A mais bela estrela

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A linda biblioteca parecia uma igreja – havia uma torre alta, vitrais no teto e nas janelas e um altar no final do longo corredor, onde ao invés da mesa do padre e a pia batismal, corredores com estantes e mesas cobriam o espaço.

O silêncio tomava o espaço, e ela não conseguia entender por que o local estava tão vazio... E por que os cabelos dela estavam daquele tamanho. Mantinha-os cortados para que não fosse reconhecida, o perigo vivia à espreita! Porém, não tinha medo de estar ali. A biblioteca era seu local de conforto, como se soubesse que ali, estaria longe das vozes.

A voz... "A voz que me diz que sou inútil... Feia... Não... Eu tenho meu valor..."

Seus pensamentos foram interrompidos por seis badaladas, e ela sabia que aquela era a indicação de que a biblioteca seria fechada. Como ela sabia disso? Quem revelou a ela? Não importava. Precisava ir embora, sair dali, seguir para o palácio onde estava hospedada.

Desceu as escadas que a levavam até a calçada, e olhou para todos os lados, em busca de algum transporte. "Onde está meu smartphone? Vou pedir um motorista de aplicativo..."

- Principessa...

Uma voz masculina surgiu ao seu lado, mais precisamente sussurrando em seu ouvido, uma voz profunda com um sotaque forte italiano. Mas ele não era de fato italiano... Era de Azzurro, ela conhecia aquela voz. Ela já conversou com ele algumas vezes, por que ele estaria em seu sonho a chamando de..."

O sonho parecia tão real que Emme acordou com a mão similar a uma garra, como se ela quisesse tocar o dono da voz, mas era apenas uma quimera?

Ou não?

A verdade era que a biblioteca com ar de igreja lhe parecia mais familiar do que ela realmente imaginava – tanto em seus sonhos quanto na imagem que se apresentava à sua frente na manhã de mais um dia ensolarado em Azzurro.

De fato, a biblioteca um dia fora uma igreja – era a explicação dada tanto pela pesquisa no Google, quando escreveu "biblioteca igreja Santa Cecília", quanto por meio da placa na porta da construção, lida atentamente por Emme, que não demorou muito no Palácio Real: precisava saber se o sonho dela fazia sentido.

O mais esquisito para a jovem era a sensação de reconhecimento durante o percurso feito de carro. As construções, a movimentação nas ruas, o bairro tranquilo onde ficava a biblioteca... a imagem da edificação que lhe parecia idêntica dos sonhos.

Colocou o óculos escuro no rosto, o modelo em questão com lente, de acordo com o seu nível de miopia, porque a dor de cabeça chegara e parecia forte. Nunca havia passado por isso, nem mesmo quando...

- Buenas tardes, señorita. Parece-me familiar...

A mulher que cumprimentou Emme tinha uma idade avançada e uma postura gentil, de quem havia visto muita coisa ,mas não se deixava levar pelas intempéries. Os cabelos brancos indicavam a óbvia experiência de vida, mas os olhos profundos e pequenos ressaltavam um espírito jovem – e curioso, dada à forma como ela a observara, com foco e intensidade.

- Buenas tardes. Eu... Eu não sou de Azzurro, desculpe. Estou fazendo visitas e queria... Conhecer esta biblioteca.

Emme estranhou o fato de que aquela mulher a considerava familiar. Não era a primeira vez que alguém dizia aquilo – a primeira foi na USCI – mas a princesa decidiu guardar aquelas impressões para si mesma.

- A señorita deseja entrar e conhecer os nossos espaços? Nós tivemos uma reforma e requalificação há dois anos que foi muito importante para preservar este equipamento da capital. Foi proporcionada pela nossa querida... - a senhora de idade comprimiu ainda mais os olhos; ela pareceu entender com quem aquela jovem era parecida. - A falecida Condessa de Calábria. Ela trabalhava aqui na biblioteca antes de se casar com o príncipe Bruno.

A Última Princesa (livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora