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Depois do jantar a mãe de Héctor me levou até o quarto.

— Héctor pediu que fica-se aqui no quarto dele, espero que não se importe - a mãe dele diz, enquanto troca os lençóis.

— Há não, eu não quero incomodar, posso dormir na sala - digo

— Não, nem pensar - ela diz firme.

Ela termina de arrumar a cama e certifica que está tudo arrumado.

— Coloquei algumas roupas para você no roupeiro - diz sorrindo

— Obrigada - agradeço
Antes de sair pela porta ela se despede

— Boa noite, sinta-se em casa - e se vai.

O quarto é bem aconchegante, a cama é grande e macia, e o cheiro limpo de lavanda pelo quarto da todo o charme.

Abro o roupeiro e pego uma camisola que ela me deixou, visto e me deito.

O sono logo chega quando sou surpreendida com uma batida na porta.

— Entre - digo sonolenta.

Héctor entra, eu me agarro ao lençol, pensei que fosse a sua mãe a bater na porta.

Ele fecha a porta e abre o roupeiro, será que ele vai dormir comigo, ele agora tem direitos sobre mim, meu pai disse que ele poderia fazer o que quiser comigo, e agora o que eu faço.

Me agarro ainda mais firme ao lençol, ele pega parece ser um lençol e se vira para mim.

Meu olhar assustado parece o fazer rir.

Ele se aproxima da cama eu me encolho.

— Héctor eu... eu... não estou preparada para tal coisa - consigo dizer com a voz abafada com o rosto quase todo coberto pelo lençol.

Ele me olha sério e vejo seu corpo se inclinar, fecho os olhos com o coração descompassado.

— Eu não quero consumar nada com você - diz sério, abro os olhos, ele pegou o travesseiro que estava do meu lado na cabeceira, e se vira para sair do quarto.

— Onde vai ? - pergunto

— Dormir - diz fechando a porta.

Volto a me ajeitar na cama, não sei por que mas a forma como disse não querer nada comigo me desapontou um pouco.

Na manhã seguinte levanto cedo, desço e vejo a mãe de Héctor na cozinha parece lavar os pratos da noite anterior, me ofereço a fazer o serviço enquanto ela prepara o café da manhã.

Da janela da cozinha enquanto lavo os pratos vejo Héctor e Alicinha brincarem no jardim.

A menina corre de Héctor enquanto ele finge ter dificuldade de pega-lá, sua gargalhada é gostosa de se ouvir, eu nunca o vi sorrir assim.

Sua mãe arruma a mesa para o café da manhã eu a ajudo.

O cheiro predomina por todo lugar e aos poucos todos vão vindo.

Na mesa enquanto tomamos café, fico quieta a maioria do tempo, apenas observando o que falavam.

— Espero que tenha dormido bem querida ? - sua mãe pergunta, todos parecem me observar.

— Sim, dormi sim obrigada - digo e continuo — Héctor onde dormiu, eu possui do seu quarto?

— Na sala - ele responde enquanto beberica o café.

— Está noite durma no seu quarto eu durmo na sala.

— Não se preocupe comigo, acredite o sofá é bem melhor que aquela rede, e amanhã viajo.

— Mas já ! - digo um pouco mais alto do que eu pretendia — quer dizer, chegou ontem e já vai viajar novamente - me corrijo.

— Se acostume Sofie, Héctor não para em casa - seu pai diz, sorrio sem graça.

— Sim, pelo menos agora vou ter uma nova amiga para brincar - Alicinha diz sorrindo para mim, retribuo com o mesmo sorriso.

No final da tarde sentada no jardim penso em como minha vida mudou tão rápido.

Héctor senta no banco ao meu lado.

— Pensativa ? - pergunta também olhando para o horizonte. Eu o olho por alguns instantes e volto a olhar para o horizonte, meu sorriso sai fraco.

— Um pouco... - digo baixo
Sinto me observar, mas não o olho.

— Arrependida ? - pergunta, agora eu o encaro.

— Não, só foi tudo muito rápido - digo tentando ser convincente.

— Está com medo eu sei, não se preocupe estará segura aqui, todos gostam muito de você - diz calmo eu sorrio.

— Obrigada, sua família é... extraordinária, muito amáveis... mas ...

— Mas ? - ele parece curioso

— Eu não posso ficar aqui para sempre, não posso lhe dar trabalho para sempre, sou uma mulher criada preciso me cuidar sozinha - digo e volto a olhar para o horizonte.

— Sabe? Quando eu a vi no meu navio afugentada eu senti o dever de lhe proteger, e ver seu pai descontar toda a raiva em você me fez querer ainda mais, então... não pense que é um fardo - ele diz calmo, sinto uma leve emoção com suas palavras.

— Sou muito agradecida, mas um dia terei que ir - digo

— É livre Sofie - ele diz e se levanta e me estende a mão, eu a seguro e me levanto com a sua ajuda — Vamos entre, o jantar já está quase pronto - diz com um sorriso ladino.

No dia seguinte bem cedinho Héctor se despede de todos ele está pronto para mais uma viajem.

Alicinha chora um pouco mas logo sua vó a acalma, ele se despede de seus pais e por último de mim.

— Espero lhe encontrar aqui ainda quando retornar - diz baixo para que apenas eu o ouça.

— Se assim deseja - digo, ele sorri vejo seus dentes alinhados atrás da barba.

Da janela da sala vejo caminhar pela estrada e logo se vai além do horizonte.

RaposaOnde histórias criam vida. Descubra agora