Capítulo Dezenove

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Sexta-feira, 25 de Agosto - Treino Livre

Grande Prêmio da Holanda

— Scarlett!

Procurei pela voz do meu melhor amigo me chamando e quando o encontrei, ele estava acenando feito doido no meio do pit lane em frente ao seu box.

— Charles! — gritei de volta e corri o máximo que pude.

Ele começou a correr em minha direção e quando nos encontramos, ele me abraçou, tirando-me do chão com o seu famoso abraço de urso que ele sempre me dava quando ficávamos muito tempo sem nos vermos. Já fazia dois meses que eu não o via pessoalmente, conversar por vídeo chamada e mensagens não estava sendo o suficiente.

— Pensei que você não iria vir em nenhuma corrida — ele me soltou e colocou as mãos na cintura. — Seu namorado te convidou?

Balancei a mão no ar.

— Ele não é meu namorado. Mas sim, o Max me convidou e além disso trouxe a Abigail que está aqui comigo — virei-me para o lado e não encontrei minha amiga que estava um minuto atrás ao meu lado.

Olhei para trás e ela estava parada como uma estátua onde eu comecei a correr, olhando para Charles como se ele fosse um deus grego ou até mesmo um anjo. Eu sabia que ela o achava bonito, mas não a ponto de travar e não conseguir sair do lugar.

— O que deu nela? — Leclerc perguntou, cruzando os braços.

— É o efeito Charles Marc Hervé Perceval Leclerc.

Ele passou o braço pelo meu ombro e me puxou para perto, como se fosse me enforcar. Ele me tratava igual um homem.

— Tenho que admitir, a esse efeito ninguém resiste — brincou e eu passei minha cabeça por debaixo do seu braço para me desvencilhar dele.

— Quer matar a Scarlett? — ouvimos a voz de Max atrás de nós e eu me virei, vendo-o da forma que eu achava que ele ficava mais bonito: com o macacão na cintura e a camisa azul marinho embaixo. — Fez um bom voo? — indagou ao me abraçar ligeiramente.

— Fiz, mal chegamos e já viemos para o circuito. É bom pisar aqui novamente.

No primeiro ano que meu irmão estreou na Fórmula Um, eu fui em todos os autódromos com ele, por isso me sentia tão familiarizada onde quer que fosse.

— Hã, Scar? — Charles chamou minha atenção. — Sua amiga está se aproximando e acho bom você cuidar para que ela não desmaie.

Fiz uma troca de olhares com Max que segurou a risada e nós três paramos em uma linha reta para fazer de Abigail o centro de nossas atenções por aquele minuto.

— Abi, quero te apresentar o meu amigo. Esse é Charles.

Ela balançou a cabeça freneticamente.

— Eu sei. Eu sei muito bem — ela estava perdida nele. Chegava a ser engraçado aquela cena.

— É um prazer conhecê-la, Abigail — ele a cumprimentou. — Bom, eu tive uma ideia. O que acham de jantarmos no domingo após a corrida todos juntos?

Max encolheu os ombros e me olhou.

— Se a Scarlett aceitar, eu aceito.

Leclerc ergueu uma sobrancelha.

— Só tem uma pessoa que manda em você, não é? — ele disse para Max. — Parabéns, Scarlett, conseguiu colocar o homem na linha.

— Fala baixo, Charles — eu ri. — Mas sim, vamos almoçar nós cinco juntos então.

Todos arquearam as sobrancelhas.

— A Alexandra também — falei como se fosse óbvio.

Então todos voltaram ao normal.

— Ah, ela não veio, mas se quiser eu posso convidar mais algum piloto.

— Não, vai ser ótimo só a gente — Max disse. — Se me dão licença, vou começar o treino já já e preciso me preparar. Te vejo mais tarde? — perguntou ao me olhar e eu assenti.

— Eu também já vou entrar — Charles apontou para o box. — Se divirtam, meninas.

— É, se divirtam meninas — Max imitou o amigo e logo eles se afastaram de nós duas.

Quando nos afastamos do pit lane para entrar no camarote da Red Bull Racing, Abi se permitiu agarrar o meu pulso e finalmente surtar devidamente por ter conhecido Charles pessoalmente.

Ela ficou exatamente vinte minutos me dizendo como ele era mais perfeito ainda ao vivo e a cores e que nada no mundo se comparava a beleza dele. Ela estava mesmo inspirada em elogiá-lo. Não gostaria nem de ver como iria ser o jantar que ele sugeriu para domingo. Charles tinha cada ideia de maluco.

[...]

O treino livre foi tranquilo, tirando o fato de Ricciardo ter fraturado um osso da mão. Fiquei tão triste por ele, logo quando parecia tudo estar voltando ao normal para ele, aquilo aconteceu.

Mas no momento o meu maior problema era somente um: carregar Abigail de volta para o hotel, porque a bonita bebeu toda a cerveja que patrocinava as corridas. Só podia ser brincadeira.

— Abi — resmunguei tentando carregá-la da maneira mais disfarçada possível para fora do circuito para que então pudéssemos pegar um táxi. — Quando o Max disse tudo pago, ele não quis dizer que era para você acabar com todas as bebidas do bar.

— Fala sério — grunhiu, deixando seu peso quase todo para cima de mim. — Quando é que vou ter outra oportunidade dessa? Tenho... Que fazer uma selfie para minha mãe, ela nem sabe que não estou em Houston — resmungou tentando tirar o celular do bolso, mas segurei sua mão.

— Se você acordar de ressaca amanhã, juro que não vou cuidar de você e nem te trazer para a classificação.

— Não — ela se afastou, equilibrando-se de maneira duvidosa sobre seus próprios pés. — Eu preciso ver o Charlinho.

— Precisa me ver? — a voz de Charles ecoou atrás de nós duas e Abi deu um pulo de susto. — O que está acontecendo? Parece que ela aproveitou bem a Holanda já — ele fez um sinal com os dedos na boca e eu revirei meus olhos.

— Relaxa, ela só bebeu muita Heineken.

Ele colocou as mãos na cintura e analisou.

— É, estou vendo — então logo se aproximou. — Então, Abigail, certo? Hoje é seu dia de sorte, vou te colocar em um táxi.

Charles pegou um braço dela enquanto eu peguei o outro e juntos a arrastamos para fora dos circuitos, atraindo olhares curiosos de algumas pessoas ao nosso redor. Sério, era isso que minha amiga estava me fazendo passar? Aquilo ia dar o que falar.

Haviam alguns táxis parados por ali e ele a colocou no banco de trás, então apoiou-se na porta para que eu entrasse.

— Vocês vão ficar bem? — ele perguntou para mim que assenti.

— Obrigada, Charlinho — debochei do que minha amiga disse. — Você sempre está onde eu preciso.

Ele piscou.

— Sou seu anjo da guarda, Scar.

É, eu sabia que ele era. Charles sempre me apoiou em tudo desde que nos conhecemos há anos atrás. Quando Alexsander não estava ali para mim, era Leclerc quem me acolhia, me abraçava nos meus momentos tristes, chorava quando eu chorava, brigava comigo quando eu fazia algo estúpido e acima de tudo, me amava.


Me and the Devil | Max VerstappenOnde histórias criam vida. Descubra agora