Capítulo 28

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Jacinta

Quem manda escrever é o José. Essa carta é um pedido de desculpas por tudo. Por ter sido rancoroso, por não ter respondido suas cartas e por não ter te perdoado quando foi embora. Mainha ainda tá um pouco irritada com você, mas já se ajeitou com a Jamily e tá remoendo a saudade de vocês. Eu também.

No começo, te culpei por fugir assim e colocar a Mily nisso, mas sou seu irmão e não conseguiria ficar mais tempo irritado com você por uma coisa dessas. Você é jovem e tava enamorada nesse rapaz aí, até dá para entender porque foi embora desse jeito, de outro, não tinha conseguido ficar com ele mesmo.

Percebi pelas suas cartas que isso te fez mais feliz e que te libertou de muita coisa. Você pode ter sido imatura quando fugiu, mas foi corajosa também, acho que só fiquei tão irritado porque parecia que você tinha largado tudo o que era bom por um rapaz qualquer, mas hoje vejo que você acabou dando um futuro bom para a Jamily, onde ela tá feliz e que, no fim das contas, foi melhor para você também. Não conheço seu rapaz, mas sei que se te faz tão feliz quanto parece em suas cartas, já gosto muito dele.

Desculpe por essa coisa toda, espero que possa me perdoar. Te amo.

José.

Ps. Perdoa ele pelo amor de Deus. Ele me fez escrever a carta quatro vezes até achar que tinha ficado boa, se ele me fizer escrever outra, não mando mais carta para você. — Emanuel..

Não sei quantas vezes reli a carta de José, deve ter sido na média do milhão, porque quase decorei todas as letras, mas é que fiquei tão feliz com o perdão do meu irmão e saber que minha mãe estava caminhando para lá também. Além da carta nova de Mily sobre todas as coisas que ela vira e que a encheram de sonhos, sobre suas dificuldades e aventuras. A carta toda tinha duas folhas cheinhas, a letra apertada.

Li tanto aquelas cartas que tenho para mim que foi por isso que dormi demais naquele dia.

Só percebi o quanto estava tarde quando acordei com o sol na cara. E como eu não acordei, Hélio também não acordou, então saímos os dois como loucos para ir para o serviço. Nem tomamos café.

A minha sorte só é que dona Rosália estava dormindo quando cheguei lá, então deu tempo de eu fazer um arranjo ligeiro enquanto ela não levantava.

Sei que lá para o meio da manhã, Dinah veio correndo como louca até o quarto que eu estava limpando e me abraçou com tanta animação que terminamos caindo as duas na cama.

— Menina, o que foi? — Perguntei, rindo com ela que me abraça forte e gargalhava.

— Eu consegui, Jaci! Eu entrei! — Ela me mostrou uma carta. — Eu entrei na faculdade!

— Que incrível! — Comemorei, abraçando ela de novo, com força, feliz como se aquela conquista fosse minha também. — Parabéns, Dinah! Como foi?

— Duas pessoas da primeira lista desistiram, aí eles me chamaram para completar a turma! Ah, Jaci, estou tão feliz!

— Eu também! Ah, que bom que você conseguiu, Di!

— Onde está o Daniel? Quero comemorar com ele.

— Ele estava brincando no quintal lá atrás.

— Eu vou atrás dele, já venho.

E ela saiu, tão rápida e contente quanto tinha chegado, seu perfume doce e enjoativo ainda em mim, como sua marca. Fiquei tão feliz por ela que realmente trabalhei com mais alegria e tratei de fazer seu almoço favorito como uma forma discreta de comemorar.

Mas aquele não era apenas um dia de alegrias, era bem mais complicado.

O relógio ainda andou mais um pouco depois do almoço, quando eu estava limpando a cozinha e Dinah estava no quintal, sentada na porta dos fundos mexendo com algumas plantas junto de Daniel, o rádio estava ligado em uma música alegre e boa. Tinha tudo para ser uma tarde maravilhosa.

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