A ausência era capaz de aniquilar os corações mais fracos.
Os anos perdidos jamais voltariam porque o tempo era cruel e o passado imune ao arrependimento e perdão.
Lágrimas derramadas por jovens solitários, com anseio de amor verdadeiro, fidelidad...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Você me traiu Porque eu sei que você nunca vai se arrepender Pelo jeito que me machucou
Traitor
A fantasia pinicava a cada movimento que fazia, tentando inutilmente imitar os colegas de classe e professora. O farfalhar do papel verde a incomodava. A música infantil não era cantada por ela. Os olhos de Alina não buscaram por nenhum rosto familiar na plateia, porque ela esperava por um estranho, e esse homem teria que vir até ela, não mais o contrário.
Enquanto os rostos infantis sorriam, ela segurava-se para não jogar-se no chão e gritar com todos.
No fim da apresentação, todos correram para a mesa ao lado, pegando uma flor e indo até seu responsável. Alina foi à última por escolha própria. Segurou com cuidado o pequeno vaso que cabia na palma da mão.
Ela não se moveu. Manteve-se parada no lugar mais alto, esperando ser chamada.
Ainda era uma flor. Com folhas presas em seus ombros, caindo nos braços magros e longos. Seus cabelos não combinavam com o tom cor de rosa das pétalas na cabeça.
— Petite fleur, estou aqui.
Alina esforçou-se para dar um passo a frente.
Era seu avô. Seu amado e precioso vovô.
Não era quem ela esperava, mas ele sempre seria melhor que todos os outros.
Com cuidado para não destruir a flor, levou o pequeno presente ao avô, recebendo dele um abraço apertado com cheiro de livros antigos.
Ela amava o avô mais que qualquer coisa.
Quando fechava os olhos para imaginar a figura de um pai, queria que tivesse os mesmos olhos verdes gentis do avô. Alguém que pudesse contar histórias tão bem. Um porto seguro em dias ruins. Ele nunca a deixava sozinha quando sabia que estava desanimada ou sem esperanças, o que costumava ser comum para Alina.
Aquele homem jamais seria seu pai, porque sua mãe tivera a sorte de viver sendo filha dele. Alina jamais pensou ser digna de um pai tão bom.
Viver naquela pequena cidade, com ideais tão antigos e precários, fez com que acreditasse existir algo de errado dentro de si. Ela se questionava por qual razão um adulto a deixaria. Um casamento só existia com duas pessoas, e faltava uma para completar sua família. As fotos saiam estranhas na concepção dela, então raramente queria registrar algum momento ou parecer feliz.
Ela não odiava a vida que tinha, apenas não gostava de perceber que existia um vazio na sua família.
Os anos tornavam as pessoas em seres cruéis, e todos faziam os mesmos questionamentos que ela. Por que a mãe dela voltara com um bebê? Quem era o pai de Alina? Nenhuma resposta era dada, então era obrigada a ouvir comentários que mais tarde descobriu serem insultos.