Bosten

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Eu sei .

Estou flutuando.

E vejo todas as pessoas que vêm e vão, e vêm e vão, carregadas pelas correntes contra as quais não podemos nadar.

Às vezes, estendemos a mão para elas, mas nossa tentativa de tocá-las é efêmera.

Paul Buckley, Willie, April, Sutton, Emily.

Soment e os sons e as palavras ficam presos na minha cabeça.

Aqui estão cinco tiros.

Aqui está o santo.

Bosten e eu nunca deixaríamos o mar nos separar e nos afogar.

Nós dois sempre fomos tudo o que nós tivemos na vida.

O braço de alguém está sobre o meu ombro.

Havia uma respiração quente e pesada perto do meu pescoço.

- Palito?

Meus olhos estavam fechados, e eu sei que isso vai soar estranho, mas eu senti o cheiro do Bosten.

Conheço o cheiro do meu irmão, esteja ele limpo ou sujo, molhado ou seco.

Antes que meus olhos se abrissem, eu sabia que era Bosten que estava ali ao meu lado, e as palavras na minha


cabeça imploravam não deixe que isso seja um sonho.

- Palitoso?

Então eu o vi.

- Você não vai dizer nada?

Bosten pôs as mãos sobre meus ombros, seus olhos a centímetros dos meus.

Eu não conseguia falar.

Ele estava diferente.

Acho que eu estava também.

Porque tudo tinha mudado.

Bosten estava magro, pálido e cinzento. Seus olhos estavam muito negros e ele parecia um homem adulto. Havia uma penugem levemente dourada em seu queixo e na dobra dos maxilares, em frente às orelhas.

Ele estava com as mesmas roupas que usava naquele dia em que a senhora Buckley o levou lá para casa, mas elas agora estavam imundas.

Sua camiseta estava marrom e a


camisa de fora tinha buracos.

Mas era meu irmão.

Eu o agarrei e encostei meu rosto em seu pescoço.

Não falei nada e também não o soltei.

Percebi que Bosten estava chorando.

Aquela era uma coisa que meu irmão nunca tinha feito na minha frente.

- Me desculpa Palitoso. Eu não queria te deixar com medo nem nada assim.

Pus minha mão em seu cabelo e o afaguei.

- Eu estava com tanto medo.

E estava com muito medo de verdade de que aquilo fosse um sonho, então o afastei e olhei para ele de novo. Seus olhos estavam marejados e eu os enxuguei com os polegares.

- Mas que diabos... Cacete, Bosten...

E comecei a chorar também.

- Gostei do seu cabelo - e Bosten passou a mão como um pente sobre a minha cabeça.

-Você precisa de uma roupa nova. E de um banho - eu disse, puxando os pelos em seu queixo. - E precisa começar a se barbear também.

Olhei por sobre o meu ombro. Steve não estava mais lá. Não havia mais ninguém naquela saleta a não ser meu irmão e eu.

Minha metade silenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora