Capítulo XIV

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Sentia o seu peito a palpitar pela forte ansiedade que sentiu naqueles longos segundos anteriores à descoberta. Dali, desvendou-se um corredor mais negro do que o breu interrompido por uma longa carpete estranhamente brilhante e vívida de um tom dourado. Nas paredes laterais, havia uma colossal estrutura igual ao interior de um piano, cuja altura colocava medo até mesmo aos mais altos prédios das capitais europeias por onde havia andado. Os martelos eram enormes, erguidos lá no alto alicerçados por pilares de cobre, esculpidos com ranhuras, representando as cordas de um piano.

Aquela visão era de cortar a respiração. Ludwig não tinha qualquer reação, os seus olhos estavam esbugalhados e os seus lábios boquiabertos. Estava petrificado pelo quão pequeno se sentia naquele misterioso lugar.

Um estrondo ouviu-se por trás de si. Ludwig olhou para trás e o seu coração falhou uma batida. A porta havia-se fechado e a parede tornou-se totalmente breu. Com a respiração ofegante e suores frios acumulando-se na palma das suas mãos, olhou para todos os lados, desorientado e sentindo o medo a apoderar-se da sua mente.

O que eu faço agora? Onde raios eu me meti?

Encarou para a colossal sala que estava diante de si, com a sua mente totalmente em branco. Hesitante, deu um passo e mais outro, adentrando-se pelo caminho da carpete dourada. O silêncio era ensurdecedor, causava-lhe arrepios que deslizavam por todo o seu corpo. A quietude daquele lugar era igual ao vácuo. No final daquele corredor quase infinito, a carpete deu uma inesperada curva, formando uma esquina, onde dali a estrutura modificava-se aos poucos, alicerçando enormes teclas brancas e negras apoiadas pela estrutura de cordas de cobre.

À medida que caminhava, deslizava a sua mão pela superfície polida e suave das teclas do piano, sentindo-se por momentos dominado por uma sensação de nostalgia que ele próprio desconhecia a sua origem. Parecia estar mergulhado num sonho, revivendo todas as suas memórias da sua vida através de rápidas e fugidias visões delas, embalado por elas.

Abanando fortemente a cabeça, tentando manter-se focado e vigilante, uma melodia suave dedilhado pelas notas do piano começaram a embalá-lo, acalmando o seu coração aflito. Os seus olhos rasgados esbugalharam-se ao reconhecer aquela música.

— Mélodie.

Ao tentar encontrar o rastro da música, pequenos grãos dourados pairavam perto da sua mão, formando ténues notas musicais. Antes que pudesse tocá-los, eles fugiram da ponta dos seus dedos, esvoaçando pelo ar ao longo das oitavas do piano, até parar diante de uma nota em específico, a nota sol. Apressou o seu passo até parar diante dela e, hesitante, pousou a mão na tecla, tentando procurar qualquer pista.

Mal pousou a ponta dos seus dedos na superfície branca, ouviu-se um clique que fez o coração de Ludwig pular do seu peito de susto. Dali, um corredor mais negro do que o próprio negro surgiu diante dele. Não havia nada além da ausência de luz, era como o vazio de um buraco negro. As partículas de pó dourado afastaram-se da mão de Ludwig e adentraram-se pelo túnel, desvanecendo-se diante dele.

O único som que ecoava naquela sala era o bater ansioso do coração de Ludwig, cujos olhos rasgados não se conseguiam desviar na negra passagem secreta, que chamava por ele. As melodias das notas do piano continuavam a sussurrar delicadamente aos seus ouvidos como o canto de uma seria que o atraía para a escuridão diante de si.

Respirou profundamente e fechou os olhos, dando um hesitante passo, pousando em terra misteriosamente firme. Surpreso, abriu os olhos que logo foram cegos pelo breu que o rodeava infinitamente. Um som grave surgiu por trás de si e aos poucos, a ténue luz do exterior que o iluminava desapareceu.

Estava em completa escuridão.

O seu coração palpitava forte no seu peito, pelo medo e pela melodia que o continuava a rondar. A mente de Ludwig notava algo de estranho no sentimento dela, parecia que era um lamento e um choro, apesar de todas as notas musicais serem exatamente iguais há de todas as vezes que havia ouvido. Sendo persuadido por uma ideia louca que lhe tinha ocorrido, fechou os olhos e deixou-se levar pela melodia que o atraia. Sentia as suas mãos a ficarem quentes, a mesma sensação de quando alguém pegasse na sua mão e começasse a guiar o caminho, mas tudo aquilo, apenas através daquela música.

A Pianista dos Corações PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora