Evan e Kim

68 8 0
                                    

Passamos pelo portão na cerca de Dahlia e fomos andando descalços pela areia em direção ao cais.

- Aqueles são Evan e Kim - disse Dahlia, apontando para duas figuras escuras que subiam e desciam nas ondas feito focas perto das pedras da arrebentação.

- Vou voltar em casa para limpar a mesa do café. Vocês dois sentem aqui e esperem por eles. Disse a eles que vocês estariam aqui. Eles vão vir quando virem vocês.

Bosten se sentou perto de mim na areia. Estava tão quente que tiramos nossas camisetas.

- Então eles surfam aqui - disse Bosten.

Ao fundo, atrás dos dois garotos nas pranchas, alguns quilômetros água adentro, dava para ver vagos contornos de ilhas. Dei um chutezinho no pé do meu irmão.

- Este deve ser o lugar mais legal do mundo.

- Palito...?

- O quê?

- Você alguma vez já pensou em...


Bosten começou a perguntar alguma coisa, mas eu o cortei.

- Não. Nunca.

Porque eu sabia o que ele ia dizer, e, sim, eu pensava naquilo o tempo todo: como seria viver longe dos nossos pais. E ele sabia que eu pensava nisso. Não era necessário falar.

Uma ondinha quebrou por perto. A água profunda e esverdeada se erguia acima do topo na


extremidade do cais de pedra, cuspindo espuma branca sobre as rochas pontudas.

Fiquei olhando enquanto os garotos na água se deitaram sobre suas pranchas e começaram a remar


diagonalmente em direção à crista da onda.

Perguntei-me se eles usavam a parafina.

Um dos vultos de surfista apontou a prancha na direção contrária e escapuliu por cima da onda, enquanto o outro esticou os braços contra sua prancha, se agachou devagar e, daquele jeito mesmo, deslizou pela onda que se armava, virando-se quando chegou embaixo, escalando de novo e descendo mais uma vez até sumir completamente, engolfado pela espuma da onda


que quebrou.

Pouco depois, ambos reapareceram em pé com a água na altura dos joelhos e vieram andando pela praia na direção de Bosten e eu, carregando embaixo do braço suas pranchas com as cordinhas atadas aos tornozelos.

Um cutucou o outro e eles apontaram para nós com o queixo.

Pareciam mergulhadores ou


coisa assim, usando aquelas roupas emborrachadas, somente com os pés, mãos e rostos bronzeados à mostra.

- Vocês são os sobrinhos da Dahlia? -perguntou Evan.

Olhei para Bosten. Ele disse:

- Somos nós. Oi.

- Oi - disse Evan. Ele largou sua prancha na areia à nossa frente, então se abaixou e soltou o laço de seu tornozelo.

Sua irmã também tirou a cordinha do pé. Gotas d'água pingaram da


prancha da garota nas minhas pernas.

Evan e Kim Hansen tinham 15 anos. Eles pareciam àqueles jovens que a gente vê nas revistas em fotos da Califórnia: pele bronzeada, corpos em forma e os cabelos compridos com laivos dourados por conta das muitas horas que eles obviamente passavam no mar.

Demorei um pouco para perceber que minha boca tinha ficado aberta quando vi a garota.

Na verdade, nem me surpreenderia se eu tivesse babado um pouco.

Minha metade silenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora