Capítulo XII

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Estava um silêncio calmo, cujo era interrompido apenas por passos descompassados e observadores, à medida que se embrenhavam pelo labirinto de corredores escuros como breu, apenas levemente iluminados pelas luzes das candeias que cada um dos vultos segurava.

— Estamos quase a chegar. — Uma voz feminina pairou no ar. — Falta apenas mais uma esquina.

O maestro assentiu o rosto, desconhecendo todo aquele pequeno troço que estava para além do caminho que fazia todos os dias para a sala de partituras. A aparência da estrutura era similar a todos os corredores que já havia cruzado, todos preenchidos por pequenos mecanismos e engenhos. Apesar de já ter-se cruzado tantas vezes na última semana, parecia-lhe ainda surreal aquele lugar. Até que, os seus olhos começaram a se arregalar, à medida que os corredores foram-se alargando e alargando, até formar uma colossal e arrepiante fachada metálica, com enormes portas gravadas com detalhes clássicos e arquitetónicos.

Apanii, sem se parecer muito surpreendida, com uma expressão neutra e de olhar atento, iluminado pela luz dourada da candeia, colocou a mão no seu bolso, tateando à procura de algo, até que a retirou, trazendo uma chave similar à da sala de partituras, mas, em vez de ter uma clave de sol, tinha duas colcheias a adornar o pequeno objeto.

Deu um passo em frente e encaixou a chave na fechadura, rodando-a. Ouviu-se um clique e rodou a maçaneta, abrindo as duas estrondosas portas.

A visão que dali se revelou deixou os lábios de Ludwig boquiabertos e sem palavras.

Tal como a sala de partituras, era uma enorme sala quase infindável de estantes e estantes repletas de livros. No entanto, algo chamou à atenção dos olhos curiosos do músico. Aquela sala tinha a parede do fundo à vista, aquela sala era finita, ao contrário daquela que ele cuidava.

Ele caminhou até á estante mais próxima e deslizou com a ponta dos seus dedos pelas capas duras dos livros que ali estavam, tentando procurar por algum que lhe era familiar. Os seus olhos arregalaram-se à medida que decifravam as palavras gravadas neles. Nenhum deles era do seu mundo, não havia nenhum livro que ele já tinha ouvido falar.

Com a sua mente a bombardear de perguntas, teorias e exclamações, apressou o seu passo até à outra estante mais próxima e rapidamente deslizou a mão neles, lendo na diagonal os títulos dos livros. Mas não valia a pena, ora eram de línguas que nunca tinha ouvido falar ou de escritores que lhe eram tão estranhos que aguçavam mais e mais a sua mente.

— Estes livros...

— Não são do nosso mundo.

Ele virou-se para trás, em direção à voz, encarando Apanii, cuja face estava calma e serena. Por vezes aparentava ser uma guardiã, com a sua expressão sempre paciente e sábia, após tantos anos vividos apesar da sua aparência jovial. Os seus lábios abriram-se e fecharam-se várias vezes, sem palavras para dirigir-se à morena, até que, incrédulo, apenas uma palavra saiu:

— Como?

— Este mundo é peculiar, Ludwig. — Deu um passo e mais outro, aproximando-se da estante que estava por trás dele. — Nem mesmo após 250 anos consegui decifrar todos os seus segredos.

Com isto, ela retirou um dos livros e abriu-o ao meio. Dali, revelaram-se páginas, páginas e páginas de mapas cartográficos de territórios e reinos que a sua língua nem sabia como pronunciá-los.

— Felizmente, com o bastante tempo da minha vida aqui, consegui aprender algumas línguas e dialetos vindos de outros mundos. — Os olhos castanhos-escuros reluziam-se à medida que encarava as páginas do livro. — Mundos que apenas existiam nos livros do nosso mundo, Ludwig.

A Pianista dos Corações PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora