Capítulo XI

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O sol tímido já havia se despedido após uma hora de ténue dia, dando novamente lugar à noite escura como breu, cuja melancólica luz do luar irrompia pelas claraboias do salão. Era final de tarde invernal, como todos os outros dias que se haviam passado na nova vida de Ludwig naquele lugar. Passava todos eles a folhear partituras e mais partituras, no silêncio da sala de partituras, numa paz inabalável.

Naquelas horas, lembrava-se das palavras de Apanii, sobre começar uma nova vida. E, nos olhos do maestro, parecia que a jovem amiga tinha alguma razão nelas. Por ele, ficaria todo o dia fechado naquela infinita sala, aprendendo mais e mais de mestres músicos que nunca tinha tido a oportunidade de estudar nas grandiosas cidades da Europa ou na sua terra natal, o reino de Joseon. Aquele lugar havia fortalecido a sua paixão pela música que estava quase a se apagar na noite que entrara em Elunaria.

Com um passo pacato, dirigiu-se ao balcão do bar e sentou-se num dos bancos vazios, de olhar pensativo.

— Alguma bebida forte após o trabalho, amigo? — O som do chocalhar do gelo dentro do recipiente metálico ressoava perto dos seus ouvidos.

Ludwig ergueu os olhos para o bartender, reconhecendo o rosto libertino. Era o capitão, ou, como era conhecido naquele bar, por Jahan. Os seus cabelos estavam desta vez soltos, caindo os cabelos rebeldes até aos ombros, alguns deles a emoldurar o rosto. As mangas da sua camisa estavam arregaçadas de forma a revelar os seus braços bronzeados e um dos seus pulsos com uma pulseira entrançada de couro. As suas mãos brincavam com a coqueteleira, rodando-a com acrobacias que surpreendiam algumas donzelas que estavam ali sentadas. O pirata piscou-lhes o olho e retornou novamente ao maestro, esperando pela sua resposta.

— Não, apenas um café.

— Que deprimente. — Havia uma certa ironia na sua voz. — Como pode aproveitar uma noite como esta, com damas encantadoras, sem uma boa bebida.

— Nem todos têm a tua reputação, Jahan. — Ripostou num tom seco. — Nem todos querem uma vida louca.

— Mas deveriam, a vida é curta demais. — Começou a decorar a bebida que havia preparado. — Devemos aproveitar cada momento como se fosse o último.

Ludwig revirou os olhos ao discurso filosófico do moreno. Não me parece que entregar-se à futilidade seja a resposta a esse lema de vida. Pensou em voz alto na sua mente.

— Como deseja o café, músico? Turco, vianense, escuro ou gelado?

— Vianense gelado.

— Como queira. — respondeu-se, sarcástico. — Você é que sabe.

Com isto, virou-se para a cafeteira e começou a preparar o pedido. O cheiro a café pairou no ar à medida que o moreno o misturava com uma generosa quantidade de creme de leite. Por fim, adicionou gelo e serviu a bebida, pousando-a diante do maestro.

— Aqui está, amigo.

Sem fazer muito contacto visual, pegou na xícara.

— Agradeço. — E bebericou, experimentando o sabor.

Jahan encarou-o por breves segundos, pensativo, até que, passando-se despercebido, começou a limpar alguns copos já vazios e lavados, e tentou continuar a conversa:

— Então, diz-me, contamos contigo no próximo encontro dos Corações Perdidos?

— E isso seria quando, ao certo?

— Um dia após a lua cheia.

— Facilita-me a vida, não tenho um calendário lunar no meu bolso propriamente, Jahan. — Deu mais um gole no seu café, com uma expressão impaciente.

A Pianista dos Corações PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora