Cap. 5 - Todos têm segredos (Parte 2)

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Enid ainda tinha desejo por mulheres, mas ela não quis contar para Wednesday quando a colega de quarto lhe perguntou se suas orações haviam funcionado. Ela não quis deixar a morena desconfortável.

Não sabia como a garota era e não queria que ela saísse contando para todos que ela dividia o quarto com uma lésbica, que ela tem os pensamentos mais sujos de todas ali, e que talvez nem seja digna de estar entre as garotas.

Ela não queria que ninguém soubesse.

E principalmente, não queria que Wednesday soubesse o quanto ela a desejava. No fundo, Enid sabia que a Addams não faria isso, não contaria a todos o seu segredo. Mas ela não queria arriscar.

Ela não podia arriscar e acabar perdendo a única amiga que tinha. Não podia deixar que sua história e de Wednesday acabasse da mesma forma que sua história e de Yoko. Enid precisava parar, precisava bloquear o que sentia. Pelo seu bem, e pelo bem de Wednesday.

— Papai, posso fazer uma pergunta? —Enid perguntou baixo sem ter medo de que o pai não ouvisse. Porque ela sabia que ele ouviria.

Murray pegou uma batata frita, colocando na boca e olhando de relance para a filha.

Haviam parado há alguns quilômetros atrás para fazer um lanche, e ele reparou no quão calada Enid estava.

— Eu me perguntei quando você iria falar comigo. Quando ia contar o que tanto the incomodava ele disse apenas, dizendo em seguida para ela continuar dizendo.

— O que vocês têm contra a família Addams? O que eles fizeram de tão ruim que a mamãe e você odiassem eles? —Enid perguntou sem pensar duas vezes.

Ela sabia que se fosse a mãe ela não teria uma resposta, e pela expressão do pai, talvez ele até não fosse contar toda a história. Mas ela sabe que alguma coisa ele diria a ela, porque seu pai era assim.

— Por onde eu devo começar? —Ele mudou a expressão para pensativa, sem
deixar de prestar atenção na estrada e comer o restante de sua batatinha. Murray ficou em silêncio por um tempo, como se ele não tivesse a intenção de responder a pergunta da filha.

— Wednesday é minha colega de quarto. — Enid diz.

Talvez se ela contasse como Wednesday é, ele a contaria o que eles têm de errado, ou ele poderia mudar de ideia quanto aos Addams.

— E como ela é? —o pai mudou de assunto Enid percebeu isso.

— Ela é legal. Muito legal, o que me fez pensar todos os dias do porque vocês odiarem a família dela. —Enid voltou com o assunto, arrancando um suspiro do pai.

Murray ficou mais uma vez em silêncio. Mas ele sabia que não podia evitar aquele assunto para sempre, estavam presos em um carro, e ainda faltavam alguns minutos para chegar em casa.

Não é como se ele pudesse ficar em silêncio e fingir pensar por mais de trinta minutos.

— Tudo bem. Eu acho que a primeira vez que nos vimos não foi muito boa. Para começar tem a Wednesday, que se vestia como garoto quando eles chegaram no bairro. E o Pugsley, filho mais velho deles que adorava ficar dizendo por ai que era gay e se orgulhava disso. Não estou dizendo que a culpa é das crianças, claro que não. Mas os pais com certeza são culpados por isso.

Enid não acreditou no que ouviu no começo.

Ela esperava as falas da mãe, mas não do pai.

Mesmo que fosse pastor, ele nunca pareceu ser do tipo preconceituoso.

Mas ela estava errada.

Os pais não gostavam dos Addams pelo simples fato de que tinham filho gay.

— É só isso? —Seu pai assentiu.

No one's in the room - WENCLAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora