O vôo de Los Angeles à Seattle não era longo o suficiente para fazer aquela tristeza sair da minha cabeça, ou para me fazer parar de pensar no monte de "nuncas" que iam se empilhando: "nunca isso" em cima de "nunca aquilo", sobre um "nunca aquele outro", como montanhas à minha frente.
Logo antes de o avião pousar, Bosten me deu um soquinho no ombro e disse:
- Sai dessa.
Dei um soquinho de volta:
- Sai dessa você.
- Eu sei.
- O que o Paul disse ontem à noite?
Eu já sabia a resposta. Dava para dizer pelo modo aliviado como meu irmão passou a agir depois que Dahlia e eu voltamos de nossa caminhada.
- E... Ele disse que já terminou com a namorada.
- O experimento dele não foi muito longo, né?
Bosten sorriu e balançou a cabeça.
-Não.- Ah, meu Deus ! Olha só para vocês dois! - exclamou a senhora Buckley praticamente às lágrimas quando nos viu no aeroporto.
Dei uma olhada rápida para Paul e vi em seus olhos o quanto ele queria abraçar meu irmão.
E pensei: Por que ele não pode fazer isso? Que coisa besta.
- Vocês estão tão morenos! Parecem outras pessoas! - ela disse. - Olha só para esse cabelo!
Acho que não tinha percebido o quanto ficar no mar o dia todo tinha mudado nosso visual.
Estávamos bronzeados e com uma aparência saudável.
Até a senhora Buckley mencionar, eu não tinha nem notado o quanto o cabelo de Bosten tinha ficado mais claro.
E agora estávamos de volta, na terra das salamandras das cavernas.
Onde minha mãe e meu pai moravam.
Além de me causar uma ereção todas às vezes em que eu a via, a senhora Buckley também dirigia o carro mais legal que alguém podia imaginar.
Era um Trans Am azul e branco
novinho, completo, com ar-condicionado e uma coisa parecida com um grande pássaro pintado
no capô.Bosten e eu enfiamos nossas coisas no porta-malas e então Paul disse:
-Vou deixar o Palito ir na frente. Ele é o mais alto mesmo.
Eu não achava que era o mais alto, mas também não ia implorar para me espremer no banco de trás.
Aliás, sempre existia a possibilidade de a mãe dele esbarrar os dedos na minha perna quando fosse mudar de marcha.
Quando chegamos ao outro lado do Estreito de Puget, a senhora Buckley perguntou se precisávamos ir em casa pegar roupas ou alguma outra coisa, e Bosten e eu dissemos "não"
ao mesmo tempo.Virei-me para trás e olhei para o espaço entre os bancos.
Paul estava com a mão no joelho de Bosten, e o braço do meu irmão estava esticado no topo do banco com os dedos encostando-se à nuca de Paul.
Era algo até inocente, eu acho, e
não tinha jeito de a senhora Buckley adivinhar o que se passava.Eles pareciam muito contentes, e eu ficava feliz com aquilo. Mas talvez eu tenha admirado por tempo demais, porque Paul me lançou um olhar furioso que me fez voltar para a frente.
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Minha metade silenciosa
PertualanganStark McClellan ou Palito, tem 14 anos e uma vida conturbada, além de sofrer bullying devido à uma deformidade em seu rosto, Palito e seu irmão mais velho Bosten, o humano que Palito mais gosta no mundo, sofrem diariamente os abusos dos pais. Cansad...