar aqueles pensamentos que o bombardearam.
Palavras tremelicantes saíram num sussurro dos seus lábios:
— A Pianista...
Ela sorriu, dando um gole do seu champanhe e deu um passo na sua direção, mais outro e outro, dizendo com um tom requintado:
— Parece que alguém roubou seu coração. — Ergueu o rosto ao seu ouvido. — E devo dizê-lo, ela tem imenso bom gosto.
Naquele momento, instrumentos de sopro tais como trompetes, saxofones, acompanhado por baixos e contrabaixos soavam notas de jazz que pairavam por todo o salão. A improvisação das notas musicais eram um espelho das emoções que explodiram no coração do músico. Ouvindo as palavras da madame incessantemente na sua mente, como se buscasse resposta ao enigma que estava a sentir na sua pele, começou a caminhar perdido por todo o edifício, à procura de saídas, desviando-se dos garçons, serpenteando as mesas cheias de sorrisos, conversas e gargalhadas, ziguezagueando por entre as elegantes jovens acompanhados por ilustres cavalheiros bem aprumados.
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A Pianista dos Corações Perdidos
FantasíaMélodie, a pianista, cuja lenda conta que transforma suas vítimas em marionetes por onde passa, apenas com sua música, atraindo corações perdidos. Ludwig, um maestro e compositor preso num bloqueio artístico, foge de tudo e de todos até que, numa no...