Willie

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No meu aniversáriode 14 anos, dormi no banco de trás do carro que eu tinha roubado.

Estava enrolado em um saco de dormir com a cabeça sobre as roupas do meu irmão, que ainda cheiravam a cigarro e ao desodorante de Paul.

Eu tinha estacionado em um terreno lamacento atrás de um posto de gasolina, esperando até que alguém chegasse e abrisse o lugar.

Sabia que estava em algum lugar ao norte de Portland, e o Toyota tinha ficado sem combustível.

Com medo da polícia, eu me mantive longe das rodovias principais tanto quanto pude, mas tinha quase certeza de que eu tinha feito uma curva errada depois de entrar no Oregon e acabei indo mais na direção do Canadá do que da Califórnia.

Arrumar um mapa provavelmente seria uma boa ideia.

Eu estava com muito medo de parar em um posto.

Nunca na vida tinha parado para pôr gasolina em um carro só por minha conta, e nos últimos dois dias eu tinha me convencido de que todo mundo estaria à procura do ladrão de carros que não linha a orelha direita.

Então, nunca tirei o gorro dos Steelers que Emily me deu.

Passei a maior parte do primeiro dia parado ao lado do rio Cowlilz, com fome e à espera de alguma coisa que nunca aconteceu.

Fiquei sem gasolina na noite de quarta, por volta das l0 horas.

Tive de deixar o carro em ponto morto e empurrá-lo sozinho com a janela aberta para que eu pudesse manobrar até chegar em algum lugar.

Estava chovendo enquanto eu fazia isso, então joguei o gorro de Emily dentro do carro e continuei empurrando, contando os carros que iam passando por mim sem nem mesmo diminuir a velocidade. Foram onze.

Na hora em que finalmente cheguei ao posto, estava ensopado e tremendo.

Tirei toda a roupa ali mesmo naquele chão de lama atrás de um maldito posto de gasolina, nos arredores
de um lugar chamado Scappoose, no Oregon, em meio à escuridão e à chuva, para então poder vestir roupas secas e me acomodar no saco de dormir aquela noite.

Deixei todas as coisas molhadas no porta-malas. Não tinha comido nada desde o dia anterior.

Era assim que as coisas seriam, eu decidi.

Quando deu meia-noite, cantei "Parabéns" para mim mesmo.

Só havia três pessoas no mundo de que eu sentia falta: Bosten, Emily e a tia Dahlia.

Então, fingi que eles estavam todos ali, cantando comigo, mesmo que aquele lugar parecesse tão ermo.

A chuva soava como um enxame de insetos tentando devorar a carcaça do carro para poder entrar.

Eu estava com medo. Então, fui dormir.

Willie Purcell uma moça chamada April, que naturalmente presumi que fosse esposa ou namorada dele, me viram por lá e me acordaram batendo no vidro do carro por volta das 9 da manhã do dia seguinte.

A chuva tinha parado durante a noite. O céu estava claro e azul.

- Está tudo bem? Você está bem, amigo? - e Willie continuava batendo no vidro com uma moeda entre o polegar e o indicador.

Quando abri os olhos, lancei um olhar atravessado para ele.

O que mais alguém poderia fazer?

Aquele som estava bem próximo da coisa mais irritante que eu já tinha ouvido e eu só queria que ele parasse com aquelas malditas batidas.

Minha metade silenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora