Capítulo Seis

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Os momentos que se sucederam após Charles ficar convicto que iria matar Max foram repletos de puro caos. Era muito difícil ver meu melhor amigo ficar tão irritado com algo ou alguém, já que ele sempre estava tentando ver o lado bom das coisas, mas quando ele se irritava era melhor não entrar no caminho dele.

Toda a minha ficha só foi cair do que realmente estava acontecendo quando nós três paramos em frente ao portão da casa de Verstappen em Mônaco. Uma mansão em um bairro muito nobre — se não o mais rico de todo o lugar. Foi ali que eu precisei respirar muito fundo para não desmaiar a qualquer momento enquanto Charles tocava o interfone repetidas vezes. O outro piloto nem deveria estar mais ali no momento.

Quando o enorme portão foi aberto automaticamente para nós, percebi que se eu desse mais um passo para a frente algumas memórias daquele local voltariam imediatamente na minha mente.

Mas infelizmente eu não tive muitas escolhas a não ser seguir Charles quando ele apressou seus passos em direção ao enorme jardim que nos levava até a porta principal da casa. Por mais que Max merecesse um belo soco na cara, não poderia deixar meu amigo se meter em uma confusão que não era dele.

No mesmo momento que Leclerc iria abrir a porta, ela foi aberta pelo loiro. Ele parecia tão assustado quanto nós pela visita repentina.

— Eu não tenho nada a ver com isso — ele se adiantou em dizer, levantando as mãos como se tivesse sendo abordado pela polícia. — Eu acabei de ver a notícia.

— Não acredito em você — Charles falou tomando a frente da discussão.

— Como você chega em um ponto tão baixo como esse? Oferecer dinheiro para o meu pai ir a público falar sobre isso? Você não tem empatia com a dor do outro? — perguntei, sentindo as lágrimas voltarem a brotar nos cantos dos meus olhos.

Max pareceu surpreso. Ele realmente não sabia?

— Eles ofereceram dinheiro? — ele perguntou pegando o celular e começando a digitar freneticamente.

— Agora não adianta querer dar um de coitado, seu idiota — Leclerc falou.

— Coitado? — Max parou de digitar. — E o que você fez? Estava logo atrás de mim quando o acidente aconteceu e nem parou para ajudar. Você viu tudo e passou batido.

Senti minha visão escurecer e cambaleei para a frente. Toda aquela briga estava me deixando fraca, como se eu fosse desmaiar a qualquer momento. As vozes dos dois discutindo começaram a se embolar a ponto de eu não conseguir distinguir quem estava falando e minhas mãos formigaram como eu nunca tinha sentido antes.

— Gente, ela vai desmaiar — foi o que minha audição conseguiu captar da voz da Alexandra antes de eu dar mais alguns passos até desabar.

[...]

Abri os meus olhos e olhei ao redor percebendo estar em um quarto desconhecido. A janela tinha as cortinas abertas e notei já estar escuro. Eu estava coberta com um edredom macio e cheirando a amaciante, mas me desfiz dele e me levantei, indo até o corredor.

Então me lembrei de todos os momentos antes de um apagão surgir em minha mente.

— Você está bem? — ouvi Max me perguntar e virei-me, observando-o segurando uma bandeja em suas mãos. — Você acordou, mas só se mexeu e voltou a dormir que não tive coragem de te chamar.

Balancei a cabeça. Onde estava o meu amigo e a namorada dele? Eles tinham me deixado ali sozinha com o perigo?

— Onde estão Charles e Alexandra?

— Ela levou ele embora antes que ele me batesse — ele sorriu anasalado. — Está com fome? Eu trouxe um lanche.

— Não quero comer nada vindo de você, Max Emilian.

Ele fez uma careta. Eu sabia que ele não gostava de ser chamado dessa forma. Então sua expressão ficou séria novamente.

— Só uma chance — ele pediu. De certa forma eu consegui perceber que aquele pedido tinha sido muito sincero. Talvez eu estivesse sendo rude demais com ele ultimamente. — Se depois disso você não se convencer, nunca mais olhe na minha cara e eu viverei com o sentimento de culpa para sempre.

Será que aquele era um momento que Alex gostaria que eu vivesse? Será que as coisas começariam a se ajustar se eu aceitasse dar uma chance para Max se redimir?

Me aproximei dele o suficiente para ver o que tinha dentro da bandeja e me permiti sorrir quando vi que era um dos meus lanches preferidos. Aquele idiota me conhecia bem.

— Vamos comer — falei por fim, observando-o abrir um sorriso.

No exato momento em que nos sentamos na cama em que eu estava deitada há minutos atrás e colocamos a bandeja entre nós dois, senti uma onda de alívio percorrer meu corpo, como se eu estivesse tirando um peso dos meus ombros. Aquela sensação era equivalente a um sonho com anjos.

Começamos a comer em silêncio, eu aproveitando cada pedaço do sanduíche natural como se não comesse há dias. Era fato que meu sono estava desregulado e minha alimentação completamente errada, mas eu não falaria aquilo para o homem a minha frente. Ele também comia o lanche de forma mais educada e não me olhava, eu sentia que ele ainda tinha vergonha de me olhar nos olhos.

— Você realmente não sabia do que a sua equipe fez, não é? — perguntei depois de um tempo.

— Não, Scarlett. Se eu soubesse nunca teria permitido isso. Não sou mais criança, sei lidar com os meus problemas sozinho.

— O que mais me surpreendeu foi a forma como meus pais reagiram como se o Alexsander não fosse importante. Acho que no fundo eu sou a única que ainda não superou a morte dele.

— Não só você — ele comentou baixinho, mas o suficiente para que eu escutasse.

Outro silêncio surgiu no quarto, dessa vez me permitindo observar melhor ao redor. Havia uma televisão na parede de frente para a cama de casal, uma cômoda debaixo da janela e um lindo lustre de cristal no teto. Parecia um quarto projetado exatamente para uma mulher.

— Quer ir comigo para a Espanha? — ele quebrou o gelo, fazendo-me quase engasgar com a pergunta. Como assim ir com ele para outro lugar quando mal tínhamos voltado a nos falar? — Quero dizer, assim você se distrai um pouco e se sentir mal comigo, pode ir até o Leclerc.

— Acho um pouco demais. Esse fim de semana já foi conturbado.

— O que vai ficar fazendo em Mônaco enquanto estamos correndo na Espanha? Aguentando seus pais? Além disso, eu já tenho um plano. Vou a público explicar o que aconteceu no dia do acidente. Não quero mais me esconder atrás da minha equipe por esse motivo, quero poder eu mesmo resolver isso.

— Faria isso? — tenho certeza que naquele momento meus olhos se iluminaram.

— Desde que você aceite ir comigo na viagem e se divertir como fazia antigamente.

Ponderei por alguns segundos. Max parecia realmente disposto a tentar reatar com a nossa amizade, então eu deveria fazer um pouco de esforço para ajudá-lo também com isso.

— Vamos sair em todos os sites de fofocas — comentei, mesmo que naquela altura não me importasse tanto mais com aquilo.

— Eu sou uma figura pública querendo ou não, já não me incomodo mais. Dessa forma também podemos fazer com que parem de falar do seu irmão um pouco.

Eu ainda me espantava em como ele pensava em tudo.

— Acho que o Charles vai infartar quando souber disso.

Ele deu uma risada, provavelmente imaginando a reação de Leclerc. Eu conseguia na minha mente imaginá-lo quase tendo um troço quando me visse no circuito da Catalunha.

Mas tudo não passava de uma suposição, eu não iria viajar com ele.

— Eu não posso ir, Max, mas te espero voltar para Mônaco — sorri.

— Obrigado, Scarlett, de verdade — ele mudou de assunto, voltando a ficar sério. — Não vou te decepcionar dessa vez.

No fundo eu esperava que ele realmente não me decepcionasse.


Me and the Devil | Max VerstappenOnde histórias criam vida. Descubra agora