Cap. 3 - Erros do passado.

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Era frequente para Enid as lembranças do pior dia de sua vida, ele vinha em forma de sonho, ou melhor, pesadelo. Ela tentava não pensar muito nisso no seu dia a dia, mas quando deitava a cabeça no travesseiro, era impossível evitar.

O ato em si ainda a perturbava, mas a punição dos pais com certeza era o que ficaria guardada em sua memória.

Esse dia aconteceu há uns dez anos atrás, Enid foi até a casa da vizinha
brincar como ela sempre ia, já que sua melhor amiga morava ali. Dessa vez, elas conversaram sobre o assunto que foi frequente na sala de aula das duas durante a semana.

Beijos.

Então, elas se ligaram que de todas as crianças, elas eram as únicas que não
tinham beijado ainda.

Então, as duas decidiram mudar isso.

A ideia veio de Yoko, e mesmo que Enid quisesse, algo dentro dela dizia que não era para fazer aquilo.

— Eu nunca beijei. —Enid sussurrou para a melhor amiga como se fosse um de seus maiores segredos e na época, realmente era.

Ambas com nove anos de idade, e curiosas. Duas crianças que queriam saber como era a sensação de beijar. Se era tão boa quanto as colegas de classe
falavam.

— Nem eu, mas não deve ser uma coisa dificil. —Yoko respondeu segurando no rosto da melhor amiga.

— Papai diz que mulheres não podem se beijar. —A pequena Enid sussurrou
sentindo a respiração quente da amiga em seu rosto.

Enid estava nervosa, ela sentia o corpo todo suar e sua cabeça girar. Algo dizia que era errado, e que daria muito errado, mas ela gostou de ter Yoko tão próxima.

— Nós não somos mulheres, somos crianças. Então eu acho que não tem
problema. —Yoko respondeu.

Fazia sentido.

Ao menos fez sentido naquela hora.

E as duas crianças juntaram os lábios, em um selinho longo. Enid sentiu um choque percorrer por sua espinha, o beijo foi simples e molhado, ela sentiu o
coração acelerar e se afastou sorrindo para Yoko.

Yoko, no entanto, não pareceu ter sentido o mesmo que Enid.

— É só isso? —Ela perguntou meio frustada.

— Vamos tentar de novo então. —Enid deu a ideia, puxando Yoko mais uma vez e juntando seus lábios.

— ENID SINCLAIR! —Era a voz da mãe, gritando.

Sua voz foi tão alta, que Enid teve a certeza que todo o bairro ouviu o grito de sua mãe.

Enid se encolheu ao ver a mãe se aproximando e ficou ainda mais assustada quando a mulher pegou em seu pulso, a arrastando para fora da casa de Yoko.

Elas nunca mais se viram depois disso.

Enid sentia sua falta, ela sentiu por anos e sentia até hoje.

As vezes ela se perguntava como Yoko estava. Se ela também foi punida, se ela estava bem, se assim como ela, ela ainda se lembrava daquele dia. Tudo o que ela tinha era um perfil privado do Instagram, que ela não tinha coragem de mandar solicitação para seguir. Mas que ficava de vez em quando admirando a foto mesmo que pequena.

Yoko estava linda. Tão linda.

Como ela sempre foi.

Enid suspirou, olhando para o teto. Havia sido acordada por causa do sonho que teve e agora não conseguia mais dormir.

Olhou para o relógio no celular, o vendo marcar seis horas. Ele tocaria daqui a alguns minutos.

A loira se levantou indo direto para o banheiro, e não se importando em ir em direção ao box tirando as roupas e entrando debaixo do chuveiro.

No one's in the room - WENCLAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora