Cap. 27 - Última semana no inferno

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Enid olhou pela janela, observando Gomez Addams sair de sua varanda e andar até a casa dele. Já era a quinta vez naquela semana que ele ia até a casa dos Sinclair's.

O que ele queria?

Enid suspirou, querendo gritar que ele ficasse, que ele contasse como Wednesdat está.

Será que o soco que o pai deu foi muito forte? Será que ela precisou de assistência médica?

Quando a namorada saiu de sua casa no domingo, ela estava sangrando. Mas Enid não viu os Addams saindo naquele dia, então ela deduziu que eles não a levaram para o hospital.

Ela também não poderia saber, na verdade, já que depois que Wednesday saiu, ela ficou duas horas, exatamente duas horas, ouvindo os pais gritarem com ela. Se fossem apenas gritos direcionados a ela, a loira não se importaria, ela já os ouviu anos atrás quando ela beijou a melhor amiga. Mas eles ofenderam Wednesday de todas as formas possiveis, gritando tão alto que a garota tinha a certeza que todos os vizinhos estavam ouvindo.

Depois disso, seus pais passaram a falar com ela apenas o necessário.

A primeira vez que falaram com ela foi na segunda-feira, um dia depois do flagra. Sua mãe foi até ela para falar sobre o cronograma que ela teria que seguir durante a semana, envolvendo leituras de uma hora da Bíblia pela manhã, tarde e noite e orações junto com o irmão Mark. Durante esse tempo do castigo, Enid não poderia ter contato com o mundo exterior. Sem televisão, celular e computador.

O que é uma droga porque ela precisa se escrever urgente em uma das faculdades que foi aceita, ou então perderia sua vaga.

Ela estava planejando conversar com a namorada nessa última semana em San José, para que resolvessem para onde inam. Ela se inscreveria para a Universidade da Califórnia se Wednesday conseguisse falar com os parentes em Los Angeles, se não, elas iriam para Nova Iorque. Recomeçar em um novo estado onde ninguém as conheciam.

Agora, tudo isso mais parecia um sonho distante.

Sua vida estava uma bagunça.

E tudo o que ela queria fazer era arrumar as malas e sair de casa, não queria morar debaixo da ponte. Mas no momento qualquer lugar estava melhor do que a sua casa.

— O irmão Mark chegou! —Esther falou com a filha.

Ela não precisou abrir ou bater na porta, já que Enid não tinha mais uma.

— O que Gomez Addams queria? —Enid perguntou, sabendo que no fundo, a mãe não responderia.

Ela não respondeu das outras vezes, mas tinha esperanças que alguma hora ela responderia.

Não foi dessa vez,

Esther lhe olhou por um tempo e depois se virou, sem dizer nada.

Enid respirou fundo, dizendo que "não poderia morar debaixo da ponte". Ela repetia a frase como um mantra, e isso lhe dava um pouco de forças para aguentar tudo o que estava passando.

A loira pegou sua Biblia e o caderno de anotações, descendo as escadas e indo até a sala.

Sua vida espiritual também estava um pouco abalada.

Enid sempre gostou da ideia de um Ser Celestial que estava acima de todos, zelando pelo bem estar dos seus filhos. Cuidando, amando incondicionalmente e fazendo o possível por todos que o aceitassem como Pai. Ela gostava dessa ideia.

Mas como ela poderia acreditar em seres celestiais, quando seus pais também a seguiam e eram as piores pessoas que ela já  conheceu?

Eles não viam que estavam fazendo com ela?

No one's in the room - WENCLAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora