Me and the Devil | Max Verstappen

Capítulo Um

Mesmo sendo primavera em Mônaco durante o mês de Maio, estranhamente todo dia vinte e seis o céu ficava nublado e chovia durante a parte da tarde. Eu levava aquilo como um sinal de que os deuses deveriam estar tristes pela partida precoce do meu irmão ocorrida no dia vinte e seis de Maio de dois mil e dezoito.

Se eu pudesse girar o relógio para trás e voltar no tempo, eu escolheria parar um dia antes da grande corrida de Fórmula 1.

Meu irmão, Alexsander, era piloto da McLaren e tinha feito sua estreia há somente dois anos. Ele teria um futuro brilhante pela frente se não fosse o acidente que tirou a sua vida. E o que mais me irritava nesse mundo automobilístico era que o causador de tudo isso ainda estava correndo e atualmente ganhando todas as corridas.

Alexsander acabou sendo só mais um jovem com o futuro interrompido por outra pessoa que saiu impune. Aquilo me fazia pensar que tudo que eu mais desejava nessa vida era nunca ver a cara do idiota do piloto da Red Bull na minha frente. 

— Scarlett! Desça logo ou vamos nos atrasar — ouvi a voz da minha mãe dizer do andar de baixo e mandei meus pensamentos para o mais longe possível.

Olhei pela janela e uma chuva fina caía pelas ruas de Mônaco — o último lugar que eu gostaria de estar no momento, diga-se de passagem — fazendo as pessoas apressarem seus passos pelas calçadas anteriormente movimentadas, mas que agora estavam se esvaziando.

Resolvi colocar um casaco para não me molhar tanto quando chegasse na pista e peguei meu celular antes de abrir a porta do meu quarto e descer para encontrar meus pais.

Desci a escada vagarosamente, com o desânimo habitual que eu tinha desde quando meu irmão faleceu. Ele era dois anos mais velho e me tratava como uma verdadeira princesa. Eu ainda me lembrava perfeitamente de quando ele estreou na Fórmula 1 e fizemos uma verdadeira festa em casa quando a corrida acabou, mesmo com ele ficando em décimo. Também me recordava de como nessa noite nós ficamos bêbados e eu acabei vomitando na cozinha, enquanto ele segurava meu cabelo e brincava comigo me dizendo para eu beber mais.

Me iluminei um pouco quando vi uma pessoa que eu não via há um certo tempo na sala junto dos meus pais. Sentia falta dele também.

— Scar! — Charles exclamou e se aproximou rapidamente de mim, abraçando-me quando cheguei no último degrau. Ele me levantou com seu abraço de urso e rodeei seu pescoço com meus braços.

Charles e eu éramos amigos desde adolescentes, ele também era um dos melhores amigos do meu irmão e por isso eu o conheci. Com o passar do tempo, nos afastamos um pouco quando eu fui estudar fora e ele ficou ainda mais focado nas corridas. Agora que eu estava em Mônaco novamente para ir visitar o lugar onde meu irmão faleceu, ver Charles seria como uma calmaria no meio do caos.

— Você está um gato — brinquei com ele quando nos desfizemos do abraço e ele me colocou no chão novamente.

— Você está maravilhosa também — ele piscou para mim e eu balancei minha cabeça. Ele era encantador e provavelmente arrasava com o coração das mulheres. Já eu nunca tinha o visto de outra forma, embora brincasse com ele elogiando-o sempre.

— Ótimo, crianças, vamos logo ou vamos nos atrasar — meu pai disse, pegando a chave do carro de cima da mesa de centro.

Para mim foi uma surpresa saber que o Leclerc nos acompanharia até o circuito e no fundo do meu coração eu me aliviei por aquilo, assim não precisaria passar sozinha pela dor do luto como eu fazia na maioria dos anos.

Assim que coloquei os meus pés na rua me deparei com a incrível Ferrari de Charles estacionada no meu portão. Embora Mônaco fosse um lugar de milionários, eu ainda não tinha me acostumado a ver tantos carrões por aí como se fossem meras bicicletas. Isso acontecia porque onde eu estudava em Houston não era tão comum assim.