Capítulo V

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Ludwig, apercebendo-se que já tinha se colocado confortável num dos bancos, encostado ao balcão, rodou o rosto em direção da voz, dando de caras com um homem poucos anos mais velho, aparentando não ter chegado aos 30. Tinha uma postura charmosa, com a sua pele bronzeada pelo sol, os cabelos castanhos-claros levemente ondulados ando pelos ombros, semi-apanhados. Os seus olhos eram cor chocolate e tinha um rosto bem definido, transmitindo respeito mesmo com a sua expressão relaxada. Estava por detrás do balcão, remexendo e criando bebidas como se fosse simplesmente uma relaxada brincadeira para as suas mãos que giravam os recipientes pelo ar, ouvindo-se o remexer do gelo e das bebidas no seu interior.

— Perdoe-me? — Finalmente, ao fim de poucos segundos de observação, respondeu-lhe.

Ao reparar na expressão confusa do músico, o moreno deu um sorriso de lado, que aparentemente havia conquistado das jovens moças que estavam sentadas ao lado dele, ouvindo pequenos risinhos. Com isto, pousou o recipiente e estendeu-lhe o braço:

— Sou Jahan, o barman.

— Chamo-me Moon Ludwig. — Aceitou o gesto, apertando-lhe a mão. — Pode tratar-me por Ludwig.

— Nada de formalidade, amigo. — Finalizou o cumprimento e voltou à confeção das bebidas. — Todos os Perdidos estão no mesmo barco.

Ludwig encarou-o, arqueando levemente as sobrancelhas.

— Também és um?

— Meu caro, se não fosse, não estaria aqui fechado com certeza. — Depois, olhou para as jovens de uma forma charmosa. — Mas, felizmente, tenho uma encantadora companhia dessas donzelas.

Elas riram-se, envergonhadas, e uma delas deu um gole no seu champagne, respondendo:

— Deve dizer isso a todas, Jahan.

— Não todas. — Pegou na sua mão e pousou ao de leve seus lábios e então, sorriu-lhe, com um brilho sedutor reluzindo nos seus olhos. — Milady.

A jovem loira de olhos azuis sorrira para ele, com as maçãs do rosto rosadas de vergonha. A amiga ruiva, com ciúme transparecendo nos seus olhos, revirou o olhar e puxou-a pelo braço, dando como desculpa que o álcool havia lhe tocado.

O moreno, observando com uma expressão divertida, retornou a focar-se no músico, cujo já pensava que estava ali a mais, interrompendo algo.

— Peço desculpa, parceiro, sabes como é. — Começou a limpar os copos vazios. — Em todos os mundos, o charme continua o mesmo.

O asiático ergueu as sobrancelhas e com um tom irónico comentou:

— Posso imaginar.

Com um sorriso de lado estampado nos seus lábios, o barman retomou o seu foco.

— Lírio falou-me que te deram a sala da clave de sol. — Com isto, buscou uma argola cheia de chaves ao seu bolso, retirando uma delas, estendendo-lhe. — Aqui tens, não a percas.

Ludwig assentiu o rosto, com o olhar focado na pequena chave acobreada.

— E o que é suposto eu fazer? — Encarou-o, interrogador.

— Quando chegares lá, saberás. — Os seus olhos mostravam um brilho manhoso. — Diverte-te, amigo.

Sem dirigir mais nenhuma palavra, dirigiu-se a recém-chegados clientes que tagarelavam entre si, cujos mexericos conseguiam-se ouvir até na ponta mais afastada do balcão. Ludwig, prestes a abrir a boca para perguntar algo, desistiu, ao observar o quão o barman já estava concentrado a encantar a nova clientela, fechou os lábios e olhou novamente para a chave. Ela era toda acobreada e adornada, com uma clave de sol centrada no eixo da haste da chave.

A Pianista dos Corações PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora