De manhã, meu pai foi pescar com Ian Buckley.
Ele saiu com o Pontiac antes que acordássemos.
Minha mãe nunca fazia café da manhã. O desjejum para ela era um cigarro e dois ou três copos de café com leite e açúcar.
Bosten e eu comemos torrada com manteiga. Ele não conseguiu se sentar com as costas na cadeira.
Na noite anterior, papai achou ruim quando ele se inclinou para jantar, então Bosten teve de comer bem encostado.
Na tarde de domingo, iríamos à casa dos Buckley. Quando os pais voltassem da pescaria, faríamos o jantar e então os adultos iriam beber fumar e jogar baralho até a hora de
irmos embora.O senhor Buckley fumava cachimbo.
Quando eu era pequeno, mesmo antes de começar a falar, achava que o cachimbo do senhor Buckley era mágico, porque ele soltava fumaça o tempo todo e nunca parecia se
apagar.Eu gostava daquelas noites.
Ninguém se importava com o que nós, garotos, estávamos fazendo.
Era como se os ratos tivessem escapado da ratoeira.Minha mãe fazia salada de batatas na cozinha.
Eu entrei furtivamente na sala e, bem baixinho, disquei o número da casa de Emily no telefone que ficava próximo à poltrona de meu pai.
Depois de sete toques, a mãe dela atendeu.
- Alô, residência dos Lohman. -Ah, oi, senhora Lohman. E o Stark.
Sentia-me culpado só de falar com ela. Sentime empalidecendo.
- Com quem você está falando? - minha mãe apareceu na soleira da porta, segurando uma faca em uma mão e um cigarro na outra.
Ela não gostava que eu falasse no telefone. Dizia que era um mau hábito para garotos da minha idade.
Acho que ela talvez pensasse que telefones eram portas de entrada para a masturbação.
Eu poderia tê-la ajudado a entender melhor a questão.
Para um garoto, até oxigênio era uma porta de entrada para a masturbação.
- Hã... É com a senhora Lohman, mãe. Eu estava ligando para Emily.
- Palito? Você quer falar com Emily?
- Sim senhora.
Minha mãe deu de ombros e voltou para a cozinha, deixando um rastro de fumaça atrás dela como se fosse o nosso disco voador.
- Quero você fora desse telefone em dois minutos.
- Sim senhora.
A senhora Lohman não entendeu que eu estava falando com minha mãe.
- Está tudo bem, Palito?
Como eu poderia tê-la deixada preocupada daquele jeito? A senhora Lohman era a melhor pessoa deste mundo.
- Sim senhora, está tudo bem.
- Emily disse que vocês se divertiram muito ontem.
Senti como se fosse vomitar, pensando no maldito mentiroso que eu era.
- É, a gente se divertiu.
- Adoramos quando você vem aqui, Palito. Quero que você saiba disso. Talvez no feriado da Páscoa você possa vir e ficar uns dois dias aqui em casa.
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Minha metade silenciosa
AdventureStark McClellan ou Palito, tem 14 anos e uma vida conturbada, além de sofrer bullying devido à uma deformidade em seu rosto, Palito e seu irmão mais velho Bosten, o humano que Palito mais gosta no mundo, sofrem diariamente os abusos dos pais. Cansad...