A regra era que eu deveria estar em casa antes que o sol descesse abaixo da linha das árvores no lado oeste da trilha de cascalho que ia para minha casa.
Era o melhor dia da minha vida.
Passei a mão pelo meu cabelo e cheirei.
Na antessala, tirei meus sapatos e o casaco. Levei o boné de Bosten nas mãos e cuidadosamente entrei na sala. Tudo lá dentro cheirava a cigarros e ao salmão que fritava na
cozinha.Meu pai ia pescar todo fim de semana.
Ele estava vendo televisão quando entrei. Olhou para mim, para ter certeza de que eu não estava usando nada na cabeça, então tirou outro cigarro do maço e gritou para a cozinha.
- Ele chegou.
Ouvi minha mãe tossir ou coisa assim, e meu pai olhou para mim de um jeito mais detido.
- O que há com você? - ele disse.
- Hein? Ah... Nada... Pai.
Às vezes, na nossa casa, era como se eu e Bosten fôssemos como insetos em papinha de bebê.
Eu me movia com cuidado para onde quer que fosse. Não conseguia ouvir nada que eu mesmo fazia, mas me perguntava o quanto eu deixava o mundo deles barulhento, já que eles
tinham duas orelhas e tudo.Fui para o lado da televisão, ainda segurando o boné de Bosten. Dei uma olhada discreta para o corredor, bem rápido, torcendo para que meu pai não notasse que eu estava espiando.
A chave ainda estava na fechadura abaixo da maçaneta da porta do quarto extra.
Ou seja, Bosten ainda estava lá dentro.
Assim que cheguei à escada do porão, meu pai falou comigo.
- Pegue umas roupas para o Bosten e mande-o tomar um banho antes de jantar. Ele já pode sair.
- Certo.
O quarto de Bosten era ao lado do quarto extra.
O quarto dos meus pais era no andar de cima. Nós nunca íamos lá. Quando passei pela porta do quarto extra, dei duas batidinhas com os dedos para ele saber que eu estava chegando.
Deixei o boné de Bosten em sua cama e peguei roupas limpas e uma toalha para ele.
Eu estava feliz pelo meu irmão.
Parecia já ter passado anos desde o jogo da noite passada.
Pus todas as coisas que peguei no degrau mais baixo no fim do corredor.
Dei uma olhada mais uma vez para ter certeza de que ninguém estava me observando, então subi com muito cuidado para o banheiro da minha mãe.
Não era nada como o banheiro de Emily. O da mamãe cheirava a cigarro e ao tipo de sabonete floral que minha professora de inglês usaria.
Havia um pote azul pequeno de creme para as mãos ao lado da pia com um monte de coisas esquisitas de mulher espalhadas em volta.
Eu não tinha a menor ideia de para que serviam todas aquelas coisas.
Pensei que aquelas eram coisas que apareciam nas revistas, porque os apetrechos sexuais não tinham me ensinado nada de verdadeiro.
Furtei aquele pote de creme para as mãos. Coloquei-o dentro da minha camisa, abotoei e voltei escada abaixo para falar com meu irmão.
Girei a chave e abri a porta do quartinho escuro.
Bosten estava deitado naquele projeto de cama, coberto com um lençol. Estava de lado com as costas voltadas para mim, então eu não soube dizer se ele estava dormindo ou não.
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Minha metade silenciosa
AdventureStark McClellan ou Palito, tem 14 anos e uma vida conturbada, além de sofrer bullying devido à uma deformidade em seu rosto, Palito e seu irmão mais velho Bosten, o humano que Palito mais gosta no mundo, sofrem diariamente os abusos dos pais. Cansad...