Capítulo 18

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              Viver é uma dádiva.

Em tudo dei graça, o casamento é uma dádiva divina, uma criação de Deus, é o que o pastor dizia, mulheres sejam submissas aos seus maridos, ame-o e o respeite, ele é o provisor do lar, o homem da casa, o pastor continuava.

Estou com meu vestido branco que simboliza pureza, o único homem que pode me tocar é meu marido, me sentindo uma princesa, sentada no banco de madeira gélido da pequena igreja, escutando o pastor falando sobre o casamento e segurando a mão do meu abençoado marido com a Bíblia sagrada em cima das minhas pernas.

Pastor: Ajoelhem-se diante do nosso Deus todo poderoso. - Ordenou e assim todos fizeram. - Oremos.

Ajoelhada de cabeça baixa agradecendo a Deus por tudo que ele tem feito por mim, obrigada Deus por me dar saúde, obrigada por ter permitido que eu continue viva, obrigada pelas cicatrizes no meu corpo, obrigada, obrigada pelo o que? Obrigada senhor por permitir que eu tenha sido violada, sequestrada e mutilada.

Obrigada por não me proteger, não me cuidar como a menina dos teus olhos, mas agora eu entendo que o senhor nunca esteve aqui de verdade, foi só uma criação que eu tive para suprir minha carência.

Eu me casei com um monstro de Deus mas todos o chamam de homem de Deus, qual a diferença? Perdão, eu não enxergo, ajoelhada e de cabeça baixa, me sentindo uma tola por estar brigando com alguém que sequer me escuta ou sequer existe.

Meu corpo gélido, minha boca seca e minhas mãos tremendo, minhas pernas falharam, não consigo me manter em pé, sem forças para correr, eu preciso fugir desse lugar, talvez ele seja tão sagrado que eu não deva permanecer aqui, a pecadora sou eu.

No meio de tantas pessoas de branco meu esposo agarrou meu corpo com violência, depositando alguns tapas no meu rosto mas ninguém questionou, o pastor alegou que o servo de Deus só estava corrigindo sua esposa que não se portou bem, Kelvin só está me corrigindo.

Angel: Perdão querido. - disse chorando. - Eu me portei mal, não vai se repetir.

Kelvin: Eu odeio precisar usar violência para lhe corrigir mas você não me da outra alternativa. - afirmou bravo.

Pastor: Mulher, seja submissa ao seu marido. - disse na minha frente.

Kelvin: Obedeça a Deus, querida. - Ordenou alterado. - Você é minha esposa, deve se submeter a mim.

Pastor: Ajoelhe-se e lave os pés do seu marido como forma de pedir perdão. - Ordenou frio.

 
  Lentamente abri meus olhos, estou em uma cama de hospital com uma agulha injetada no meu braço e outra na minha mão, céus, foi apenas um pesadelo, mesmo depois de morto eu continuo presa a ele e todo mal que me foi causado.

A porta foi aberta lentamente revelando o garoto com traços asiáticos na sua face, ele me olhava com um sorriso lindo, em suas mãos trazia o seu violão e na outra uma rosa.

Hunter: Eu queria te ver. - Explicou adentrando completamente o cômodo. - Espero não estar incomodando.

Angel: Não incomoda. - respondi com um pouco de dificuldade para respirar. - Hunter, né?

Hunter: Eu vim preparado para caso você esquecer meu nome. - afirmou risonho mostrando um crachá escrito "Hunter, o garoto fofo do violão".

Angel: Garoto fofo do violão? - questionei sem conseguir conter o riso.

Hunter: Você me apelidou assim bonequinha. - explicou.

Angel: Eu? - questionei interessada no que estava prestes a ouvir.

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